“A igreja não se reduzia a um lugar de
devoção e de festas. Servia de depósito de defunto. Chegava a rede e era
largada no chão com o corpo dentro.
A tragédia do Sítio Velho avermelhou
esse ambiente. Foi o seguinte: tornaram-se inimigos membros de uma mesma
família que moravam em sítios vizinhos. Sobreveio uma questão de limites,
responsável em todo o interior por violentos conflitos.
Como protesto, pelo dano sofrido em sua
lavoura, um cortou a cauda de uma ovelha do outro. Foi o bastante. Utilizando
as armas e todo o material agrícola, passaram a matar-se e o resultado da luta
estava exposto neste lugar sagrado.
Deixaram-me ir ver aquele horror. Era
nove, se bem me lembro, entre mortos e feridos. Um quadro que para sempre se
gravou na minha memória foi o da mulher grávida que tinha a cabeça partida por
uma foiçada e o ventre rasgado à faca. Um companheiro me disse que estava vendo
os miolos. Uns sem vida, outros mutilados, por uma terra que acabaria reduzida
a sete palmos.
Dona Mentina tinha uma cara tão boa que
me dava vontade de pedir-lhe a benção. Chegou-se e aconselhou-me.
— Meu santo, vá para casa. Fiz o que os parentes não faziam: Chorei por essa desgraça. Nessa hora, o vento fazia dos óculos das paredes da igreja um instrumento para tocar um funeral. Assim eu ouvia o canto.
José Américo de Almeida
(Areia, 10 de janeiro de 1887 — João
Pessoa, 10 de março de 1980)”.
O texto foi extraído do
livro: Memórias, antes que me esqueça. Volume 35 de Coleção Nordestina.
José Américo de Almeida – 3ª Edição – Editora Universitária, 2003.
Merece um cordel de lamento, triste lamento. Sabia do causo, mas com essa síntese, não! Não sei de devo cordelar a respeito, que acrescentaria? em que diminuiria o impacto ou aumentaria o ruído dessa bagaceira? Sei não!
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