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Pedro Pichaco, o balaio e seu Luiz

 


A história a seguir me foi repassada por Ary Dantas, o nosso cantor esperancense, que disse ter conhecido os Pichaco Adauto, Honório e Pedro que “vivia fora, vivia de jogo e de contar prosa; era muito sabido, era o mais velho”. A narrativa é bem interessante e mostra a irreverência do mandrião, que tantas aprontou pela Paraíba:

Um dia eu cheguei em Cepilho, na companhia de Maurício (irmão de Lola) e Biu do ônibus. Assim que desci ouvi uma voz forte, que de pronto reconheci: - Biu, essa voz é de Pedro Pichaco. Biu falou é mesmo. Saí e fui ver, Pedro estava num barzinho contando prosa, assim que me viu disse: - Tas fazendo o que aqui? Tem cantado muito? Tem dinheiro aí? Peguei cinco cruzeiro e dei a ele. Ele sorriu e disse: ‘tô rico’. Virando para o dono do bar falei: - Esse preto dá nó em pingo d'água, não sabe ler mais conhece os mandamentos como ninguém.

Havia um rapaz bonito com um relógio de ouro no braço e um revólver na cintura ostensivo, sentado numa mesa tomando cerveja. Olhou pra mim e disse: - Ele pode ser muito sabido, mas eu faço uma pergunta e ele não vai saber responder. Eu me voltei e gritei: - Pedro vem cá. E ele veio. Eu disse: - Esse moço falou que se fizer uma pergunta a você, você não vai saber responder. Pedro retrucou: - O que ele perguntar, eu respondo!

O rapaz disse: - Então me diga, quantos balaios são preciso fazer pra caber o mundo dentro. Pedro pensou e disse que só respondia apostando, no que o rapaz concordou: - Eu aposto, diga quanto é a aposta? Pedro disse: - Eu tenho dois contos de réis aqui no bolso e aposto com o senhor. O moço disse: - Certo, mas só vale se a resposta que você me der, eu não tenho opção de réplica. E Pedro fechou: tá feito!

- Bote o dinheiro em cima da mesa ou dê ao dono do bar, disse o rapaz e foi tirando duas notas de conto do bolso que colocou sobre a mesa. Pedro estava liso, não tinha o dinheiro, porém disse: - Patrão, eu sou um preto, mas sou homi de palavra; se eu perder estou com o dinheiro, é não quero mostrar porque tem muito sabido por aqui. Casada a aposta, o rapaz perguntou: - Quantos balaios são preciso fazer pra caber o mundo dentro? Pode falar.

A turma cercou os dois aguardando a resposta de Pedro: - Só é preciso fazer um balaio! O rapaz deu uma risada e disse: - Você perdeu, não está vendo que um balaio só, não cabe o mundo dentro, meu senhor! E Pedro disse: - Cabe sim senhor! E como retrucou o rapaz, disse-lhe Pedro: - Se fizer um balaio maior do que o mundo, cabe o mundo dentro e ainda sobra. Os presentes caíram na gargalhada e o rapaz disse: - Você ganhou, fiquei sem resposta”

Depois daquele episódio Ary perguntou ao dono do bar quem era aquele cidadão, foi quando este respondeu: - É Dr. Luiz bronzeado, está candidato a deputado federal.

Pedro não sabia ler, mas conhecia o evangelho de cor e salteado; tudo o que lhe perguntasse ele respondia “em cima da bucha”. Eram seus sobrinhos – segundo Ary Dantas -, o engraxate Kudu, Dudé que jogou no América e muitos outros.

 

Rau Ferreira

 

Referência:

- Ary Dantas, via Mensseger no dia 20 de maio de 2021, pelas 19 horas.

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