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Dois Ibiapinas, uma só Esperança

Matheus de Oliveira, ao escrever sobre a nossa antiga denominação (1918), nos informa que o nome Banabuyé foi alterado para o de Esperança pelo Padre José Antônio de Maria Ibiapina, reforçando assim o estudo de Coriolano de Medeiros (1950) a seguir transcrita:

Há uns oitenta anos passados, o local da cidade era ocupado pelos currais de uma fazenda chamada Banabuié. Um agrupamento de vivendas ali se ergueu, sendo o ponto escolhido para uma feira semanal. Mais tarde o missionário Ibiapina substituiu o antigo nome pelo de Esperança” (MEDEIROS: 1950, P. 91).

 

Uma versão atribui a mudança do topônimo de Banabuyé a Frei Herculano, que celebrou a primeira missa em nossas terras, em terras da antiga fazenda, nas proximidades do Tanque do Araçá. Enquanto outros historiadores apontam como responsável o Frei Venâncio, que fundou e erigiu a Capela do Bom Conselho (1860).

A tradição, porém, nos informa que o cemitério público de Esperança – construído em 1862 sob a denominação de “Campo Santo” -, seria obra do Padre Ibiapina, na mesma época em que foi erguida a “Casa de Caridade” de Alagoa Nova (R.IHGP: 1974). Por esse tempo, encontrava-se o missionário hospedado em casa do Padre José Antunes Brandão, então vigário d’Alagoa Nova.

Todavia, encontramos em nossa história um clérigo com este mesmo sobrenome (Ibiapina), que não se confunde com o padre-mestre missionário. É ele o Padre Ignácio Ibiapina de Araújo Sobral que aparece nos registros paroquiais pesquisados por Ismaell Bento, segundo a grafia da época a seguir transcrita:

Aos deseceis dias do mês de novembro de mil oitocentos e oitenta e um nesta Povoação da Esperança da Freguesia de Alagoa Nova, ao depois de feitas as denunciações do estillo na forma do Cont. Trid. sendo confessados e examinados em Doutrina Christã, o Reverendíssimo Coadjuntor Padre Igancio Ibiapina Sobral. Fiel assistio ao sacramento de matrimonio de meos parochianos Antonio Pereira dos Santos, e Maria Avelina da Conceição, presente as  testemunhas Casemiro Pereira e Manoel Pedro do Nascimento, moradores desta Freguesia de Alagoa Nova, logo lhes dei as benções nupciais na forma de Rit. Rom. do que para constar fis este assento em que me assino. Conego Vigarº José Antunes Brandão” (Livro 03 de casamentos da Paróquia de Santana, Alagoa Nova – PB, p. 17v - grifei).

O Padre Ibiapina Sobral foi auxiliar do Padre Jeronymo César, vigário de Alagoa Nova, quando deu posse ao Padre Francisco Gonçalves de Almeida, nosso primeiro vigário paroquial (1908). O religioso era vigário em Picuí (1903) e foi regente da Capela de Pedra Lavrada (1911).

Assim, seguem os dois IBIAPINAS na história local. Cada um contribuindo a seu modo, no ministério eclesiástico, empreendendo a vida cidalina e cristã da auspiciosa Esperança, outrora Banabuyé.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- BENTO, Ismaell. Acervo Paroquial de Alagoa Nova, Pesquisa em 17 de abril. Paraíba: 2019.

- JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Paraíba. Edição fac-similar de 1892. Ed. Thesaurus: 1977.

- JÚNIOR, Luiz Araújo Pinto. O Padre Ibiapina, precursor da opção pelos pobres na Igreja do Brasil. Revista Eclesiástica Brasileira. Vol. XLIII. Editora Vozes Ltda: 1983.

- MEDEIROS. Coriolano (de). Dicionário Corográfico do Estado da Paraíba. 2ª ed. Departamento de Imprensa. Rio de Janeiro: 1950.

- O NORTE, Jornal. Edição de 21 de abril. Parahyba do Norte: 1918.


Comentários

  1. Caríssimo Rau.... Eu só ouvira sobre um dos Ibiapinas.... Grato pela contribuição....

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