Pular para o conteúdo principal

Silvino, na pena de Lélis

 


Dos escritores que ousaram escrever sobre a literatura paraibana, construindo uma história como colcha de retalhos, mas com a vivência de quem viveu e conviveu com os escrivinhadores, foi de fato João Lélis quem mais se evidenciou no seu labor, tanto que é citado quando o tema é esse: a escrita na pequenina Paraíba, desde os primórdios.

Nascido em Alagoa Nova, o filho de Lélis de Luna Freire e d. Elvira Fernandes de Luna Freire, casou-se com d. Maria de Lourdes Costa Luna Freire, e teve exponencial carreira.

Iniciando nas prensas em 1929, como diretor do Diário do Povo, foi redator e diretor d’A União, participando, ativamente, da Revolução de ’30, como oficial do 29º Batalha de Caçadores, chegando a lutar no sertão baiano, e sendo correspondente voluntário de guerra, ocasião em que fez a cobertura jornalística dos fatos.

Integrou a Academia Paraibana de Letras como fundador da Cadeira nº 25 que tinha por patrono Peryllo de Oliveira, e foram seus sucessores José Rafael e Artênio Fernandes.

Na política, foi prefeito de Mamanguape (PB), Taperoá (PB) e Nova Cruz (RN). Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Recife (1937); foi professor de inglês e de economia, delegado, chefe de polícia, diretor de presídio, deputado estadual constituinte (1946) e muito mais!

Escrevendo sobre os “Maiores e Menores” de nossa literatura, destacou em seu livro o poeta Silvino Olavo da Costa, nas cotas que transcrevo a seguir:

Mas, na segunda metade do século passado, a Paraíba ofereceu a melhor floração de intelectuais em toda a sua história, quer na poesia, quer na prosa.

Deles, como poetas, assinalados por uma produção marcante, perfilam-se [...] Silvino Olavo Cândido Martins da Costa, cantor de ‘Cisnes’ e cujo ‘destino é uma sombra iluminada’.

[...] Silvino Olavo da Costa que feneceu de súbito, após girar, como meteoro, o espaço percorrido com ‘Cisnes’ e ‘Sombra iluminada’.” (Maiores e Menores: edição especial. Edigraf: 1987).

Segundo esse mesmo autor, o livro “Cisnes” (1924) era a “representação mais qualificada do simbolista em marcha batida para novos horizontes o que, por si mesmo, não constitui uma deserção, - antes traduz uma arremetida para o futuro”.

Lélis ainda classificou o bardo esperancense entre os “mais tenazes, mais persistentes” e por conseguinte “menos fiéis ao passado exangue”; dos que “reagiram e sobressaíram-se como pioneiros do modernismo” (p. 97).

Assim como outros, que enveredaram por escrever a história de nossa literatura, a citação ao poeta, jornalista e chefe de gabinete do Presidente João Pessoa, engrossa a fileira daqueles que analisaram as obras publicadas por Silvino Olavo.

 

Rau Ferreira


 Referências:

- AIRES, José Luciano de Queiroz. Cenas de um espetáculo político: Poder, memória e comemorações na Paraíba (1935-1945). Tese de Doutorado em História. Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Recife: 2012.

- APL, Revista (da). Academia Paraibana de Letras. Revista nº 06. João Pessoa/PB: 1955.

- FLORES, Rosali Cristofoli. Acervo do Memorial dos Acadêmicos da Academia Paraibana de Letras: conhecimento e preservação. Centro de Ciências Sociais. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa/PB: 2010.

- LÉLIS, João. Maiores e menores: edição especial. Edigraf. João Pessoa/PB: 1987.

Comentários

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

A Pedra do Caboclo Bravo

Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “ Pedra ou Furna do Caboclo ” que guarda resquícios de uma civilização extinta. A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E n o seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada. A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros. A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. A s várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos pr

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele

Barragem de Vaca Brava

Açude Vaca Brava, Canalização do Guari (Voz da Borborema: 1939) Tratamos deste assunto no tópico sobre a Cagepa, mais especificamente, sobre o problema d’água em Esperança, seus mananciais, os tanques do Governo e do Araçá, e sua importância. Pois bem, quanto ao abastecimento em nosso Município, é preciso igualmente mencionar a barragem de “Vaca Brava”, em Areia, de cujo líquido precioso somos tão dependentes. O regime de seca, em certos períodos do ano, justifica a construção de açudagem, para garantir o volume necessário de água potável. Nesse aspecto, a região do Brejo é favorecida não apenas pela hidrografia, mas também pela topografia que, no município de Areia, apresenta relevos que propiciam a acumulação das chuvas. O riacho “Vaca Brava”, embora torrencial, quase desaparece no verão. Para resolver o problema, o Governador Argemiro de Figueiredo (1935/1940) adquiriu, nos anos 30, dois terrenos de cinco engenhos, e mais alguns de pequenas propriedades, na bacia do açude,

Ruas tradicionais de Esperança-PB

Silvino Olavo escreveu que Esperança tinha um “ beiral de casas brancas e baixinhas ” (Retorno: Cysne, 1924). Naquela época, a cidade se resumia a poucas ruas em torno do “ largo da matriz ”. Algumas delas, por tradição, ainda conservam seus nomes populares que o tempo não consegue apagar , saiba quais. A sabedoria popular batizou algumas ruas da nossa cidade e muitos dos nomes tem uma razão de ser. A título de curiosidade citemos: Rua do Sertão : rua Dr. Solon de Lucena, era o caminho para o Sertão. Rua Nova: rua Presidente João Pessoa, porque era mais nova que a Solon de Lucena. Rua do Boi: rua Senador Epitácio Pessoa, por ela passavam as boiadas para o brejo. Rua de Areia: rua Antenor Navarro, era caminho para a cidade de Areia. Rua Chã da Bala : Avenida Manuel Rodrigues de Oliveira, ali se registrou um grande tiroteio. Rua de Baixo : rua Silvino Olavo da Costa, por ter casas baixas, onde a residência de nº 60 ainda resiste ao tempo. Rua da Lagoa : rua Joaquim Santigao, devido ao

Mercês Morais - Miss Paraíba 1960

  Esperança-PB sempre foi conhecida por ser uma cidade de gente bonita, e moças mais belas ainda. A nossa primeira Miss foi a Srta. Noêmia Rodrigues de Oliveira, vencedora do concurso de beleza realizada no Município em 1934. Segundo o Dr. João Batista Bastos, Advogado local: “ Noêmia era uma mulher de boa presença, vaidosa, elegante e bonita ”. Ela era filha de do Sr. Manoel Rodrigues de Oliveira e dona Esther Fernandes. Entre as beldades, a que mais se destacou foi a Srta. Maria das Mercês Morais, que após eleita em vários concursos na Capital, foi escolhida “Miss Paraíba de 1960”, certame esse promovido pelos Diários Associados: “ Maria Morais, que foi eleita Miss Paraíba, depois de um pleito dos mais difíceis, ao qual compareceram várias candidatas do interior. Mercês representa o Clube Astréa, que vem, sucessivamente, levantando o título da mais bela paraibana, e que é, também, o ‘mais querido’ do Estado ” (O Jornal-RJ, 29/05/1960). “ Mercês Morais, eleita Miss Paraíba 196