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Velhas tradições: banho de açude

 

Thomas Bruno publicou n’A União no último dia 19 de maio do andante um conto sobre o mito da cobra-preta muito conhecido na Parahyba. Quem nos dá conta é Câmara Cascudo. Segundo a lenda, a cobra procura as mães que estão a amamentar. Coloca a ponta da causa na boca da criança para acalentá-la enquanto suga o leite materno.

Assim como outras, que eram narradas por nossas mães, sobre "o homem do saco", sobre o "papa-figo"... todas eram para nos advertir dos perigos do mundo e, de certa forma, nos manter nas "barras da saia" delas.

Isso nos era contado, antigamente, para entre outras coisas, se evitar banho de açude. Fico a imaginar qual a relação do conto com as profundezas dos mananciais... Imagine só como eram as proibições naquele tempo, elas se davam por estórias!

O garoto quer conhecer a vida lá fora e nessa ânsia vai "testando" as suas forças. Nisso consiste a necessidade humana de desbravar novos horizontes. Nisso está o desejo de querer ser homem e ser dono do próprio nariz.

O fato é que mamãe não nos deixava tomar banho de açude. Mas nem por isso a gente deixava de se aventurar na época das cheias. A juventude desponta no menino e o desafia ao desconhecido.

Certa feita a professora de ciências nos mandou coletar folhas de todo o tipo. Foi a desculpa que precisávamos!

No inverno em todas as cercanias haviam nascentes... a água corria fina, translúcida. A renovo da natureza era para nós um encanto; uma maravilha!

Pelo caminho se jogava pedras ao léu. No mato os passarinhos revoavam. Tudo era natureza. A paz que reinava era indescritível.

Chegamos com certa dificuldade. A descida era íngreme. A correnteza e o lodo das pedras causaram-me certo temor. Nesse dia só molhei os pés. Não quis me arriscar.

Na volta nos deparamos com os agricultores e suas colheitas. Dava pra imaginar a mesa farta durante os festejos juninos. Foi um momento lúdico para aqueles meninos ainda na flor da idade em um mundo que se abria em muitas possibilidades.

* * *

No tempo em que não se tinha água encanada, era comum os entregadores de porta em porta, com seus baldes e carroças fazendo a distribuição do líquido precioso para os mais abastados. A água provinha dos açudes ou poços artesianos.

O que pouca gente lembra, apesar de ser um fato bastante comum, era que alguns comerciantes dispunham do chamado “banho de rua”. Naquela época, quando a seca imperava, se improvisava os banhos públicos em bares e casas com uma caixa d´água e chuveiro feito de funil ou, em determinados lugares, com um balde perfurado para que a água fluísse pela gravidade, dando um banho em quem pretendia gastar alguns tostões.

Mas a molecada tomava banho mesmo era de açude dividindo o espaço com as senhoras que lavavam roupa de ganho. De vez em quando, saia um menino pelado para a graça de algumas donzelas.

Essas velhas tradições se perderam com a modernidade e os registros nos vem com certo atraso. Contudo, não podia deixar de relatar esses fatos, pois lembro que na minha juventude alcancei os tais banhos.

Dizem que quando crescemos temos saudades daqueles dias, mas quando o vivenciamos queremos fazer dezoito, vinte anos... enfim, parece que nos damos por satisfeitos.

 

Rau Ferreira

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