Pular para o conteúdo principal

Eclipse solar em Esperança

 


O ano era 1940. O fenômeno o “eclipse”, um evento astronômico de transição dos corpos celestes visível a olho nú. Neste caso, o sol sendo encoberto pela lua, o que dura alguns minutos. Porém, uma eternidade para quem vivenciou naquele tempo, de pouco conhecimento sobre os fatos.

Há muito relatos, pois a Paraíba, pelo que parece, sempre foi um local de boa visualização. A minha avó materna, por exemplo, conta que as galinhas começaram a cacarejar e de pronto se recolheram ao poleiro; as vacas mugiam, admiradas com o anoitecer breve.

O misticismo envolta daquele escurecer parecia apocalíptico. Muitas pessoas ao ter aquela visão imaginaram ser o “fim do mundo”, e confessaram seus pecados temendo a condenação eterna. Foi um grande desespero naquelas terras do Algodão, onde os meus avós possuíam propriedade. As comunicações ainda não tinham chegado e o pouco que se sabia era transmitido pelos cordéis da feira.

Evaldo Brasil, de igual modo, nos informa os seus registros familiares. Comenta o jornalista que os relatos eram de que “os animais obedientes à natureza procuraram seus aposentos: as galinhas tudo correndo pros poleiros... Quando clareou voltaram pra rotina”.

O Professor Ângelo Emílio Pessoa, escrevendo para o ambiente de Leitura “Carlos Romero” (https://www.carlosromero.com.br/2023/10/celebrando-o-cosmos-e-memoria-na.html#c889825290477197344), lembra que sua mãe, Maria Violeta da Silva Pessoa, nascida em Esperança, observou o eclipse quando criança, por volta de seus 10 anos de idade:

Dizia mamãe que numa dada hora, com o dia bastante claro, as galinhas começaram a subir nos poleiros e os demais animais começaram a se recolher como se o dia estivesse findando. Logo foram vistas estrelas no céu e em mais alguns minutos, a claridade voltou, com aplausos de muita gente que havia se reunido para ver este portento. Algumas pessoas que haviam duvidado dias antes, vieram admitir que a previsão fora certeira. Verificando aqui a data, penso que isso se deu no dia 1º de outubro de 1940, quando um eclipse foi avistado na Paraíba”.

Escreve Ângelo ainda que ela recordava o espanto das pessoas e de sua mãe, a professora Maria Emília de Christo Silva, que explicara em suas aulas o fenômeno que seria avistado em nosso município. 

O que reforça a tradição do imaginário que foi passado de geração em geração. E me faz lembrar de um outro episódio, ocorrido na década de 80 do Século passado, quando na “Barreira do Inferno”, base aérea de Natal, no Rio Grande do Norte, se fez alguns testes e o céu ficou vermelho. Também em relação a esses fatos, surgiu muito burburinho e temor.

Ao que parece as profecias do Apocalipse do Apóstolo João ressoam nos ouvidos da humanidade, que aguarda a volta do Senhor Jesus para julgar céus e terra. A escatologia fora dos círculos da igreja é pouco conhecida e estudada. Mas quem pretender se aprofundar no assunto irá se deparar com algumas doutrinas, sendo as principais delas a amilenista e a pós-milenista. Não entrarei em detalhes, pois não é o objetivo deste trabalho. Porém, o leitor curioso encontrará um resumo do tema no livro: “Os últimos dias segundo Jesus”, de RC Sproul (Editora Cultura Cristã).

Esperança tem se preparado para ver o fenômeno. A Capelinha de N. S. do Perpétuo Socorro (a menor capela do mundo) tem sido o local escolhido para assistir o eclipse. Lentes especiais tem sido vendida na cidade para proporcionar uma visão detalhada e não prejudicial à saúde dos olhos.

Este ano (2023) ao contrário do que se viu, estamos bem informados, de maneira que não soa estranho a ocorrência do eclipse solar, nem causa tamanho medo nas pessoas, como se deu na década de 40.

É certo que o Senhor não tardará e que devemos estar preparados. Nesse sentido, devemos olhar para o céu com os olhos da fé, e não com as lentes embaçadas do obscurantismo pagão. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça!

 

Rau Ferreira

Comentários

  1. Comentário do historiador José Henriques da Rocha, via WhatsApp: "Meu PAI depois deste eclipse sempre manteve em casa VELAS E FÓSFOROS Bento p as eventualidades da natureza".

    ResponderExcluir
  2. Mensagem enviada por Pedro Dias do Nascimento, via WhatsApp:
    "Eita Rau, que delícia de texto!
    Eu ainda não havia nascido, mas minha mãe, vez por outra, falava dessa eclipse...
    Todos esses fatos alegados por inúmeras testemunhas, no seu texto, ela comentava. Realmente aconteceram: O tempo fechando para o anoitecer.
    Animais que pastavam se chegando sozinhos aos currais, as lamparinas tisnentas e os candeeiros sedo acesos, cavalos, jumentos e o gado estranhando o "repente" da noite e todas as galinhas se recolhendo aos seus poleiros.
    Era um momento de expectativas e incertezas e muitos diziam ser o "fim do mundo" anunciado por Jesus Cristo.
    Mas, segundo ela, o anoitecer durou pouco e em poucos minutos tudo voltou ao normal.
    Assim, ela, a minha saudosa mãe me contava. Pedro Dias".

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Ruas tradicionais de Esperança-PB

Silvino Olavo escreveu que Esperança tinha um “ beiral de casas brancas e baixinhas ” (Retorno: Cysne, 1924). Naquela época, a cidade se resumia a poucas ruas em torno do “ largo da matriz ”. Algumas delas, por tradição, ainda conservam seus nomes populares que o tempo não consegue apagar , saiba quais. A sabedoria popular batizou algumas ruas da nossa cidade e muitos dos nomes tem uma razão de ser. A título de curiosidade citemos: Rua do Sertão : rua Dr. Solon de Lucena, era o caminho para o Sertão. Rua Nova: rua Presidente João Pessoa, porque era mais nova que a Solon de Lucena. Rua do Boi: rua Senador Epitácio Pessoa, por ela passavam as boiadas para o brejo. Rua de Areia: rua Antenor Navarro, era caminho para a cidade de Areia. Rua Chã da Bala : Avenida Manuel Rodrigues de Oliveira, ali se registrou um grande tiroteio. Rua de Baixo : rua Silvino Olavo da Costa, por ter casas baixas, onde a residência de nº 60 ainda resiste ao tempo. Rua da Lagoa : rua Joaquim Santigao, devido ao...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

História de Massabielle

Capela de Massabiele Massabielle fica a cerca de 12 Km do centro de Esperança, sendo uma das comunidades mais afastadas da nossa zona urbana. Na sua história há duas pessoas de suma importância: José Vieira e Padre Palmeira. José Vieira foi um dos primeiros moradores a residir na localidade e durante muitos anos constituiu a força política da região. Vereador por seis legislaturas (1963, 1968, 1972, 1976, 1982 e 1988) e duas suplências, foi ele quem cedeu um terreno para a construção da Capela de Nossa Senhora de Lourdes. Padre Palmeira dispensa qualquer apresentação. Foi o vigário que administrou por mais tempo a nossa paróquia (1951-1980), sendo responsável pela construção de escolas, capelas, conclusão dos trabalhos do Ginásio Diocesano e fundação da Maternidade, além de diversas obras sociais. Conta a tradição que Monsenhor Palmeira celebrou uma missa campal no Sítio Benefício, com a colaboração de seu Zé Vieira, que era Irmão do Santíssimo. O encontro religioso reuniu muitas...