Meu caríssimo Rau Ferreira,
O que sei a respeito do saudoso Pe. João Honório é praticamente uma
pequena fração do que você conhece muito bem. Assim, para não postar duas ou
três palavras como resposta à sua pergunta, resolvi relatar o máximo do que
sei.
Então, vejamos: Segundo sabemos a sua chegada para o apostolado na igreja
de Esperança se deu no ano de 1935. A sua saída, no ano de em que fui por ele
batizado em dezembro de 1944 e depois de sete anos ele foi transferido para
Monteiro, o pouco que relato aqui e agora, afora as vagas lembranças, terá sido
informações de terceiros.
“A lembrança que tenho dele é pouca, mas era uma pessoa de estatura
baixa, gorda, parecendo ser meio brabo nas suas proposições.” Eu e outros
meninos, lembro vagamente, na hora do seu sermão, chegamos a ouvir dele pedido
de silêncio por estarmos conversando na igreja. Mas, depois da sua saída, ao
longo do tempo, os comentários eram de que ele era um Padre conservador,
austero, de críticas duras àqueles que descumpriam a lei da moral do Cristo,
caridoso, agregado à pobreza e espiritualmente voltado a cumprir a sua tarefa
episcopal à risca.
Não gostava de ver mulheres mal vestidas na igreja e reclamava de homens
que tinham duas mulheres e, principalmente, daqueles que frequentavam o baixo
meretrício.
Era um ardente crítico a respeito do divórcio e dos que eram amancebados.
Ouvia-se ser ele o responsável pela obra de restauração, modificação e elevação
da torre, inclusive instalação do relógio e do campanário.
Parecia ter uma ideologia política tendendo para UDN, razão porque era
perseguido pelo partido de oposição. Mas o povão gostava muito dele. Há quem
diga que a sua “expulsão” de Esperança foi devido à sua atitude de transferir
uma imagem de Nossa Senhora da capelinha para a paróquia, irritando o lado
partidário contrário ao qual diziam não “pertencer”, fazendo com que esses,
pela força do poder político conseguissem sob ordem de instância clerical de
ordem superior, que a santa voltasse ao local de origem. Mas houve os que
confirmassem que isto foi apenas um disfarce dos perseguidores da ala contrária
para que ocorresse o fato da sua retirada da cidade.
A perseguição política foi tanta que chegaram a lançar por algumas vezes
bombas na sua residência e, ele não suportando a pressão, saiu quase às
pressas, sacudindo a poeira das alparcas numa demonstração de que “nesta
terra não voltarei jamais.”
Mas, antes do seu falecimento voltou e rezou a última missa na paróquia,
certamente como uma demonstração de quem não trouxera de volta o rancor, mas o
perdão àqueles que o expulsaram e ao seu rebanho de fiéis da cidade que tanto
amou durante aqueles dezesseis anos de trabalho episcopal.
Pedro Dias do Nascimento
Via Facebook, mensagem de 21/10/2016.
Mto bom o relato de Pedro Dias sobre o padre Honório. Uma luz no fim do túnel para mim, que nasci depois que ele já fora embora da sua missão paroquial em Esperança.
ResponderExcluirEssa luz me faz lembrar da minha mãe, a qual falava mto em Padre Honório e na sua severidade em relação a certos costumes da época, os quais, para o pároco, eram todos contra a lei de Deus, pecado!
Pelo visto aí, nos comentários de Pedro, já então, nos idos da década de 40, nessa pequena cidade de Esperança, já se praticava a mancebia ou amigação (que era viver junto sem casar) e os homens casados, principalmente os mais ricos e poderosos, políticos, etc., se davam ao luxo de ter duas mulheres. O padre Honório, naturalmente, manifestava-se contra esses costumes, até pq era sua obrigação como formador de opinião e guia espiritual. Isso adiantava alguma coisa? Não. A espiritualidade era uma coisa, a sociedade era outra coisa.
Pelos anos cinquenta, eu assisti bestificada a namoros de homens casados da terra, pais de amigas ou colegas minhas, em pleno centro da cidade, pelas ruas principais, nada escondido.
Era a sociedade machista. O homem podia tudo na rua e a mulher, esposa honrada e fiel, tinha de ficar em casa, consolada pelos filhos.
Amadas amantes de casa montada. Às escondidas? Não.
Junto do trabalho daquele marido infiel, nas ruas mais frequentadas por todos, inclusive por mim, que andava a cidade toda e, menina-moça que era, com a curiosidade à flor da pele, procurava saber, sabia e via todas essa coisas. Hoje eu tenho tudo gravado na mente e acho até pitoresco relembrar pq fazia parte da Sociologia da época.
Comentavam-se esses casos por trás..... a moça ou mulher, teúda e manteúda era mal vista por todos, mas na frente desses homens ninguém dizia nada, era Seu Fulano pra cá, Dr Sicrano pra lá, Deputado Beltrano pracolá, tudo gente fina, homens honrados da terra.
Aos domingos estavam todos na Igreja, ao lado das esposas e dos filhos, ouvindo as preleções de Padre Honório e depois de Padre Palmeira, com as caras mais lisas do mundo.
As preleções adiantavam alguma coisa? Não. Saindo dali, da Igreja, iam todos pra casa e as esposas e os filhos ficavam contritos no reduto sacrossanto do lar, refletindo sobre o que o padre havia falado.
E os maridos? Esses ganhavam o mundo. Outra casa os esperavam. Outros sonhos. As namoradas, amadas amantes.
Tudo normal. A espiritualidade ficou lá na Igreja. Era coisa de Padre Honório ou de Padre Palmeira. Ora, ora. Homem é homem. Nada pega no homem.
A Sociologia dos anos cinquenta em Esperança/PB. Adoro esse tema. Eu vi, eu estava lá.
Continuarei a falar sobre o assunto, tão logo apareça a oportunidade.
Lembro ainda que, no Brasil não existe o chamado "Direito ao Esquecimento".
Maria das Graças Duarte Meira
Quando criança, na feira livre de Remígio, tive o privilégio de conhecer Dedé da Mulatinha. Ele me inspirava com seus versos!
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