Expulsos
de sua pátria pela perseguição imposta durante o “Santo Ofício” (Inquisição),
aportaram no Nordeste uma plêiade de Judeus que temendo a própria vida
ocultaram as suas origens e aderiram a fé católica. Covertidos à força – daí à
origem “Marramo” (Anussim) –, passaram a denominar-se “Cristão Novo”, embora
permanecessem em seu interior com as práticas do seu passado.
Adotaram
na brasilidade prenomes de acordo com o velho testamento, prevalecendo o nome “José”
dentre aqueles hebreus; e por sobrenome Dias, Rodrigues, Pereira e Costa.
Muito embora estes por si só não seja um indicativo, necessitando um estudo
genealógico.
Todavia,
guardaram hábitos e costumes que lhes denunciam: aversão a carne de porco e de
sangue abatido dos animais e os cuidados com os mortos lembrando a purificação
judaica.
Sobressaem
dessa época algumas crendices: se passasse sobre uma criança, deveria passar de
volta, senão ela não cresceria; não deixar tesouras abertas, nem sapatos
virados na casa; coçando a mão direito era pagamento, e sendo a esquerda
receberia algum dinheiro; não apontar para as
estrelas, senão nasce verruga etc.
Essas famílias se ramificaram pelo Estado, não sendo diferente a
sua presença neste Município de Esperança, da qual pudemos identificar três grandes
ramos: Fernandes Pimenta, Arruda Câmara e Rodrigues de Oliveira.
A
Família Fernandes Pimenta tem origem no português Antônio Fernandes Pimenta
que, segundo a tradição, era assim chamado devido a coloração avermelhada de
sua face. Aportou primeiro na Bahia, já casado com Joana Franklina do Amor
Divino; mas fixou residência na Paraíba na freguesia de N. S. das Neves.
Desse
consórcio nasceram sete filhos, desconhecendo-se a descendência do segundo
matrimônio, contraído com a Sra. Maria José da Silva. A sua genealogia
espalhou-se pelo Rio Grande do Norte e Paraíba.
Entre nós, o nome que surge deste clã é o de
Joaquina Fernandes Pimenta, natural de Esperança, filha de José Fernandes
Pimenta e Maria Conceição, casada com Cícero Pedro Alves.
O
pesquisador Ismaell Bento afirma que estes são descendentes dos cristãos novos e que tem ascendência no
Seridó potiguar.
Joaquina faleceu aos 65 anos de idade, no dia
30 de março de 1968, no Hospital Pedro I em Campina Grande, deixando a seguinte
prole: Manoel, Ernani, Francisco, Alzira, Jossefa, Maria e Dalva.
Filgueira (Coleção Mossoroense: 2011) aponta os
Arruda como uma estirpe que vem se desenvolvendo desde o Século XVIII, a partir
do açoriano Amaro José de Arruda e seu irmão Francisco, tendo como maior
representante na Paraíba o Capitão-mór Francisco de Arruda Câmara, de quem descende
Manuel de Arruda Câmara, cientista e revolucionário.
O Padre Francisco Sadoc de Araújo (Editorial
Cearense: 1981) apud Francisco de
Assis Vasconcelos Arruda (Arruda: 1987), comenta que “Os avoengos de Amaro, foram provavelmente cristãos-novos espanhóis,
perseguidos e expulsos de Castela e Aragão nos fins do Séc. XV. Estes
cristãos-novos, judeus forçados à conversação por ordem dos Reis Católicos,
tomavam nomes de plantas nativas com o fim de encobrir a perseguida origem
judaica”.
Destaca-se deste tronco familiar o Coronel
Eufrásio de Arruda Câmara que, apesar de suas intenções políticas, muito
concorreu para o progresso esperancense. Foi ele quem, após um comício
realizado na então vila de Esperança para renovação do Conselho Municipal de
Alagoa Nova, indicou o comerciante Theotônio Tertuliano da Costa para concorrer
à prefeitura daquele município no ano de 1913.
O blogueiro Jailson Andrade menciona os
RODRIGUES OLIVEIRA, com ênfase para André Rodrigues de Oliveira (1852/1939) que
chegando à Paraíba, casou-se com a jovem Maria Cecília natural de Alagoa Nova,
e veio a construir a Vila Santa Cecília em Esperança, na saída para Campina
Grande, próximo ao Posto Almeida.
Da sua descendência temos Inácio Rodrigues, que
foi delegado em Esperança e proprietário do Cine Ideal, sendo suas irmãs
Severina, Antônia, Digna e Cícera. O irmão de André, Sr. Thomas Rodrigues era
pai de Manoel Rodrigues, nosso primeiro prefeito.
Certamente que há entre nós outras famílias, em
nosso recôndito, que tem igual origem, necessitando um acurado estudo para
melhor compreensão da gêneses judia em nosso Município.
Rau Ferreira
Referências:
-
ANDRADE, Jailson. Blog Esperança de Ouro. Disponível em http://www.esperancadeouro.com/,
reprodução. Postagem de 25/09/2013.
-
ARAÚJO, F. Sadoc (de). Ceará: Homens e livros - Estudos críticios de
bibliografia. Gráfica Editorial Cearense: 1981.
-
FILGUEIRAS, Marcos Antonio. Os judeus foram nossos avós. Coleção Mossoroense,
Série C. Mossoró: 2011.
-
SILVA, Doralice Amâncio (da). Eufrásio(s) de Arruda Câmara: um estudo de caso
das relações de poder das elites locais da Parahyba (1850 – 1923). Campina Grande:
2017.
Se descendo no sangue, íntegro nós costumes, descendo culturalmente. Todas essas características me foram passados na educação familiar. Carne de porco, então, só passei a comer bem recentemente.
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