Conheci o poeta popular paraibano,
Sebastião Timóteo Ferreira, já velhinho e completamente fora desta profissão, a
de versejar em público ou em folhetos de feira. Nasceu em 1905, em terras que
hoje são do município de Esperança e, já maduro, renunciou a vida mundana e se
trancou num claustro de convento de Goiana, virando Frei Dionísio. Já bastante
alquebrado e como inícios de vida caduca, me passou alguns de seus manuscritos,
já que eu era a única visita que ele tinha naquele convento silencioso de
poucos padres. Reproduzo aqui uma que ele mais gostava, A Idade do Homem.
Baixinho, mãos calejadas e andando
balançando devido a ter quebrado uma perna, ele ia andando e recitando, pelos
corredores do convento, sua trova preferida:
Dez
anos, linda alvorada
Da
manhã de nossa vida
Idade
bela, encantada
Idade
nunca esquecida
Vinte
anos, quadro fagueiro
Da
poesia e do amor
Passa
voando ligeiro
Como
um lesto beija-flor
Trinta
anos, fase brilhante
Na
vida da humanidade
Dia
de sol deslumbrante
Estio
da mocidade
Quarenta
anos de vida
Não
está tão alquebrado
Ainda
sustenta a lida
De
trabalho mais pesado
Meio
século, que importa?
Na
vida do homem são
Só
com bravura suporta
As
lutas do coração
Sessenta
anos, na lida
Já
fraqueja o ser humano
As
aventuras da vida
Vai
chegando o desengano
De
setenta a noventa anos
Poderá
chegar algum
A
morte leva à tumba fria
A
vala triste e comum
O
homem vivo é um homem
O
homem é defunto
Resto
de feira é ressaca
Remédio
por fora é unto
(*) Professor, historiador, presidente da ALCG
Publicação
autorizada pelo autor.
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