Pular para o conteúdo principal

Sol: Tratamento humanizado

Silvino Olavo. Rio: 1927
Silvino Olavo foi diagnosticado com a deficiência chamada "Esquizofrenia paranoide" (CID 10 F 20.0), doença mental crônica caracterizada pela perda da realidade. O paciente é dominado por alucinações auditivas e visuais, perdendo o contato com a realidade. É comum os discursos desorganizados ou comportamentos catatônicos. A doença possui efeitos permanentes, mas com o tratamento adequado o portador adquire melhor qualidade de vida.
Não se sabe ao certo como lhe surgiram os primeiros sintomas. Uns mencionam que foi durante a campanha presidencial de João Pessoa, apesar de José Américo fazer alusão a um fato acontecido em sua noite de núpcias.
Porém, é na campanha liberal que foram observados os primeiros surtos: em uma viagem ao Recife, em julho de 1929, fora atacado de “ligeiro incômodo”, sendo internado no Pilar. Já o seu biógrafo – João de Deus Maurício – nos informa que em setembro daquele ano, ao acompanhar o governador em viagem ao Rio, “sofre a primeira crise esquizofrênica” (Unigraf: 1992, p. 12).
Nesse primeiro momento, há notícias de que tenha se internado no Rio, outros falam da Bahia e de Recife. Todos estão certos.
A sua interdição, datada de 04 de maio de 1934, informa que se encontrava internado no Hospital de Doenças Nervosas e Mentais do Recife, sendo-lhe nomeado curadora a esposa Carmélia Veloso, dez anos depois substituída pelo irmão Sebastião Cândido.   
Pari passu a sua interdição, foi transferido para a Colônia “Juliano Moreira”, clínica psiquiátrica que ficou conhecida pelo atendimento revolucionário nas doenças mentais, onde podia caminhar, se trajava com os ternos de linho que sua irmã lhe enviara, e recebia a visita de amigos.
Ali permaneceu por 18 anos, até o cunhado Valdemar Cavalcante, assumindo a sua curatela, o levou para residir junto com os pais, na Fazenda Bela Vista, passando o Natal de 1952 em Esperança.
Valdemar lhe dispensara um tratamento humanizado, permitindo que este andasse livremente pela cidade, acompanhado pelo motorista Antônio, dirigia-se até a praça central, onde costumeiramente era visto no bar do primo Antônio.
Em depoimento, confessa sua irmã Alice: “Meu esposo o tratava ‘espiritualmente’ e conseguiu bons resultados”. De fato, Valdemar e Dogival Costa foram os primeiros espíritas da cidade, muitas vezes lembrados pela Sociedade de Estudos Esperancense – SEE, em suas datas festivas.
O progresso era perceptível, tanto que em seus momentos de lucidez escrevia os inéditos de “Alpha de Centauro”, e outros poemas que era gentilmente cedido aos comerciantes locais.
Os transtornos dessa natureza ainda eram tratados com certa parcimônia, nem se tinham os recursos avançados que temos hoje. Talvez nos dias atuais, se pudesse alcançar uma melhora no seu quadro, a ponto de trazer não apenas para o convívio social, mas para o intelectual, o expressivo poeta paraibano.

Rau Ferreira

Referências:
- O JORNAL, Periódico. Edição de 14 de julho. Rio de Janeiro/RJ: 1929.
- FERREIRA, Rau. Silvino Olavo. Ed. Epgraf. Campina Grande/PB: 2010.

- MAURÍCIO, João de Deus. A vida dramática de Silvino Olavo. Ed. Unigraf. João Pessoa/PB: 1992.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A minha infância, por Glória Ferreira

Nasci numa fazenda (Cabeço), casa boa, curral ao lado; lembro-me de ao levantar - eu e minha irmã Marizé -, ficávamos no paredão do curral olhando o meu pai e o vaqueiro Zacarias tirar o leite das vacas. Depois de beber o leite tomávamos banho na Lagoa de Nana. Ao lado tinham treze tanques, lembro de alguns: tanque da chave, do café etc. E uma cachoeira formada pelo rio do Cabeço, sempre bonito, que nas cheias tomava-se banho. A caieira onde brincávamos, perto de casa, também tinha um tanque onde eu, Chico e Marizé costumávamos tomar banho, perto de uma baraúna. O roçado quando o inverno era bom garantia a fartura. Tudo era a vontade, muito leite, queijo, milho, tudo em quantidade. Minha mãe criava muito peru, galinha, porco, cabra, ovelha. Quanto fazia uma festa matava um boi, bode para os moradores. Havia muitos umbuzeiros. Subia no galho mais alto, fazia apostas com os meninos. Andava de cabalo, de burro. Marizé andava numa vaca (Negrinha) que era muito mansinha. Quando ...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Esperança, por Maria Violeta Silva Pessoa

  Por Maria Violeta da Silva Pessoa O texto a seguir me foi encaminhado pelo Professor Ângelo Emílio da Silva Pessoa, que guarda com muito carinho a publicação, escrita pela Sra. Maria Violeta. É o próprio neto – Ângelo Emílio – quem escreve uns poucos dados biográfico sobre a esperancense: “ Maria Violeta da Silva Pessoa (Professora), nascida em Esperança, em 18/07/1930 e falecida em João Pessoa, em 25/10/2019. Era filha de Joaquim Virgolino da Silva (Comerciante e político) e Maria Emília Christo da Silva (Professora). Casou com o comerciante Jayme Pessoa (1924-2014), se radicando em João Pessoa, onde teve 5 filhos (Maria de Fátima, Joaquim Neto, Jayme Filho, Ângelo Emílio e Salvina Helena). Após à aposentadoria, tornou-se Comerciante e Artesã. Nos anos 90 publicou uma série de artigos e crônicas na imprensa paraibana, parte das quais abordando a sua memória dos tempos de infância e juventude em e Esperança ” (via WhatsApp em 17/01/2025). Devido a importância histór...

Luiz Pichaco

Por esses dias publiquei um texto de Maria Violeta Pessoa que me foi enviado por seu neto Ângelo Emílio. A cronista se esmerou por escrever as suas memórias, de um tempo em que o nosso município “ onde o amanhecer era uma festa e o anoitecer uma esperança ”. Lembrou de muitas figuras do passado, de Pichaco e seu tabuleiro: “vendia guloseimas” – escreve – “tinha uma voz bonita e cantava nas festas da igreja, outro era proprietário de um carro de aluguel. Família numerosa, voz de ébano.”. Pedro Dias fez o seguinte comentário: imagino que o Pichaco em referência era o pai dos “Pichacos” que conheci. Honório, Adauto (o doido), Zé Luís da sorda e Pedro Pichaco (o mandrião). Lembrei-me do livro de João Thomas Pereira (Memórias de uma infância) onde há um capítulo inteiro dedicado aos “Pichacos”. Vamos aos fatos! Luiz era um retirante. Veio do Sertão carregado de filhos, rapazes e garotinhas de tenra idade. Aportou em Esperança, como muitos que fugiam das agruras da seca. Tratou de co...