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O primeiro carro em Esperança-PB


Conta-se que o primeiro carro a circular por Esperança foi um Willys Overland - produzido pela empresa de mesmo nome -, e que ficou mundialmente conhecida por fabricar, em parceria com a Ford, o lendário Jeep e da famosa “Rural”. O pequeno carro lançado por Jonh Willys com motor de quatro cilindros foi bem aceito no mercado internacional e em pouco tempo chegou ao Brasil.

A cidade ainda possuía ares de vila agregada que fora à Alagoa Nova cujo prefeito Dr. João Tavares mando alargar as vias públicas permitindo assim as “condições de dar passagem a dois carros que por ventura nelle se encontrem, e mandando construir 11 boeiras, (algumas duplas) facilitou escoadouro ás águas sem prejuiso do transito” (A Parahyba: 1909, pág. 635).

Foi um campinense quem primeiro se aventurou com o seu veículo a transitar por Esperança, cuidando de ligar o fio terra à lataria para produzir pequenos choques diante do ajuntamento de pessoas e curiosos que desejavam tocá-lo.

O passeio somente era permitido à elite, como escreve João Thomaz Pereira em seu livro, quando “algumas moiçolas da sociedade, filhas de homens de posses do lugar eram presentes, bem vestidas, enchapeladas, roupas coloridas e as indefectíveis sombrinhas” (Memórias de uma infância nordestina: 2000, pág. 45).

Essas jovens, a convite do proprietário, entravam no veículo que seguia na rua Chã da Bala e retornava à Matriz, fazendo um percurso de quase um quilômetro para o espanto e admiração dos esperancenses que viam na “máquina” algo d’outro mundo.

Foi numa dessas que Zefinha, filha d’um importante criador da região, decidiu dar uma volta no automóvel. A moça de tez morena, olhos verdes, desabrochando nos seus 18 anos, assentou-se no carona dona de si com a empáfia que é peculiar nessa idade.

O motor que era acionado à manivela produzia uma faísca de ignição que não muitas vezes os moleques da rua se acotovelavam para girar, já os motoristas ditos “cangueiros”, no linguajar popular, assolavam a embreagem fazendo com que o carro desse um “pulo” para frente.

Zefinha desavisada, cuidadosa de sua vestimenta, e de que todos a vissem ali assentada, assustou-se com o solavanco, provocando-lhe o medo uma resposta intestinal, que nos explica João Thomas: “Houve gritos e o motorista parou o carro defronte a residência da Zefinha e disfarçadamente resolveu o problema, sem escândalo” (Assis: 2000, pág. 46).

Pouco tempo depois, instalou-se na cidade uma agência de automóveis pertencente à Francisco Bezerra da Silva, que era gerenciada por Antônio Coêlho Sobrinho.

Nos anos que se seguiram, o município acostumou-se com buzinas, estampidos e o zum-zum produzido pelos veículos na via pública, chegando-se a registrar cinco carros particulares e dez de aluguel nos anos de 1929.

A primeira lei municipal de trânsito, editada em 02 de abril de 1940, criava a praça de estacionamentos próximo ao Pavilhão “10 de Novembro”, ao lado do Esperança Hotel, no paço da Matriz. Estabelecia-se, então uma multa de cem mil réis para quem desobedecesse a ordem.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- ESPERANÇA, Prefeitura Municipal. Decreto s/n, de 02 de abril. Esperança/PB: 1940.

- FISCO, Revista. Ano XXXVIII - N. 364. Paraíba. Edição de Setembro. João Pessoa/PB: 2008.

- PARAHYBA, Almanach do Estado. Vol. 16. Imprensa Oficial: 1933.

- PARAHYBA, Anuário Estatístico. Ano I. João Pessoa/PB: 1932.

- PEREIRA, João Tomaz. Memórias de uma infância nordestina. Assis/SP: 2000.

- TAVARES, João de Lyra. A Parahyba. Volume 2. Imprensa Official: 1909.

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