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Padre Zé e suas esmolas


 

Como não lembrar do Padre Zé? Benemérito da ação social na Paraíba, fundou um instituto e um hospital que leva seu nome, ambas as instituições de ajuda aos mais necessitados. Também era músico, escritor e professor.

Devoto incondicional de Nossa Senhora do Carmo, participou da fundação do Jornal “O Lábaro” e da orquestra “Regina Pacis”, e criou uma espécie de cooperativa para ajudar os seminaristas pobres junto ao Seminário da Parahyba.

Apesar de radicado na Capital paraibana, nunca esqueceu o seu torrão: “Nasci no dia 18 de novembro de 1897, num dia de quinta-feira, às três horas da tarde, no povoado de Esperança”.

Caridoso, nunca se descuidou de seu rebanho e fazia de um tudo para angariar fundos para as suas obras assistenciais. Quem é que não se lembra de suas investidas pelas ruas de João Pessoa em sua cadeira de rodas cutucando um e outro transeunte por uma contribuição?

Conta-se que certa feita estava o Padre Zé na entrada do cinema junto às catracas, e batendo de leve com sua varetinha em um cidadão, estendeu-lhe a mão pedindo-lhe uma esmola para os seus pobres. Aborrecido, o homem cuspiu-lhe na mão. O vigário não se fez de rogado, limpou-a na batina e de pronto lhe respondeu: “Essa aqui é minha, agora me dê a dos meus pobres...”. Diante de tamanha bondade com aquele gesto hostil, não havia como lhe negar umas sôfregas moedas.

Em carta dirigida ao Monsenhor Palmeira, vigário de sua terra natal, o Padre Zé relatava a sua condição de pobreza:

Não fossem meus males físicos e principalmente minha pobreza, eu iria à sua Festa.

Mas, só viajo na boléia de uma camionete, com minha cadeira de rodas em cima, com quatro rapazes, que aqui no Instituto São José chamam de motoristas, para não ficar aí no meio da rua, sem poder me locomover para parte alguma.

Existe, porém, uma razão séria ainda que me impede de ir – a minha responsabilidade financeira: para pagar Cr$ 13.000 (treze mil cruzeiros) em média por mês, recebendo do Poder Público e outras fontes apenas Cr$ 6.000 (seis mil cruzeiros), tenho que arrecadar Cr$ 7.000 (sete mil cruzeiros) de esmolas. [...] não podendo perder um só dia de constantes peditórios, sob pena de acumular minhas dívidas.” (Em 27/11/1972)”

O seu instituto ajudou a retirar muitos mendigos da rua, dando-lhe abrigo e comida, e cuidando-lhe das feridas. Muitos estudantes pobres da Paraíba acorriam a sua fundação, para servir-se da hospedagem e poderem avançar nos seus cursos, dois grandes exemplos são o poeta e escritor Natanael Alves e o Desembargador Simeão Cananéia.

Lembrando-se de mim, não se esqueçam dos meus pobres!”, esse fora o seu maior legado. A imprensa dava destaque a essas ações como “milagres”, porém ele mesmo chamava de “doideira”, pois somente sendo maluco para administrar tantas obras com recursos provenientes de esmolas.

Foi nesse afã de recolher doações que passou mal num dia de finados, quando estava às portas do Cemitério da Boa Sentença, sob um sol escaldante; e foi internado no Prontocor, vindo a falecer no dia 5 de novembro de 1973.

Cidadão benemérito de mais de 40 municípios, o seu sepultamento foi um dos mais concorridos do nosso Estado.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- ARUANDAPLAY. Documentário: Padre Zé estende a mão. Direção Jurandy Moura. Fotografia João Córdula. ACCP Produtora. Disponível em: https://www.aruandaplay.com.br/filme/padre-ze-estende-a-mao/, acesso em 08/05/2023.

- ESPERANÇA, Revista. Centenário de Padre Zé, texto de Anaelson L. de Souza. Edição de 20/10 à 20/12. Esperança/PB: 1997.

- PARAÍBA, Jornal (da). O exemplo de Padre Zé, texto de Rubens Nóbrega. Domingo, 24 de julho. João Pessoa/PB: 2011.

- SITE, Caminheiros em Notícias. Disponível em: http://www.casadocaminho-embu.org.br, acesso em 06/09/09.

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