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Monsenhor Palmeira: Luz et vitas

 


Luz et vitas (Luz e Vida) foi o tema escolhido pelo Padre Manoel Palmeira da Rocha quando fora nomeado pelo Papa João Paulo II para assumir o bispado em Pesqueira-PB. O Pároco do Bom Conselho, neste Município de Esperança-PB, desde o ano de 1951, quando chegou aqui, ainda jovem, deixava a cidade pesarosa com a sua escolha, conquanto por cerca de 29 anos era pastor dos católicos esperancenses.

O tema escolhido refletia a sua missão: ser luz do mundo e sal da terra, como Cristo nos ensinou (João 8:12; Mateus 5:13-14). Por suas próprias palavras:

Jesus Cristo é a luz do mundo, Jesus veio trazer a vida nova ao mundo paganizado e na escolha dos apóstolos, foi o seu plano que eles continuassem no mundo até o fim como portadores de luz e vida para o povo de Deus, Luz pelo anúncio do evangelho e vida como dispensados dos sagrados mistérios”.

Em Esperança, estagiei para o novo ministério”, disse o Padre. De fato, o padre vivenciou em nossa terra tudo o que um clérigo necessita para conduzir o seu rebanho.

A paróquia não era pequena, pois além de S. Tomé, também existia o município de Areial, sem falar dos distritos e comunidades que necessitavam ser atendidas, a exemplo de Massabiele, Riacho Fundo e Pintado.

Os paroquianos foram pegos de surpresa. A notícia foi veiculada por Dom Manuel Pereira em seu programa radiofônico veiculada pela Caturité. Apesar da grande audiência, a população só tomou conhecimento quando o sino da igreja soou.

As badaladas desordenadas anunciavam a sua partida. Foi um misto de comoção e tristeza. Muitos fieis foram para as portas da igreja.

Aquele 25 de março de 1980 ficaria marcado na história. Em sua simplicidade, disse o padre: “Terei que deixar esta cidade onde convivi a maior parte de minha vida ao lado do meu povo”.

O aglomerado de gente prestava suas homenagens, com lágrimas. E não era pra menos. Padre Palmeira era o dirigente do Ginásio Paroquial, escola de referência na cidade. Criou escolas para os mais carentes, tanto na zona rural como no centro urbano, as quais reuniam mais de mil e duzentos alunos. E ainda mantinha escolas artesanais para as moças.

Fundou a Maternidade “S. Francisco de Assis”, que oferecia serviços ambulatoriais em convênio com o Funrural. E fomentou a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperança.

Construiu ainda oito capelas na zona rural e instituiu nove comunidades pastorais com agentes evangelizadores, catequistas e um diaconato permanente com três ordenados e quatro candidatos. No pré-seminário, mantinha oito vocacionados e, na ordem dos vicentinos, congregava mais de trezentas pessoas. Eis alguns dos motivos de tanta tristeza para a comunidade católica.

Muita gente não entendeu aquela decisão. O povo simples não se conformava: “Mas, que papa sem coração é esse que tem coragem de tirar Monsenhor de Esperança?”. Diziam.

Houve choro e lamento. Uma missa de ação de graças foi celebrada na terça-feira, 25 de março, às 19 horas, registrando um número considerável de fiéis. Os diáconos José Lira e Eugênio auxiliaram o reverendo, que iria ser consagrado no dia 27 daquele mês, na cidade de Campina Grande-PB.

Os dois principais marcos de sua vida sacerdotal celebraram Monsenhor Palmeira em Esperança: as bodas de prata de seu sacerdócio (1972) e o jubileu de pároco (1976). Dom Palmeira ainda hoje é lembrado por sua dedicação e por sua vocação no ministério, como o disse o jornalista Roberto Cardoso, que na ocasião ainda acrescentou: “Estou convicto de que a sua promoção a Bispo, não fa-lo-á orgulhoso; torna-lo-à sim, mais humilde do que sempre o foi na sua divina missão aqui na terra”.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá: Recortes Historiográficos do Município de Esperança. A União. Esperança/PB: 2015.

- PARÓQUIA DE ESPERANÇA, Revista do Centenário (da). Paróquia do Bom Conselho. Edição de 30 de maio. Esperança-PB: 2008.

- TUDO, Revista. De Pároco em Esperança a Bispo de Pesqueira.  Reportagem de Jacinto Barbosa. Edição de 06 de abril. Campina Grande-PB: 1980.

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