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A Casa de Pedras do Cabeço

 

Havia no Sítio Cabeço, nos limites de Esperança, uma antiga construção de pedras. Dizia-se que a casa era “mal-assombrada”. As crianças – e alguns adultos – passavam por longe, pois costumavam “ouvir coisas”.

Não era pra menos, a casa era muito antiga, de um tempo em que se edificava com pedras. Ela era assim: pedra sobre pedra, com portas e janelas. Existia um assoalho de madeira, que de tão liso dava para escorregar. Era um desafio para os mais corajosos.

A casa ainda existia quando a propriedade pertencera a meu avô Antônio Ferreira. Mamãe costumava passar por lá, apesar dos perigos que esta representava.

Segundo dizem, pertencera a uma senhora que criava gados e que era riquíssima. Falava-se que os escravos dormiam no sótão. Esse era o costume daquele tempo.

Revisitando suas memórias, escreveu meu tio Ferreirinha o seguinte comentário:

“[...]. a Fazenda Cabeço que pertenceu ao meu saudoso pai – Antônio Ferreira de Melo -, tinha como limite de suas terras a Furna do Caboclo Bravo, como era referenciada por nós e que nos últimos anos da década de sessenta, meu pai recebeu a visita de uma equipe de estrangeiros capitaneada por um americano que desejavam conhecer a Pedra do Caboclo.

Nessa época meu pai já residia em Esperança e conduziu essa turma de pesquisadores para essa visita. Ficaram muito impressionados com o que viram. Segundo relatos calcularam a altura da Pedra do Caboclo em mais de 200 metros.

Próximo à sede da Fazenda e ao Rio Curimataú tinha uma casa construída em pedra e madeira com um sobrado que pertenceu, salvo engano, a uma viúva que era muito influente em Areia e que entrou em conflito com os caboclos bravos que residiam na Furna do Caboclo.

Esse conflito resultou no extermínio dos caboclos a mando da viúva que conseguiu que uma força policial vinda de Areia fizesse o cerco da Furna.

Essa casa não existe mais. Foi demolida pelo meu pai. Atualmente a Fazenda Cabeço, de muitas lembranças da família Ferreira, pertence ao Assentamento Rosa Luxemburgo” (Antônio Ferreira Filho, via WhatsApp em 28/04/2024).

A casa não existe mais. As histórias que permeiam essa morada ficam registradas para a posteridade.

 

Rau Ferreira

 

Para saber mais:

- PARAÍBA, Geografia (da): Algodão de Jandaíra-PB e seus tesouros históricos e naturais. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lWMDH2IV5Fs, acesso 29/04/2024.

- LOPES, Raimundo Hélio. Valfredo Leal (verbete). Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/LEAL,%20Valfredo.pdf, acesso em 29/04/2024.

- ALMEIDA, José Américo (de). Memórias: antes que me esqueça. Editora Francisco Alves. Rio de Janeiro/RJ: 1976.

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