Conheci Mané Brás de sopetão
Foi assim de repente, numa feira
Que deparei me com o cidadão;
Vendia de tudo numa esteira:
Moedor, bala, isqueiro, relógio e pilão
Tudo Mané vendia, no mei da feira.
Mané com seu jeito bufão
Chamava a freguesia:
- “Venha muié, vem’a sem besteira!
Comprar com Mané qué bão,
Com Mané você é certeira!”
Dizia contente, e sem hipocrisia.
Certa feita ali no Riachão
Mané vendendo bacias
Encantou-se com uma dona
Dessas da vida vazia
Que não tem um tostão
Perdeu Mané a forquilha.
Noutras tantas no Julião
Dessa mesma cercania
Tratou Mané de aliviar
A carga que ele trazia
Vendendo bocas de fogão
A três contos a duzía.
O dono do sítio então
Sem qualquer regalia
Disse-lhe que cozinhava
Apenas com lenha e carvão
As bocas de nada lhe serviria:
- “Vá s’imbora, volte outro dia”.
Mané triste procurou João
- o Viana,
aquele da poesia –
Prá fazer umas rimas pra vender...
Prá Mané vender mercadoria;
E vendeu de balde a bacia!
Vendeu tudo, tudo a prestação.
Foi na força da canção
Do velho tocador que dizia:
- “Compre hoje e pague amanhã
Enquanto existir dia, não pague”
E Mané ainda insistia: “pague hoje não!”
E nos seus peitos ele forte batia.
Empolgado com aquele baião
Mané da lógica se esquecia...
Ora, pague hoje não! Pague outro dia?!
Quem não quer comprar assim?
Em todo canto se dizia:
- “Mané perdeu da bola a razão”.
É que não achando a João
Chamou Mané pra rima a Pedro
Que lhe fez os versos de sofridão
Pensando ganhar muito dinheiro
Foi pelo Pichaco mais cedo
Levado pela enganação.
Essa história é uma fração
Do que foi Mané um dia
Quero lhe contar depois
De tudo o que Mané fazia
Tinha ele bom coração
Mas a bolsa não se enchia.
Banabuyé, 26 de outubro de 2021.
Rau Ferreira
Curioso personagem interagindo com outros, contemporâneos ou contos em versos põe anos distantes próximos?
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