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Recepção ao primeiro juiz municipal


Discurso de Severino Diniz e a Festa da Independência Municipal

Severino Irineu Diniz
No início de janeiro, do ano de 1926, Esperança recebia com galhardia o seu primeiro juiz municipal, o Dr. João Marinho. O anuncia efetivara-se por telégrafo, no último dia de dezembro de 1925, quando os fogos de nossa emancipação ainda estoiravam no ar da vencida Banabuyé, outrora povoação, e agora vila promulgada por João Suassuna.
As pessoas daqui foram recebe-lo ainda n’a Lagoa do Remígio quando, às cinco da tarde, ouve-se o primeiro aviso de sua aproximação, em comboio de carros, que disparavam buzinas, assubindo-se o Sr. Theotonio Rocha ao palacete de Manoel Rodrigues, o qual interpretou o sentir do povo esperancense. Em seguida, dirigiram-se ao Paço Municipal, onde foram tomadas as formalidades de estilo, no salão principal.
Compromissado o Dr. João Marinho, em discurso, enalteceu as virtudes cívicas dos Drs. Solon de Lucena e João Suassuna, num belo improviso. De igual modo, segue-se a fala de Severino Irineu Diniz, acadêmico de direito, que lembra ainda a figura do Coronel Elysio Sobreira, importante nome do município.
O seu discurso de recepção ao juiz municipal, foi publicado em síntese n’A União, o qual em mosaico, reproduzimos em resgate:
Mal cessaram os aplausos com que o povo desta terra recebeu o exmo. sr. dr. João Suassuna naquela tarde formosa e encantadora de maio, já Esperança era novamente despertada para outro entusiasmo ainda, porque, se aquele representava o anseio de uma coletividade que sabia contar sofrendo e sofrendo realizou a sua liberdade; este, significa a vitória de um povo que se tornou atleta, erguendo-se com a coragem e triunfando com fé. O que somos e o que devemos de realizar com a concretização dos nossos anseios de liberdade, devemos à ação enérgica, decidida e inteligente de um homem, que, além de honrar com a sua mentalidade vigorosa, a geração do Brasil moderno, reúne todas as qualidades de um administrador de larga visões, do mais erguido descortino político e administrativo.
A Parahyba que já é berço de tantas glórias, pátria de tantos heróis, com a administração política de João Suassuna, viu raiar, no horizonte de seu futuro mais uma estrela, com que a anunciar-lhe uma nova era de redenção e liberdade. A João Suassuna, esse nome que significa coragem e na alma esperancense, o ídolo da nossa independência municipal, a expressão profunda do nosso reconhecimento e a legenda eterna das nossas saudades.
A Elyzio Sobreira, que foi nessa campanha de consciência e de responsabilidade, o soldado, que se tornou ao mesmo tempo, herói e patriota, a gratidão e o reconhecimento desse povo independente e feliz
 “As últimas palavras do orador foram interrompidas por uma salva de palmas” – registrava A União em seu artigo. Ao retirar-se, João Marinho percorreu a cidade, com destino a residência da família “Farias Leite”, onde lhe foi ofertado um jantar. O Paço Municipal foi palco de danças que se prolongaram à alta madrugada.
Inda naquele 31 de dezembro, do ano próximo passado, eram tomados os compromissos do prefeito e do vice-dito e demais autoridades municipais, no livro de tombo que resta guardado no atual fórum.
Ao despontar do primeiro de janeiro, foi celebrada uma missa em ação de graças, no monumento da Virgem do Perpétuo Socorro (A Capelinha) que, erguida no cimo d’o Tanque do Araçá, avista a paisagem encantadora do “Lyrio Verde da Borborema”.
À noite daquele dia, houve um animado baile com a fina flor da sociedade esperancense. E assim se festejou, de forma condigna e com a notável cordialidade, a independência municipal, com espírito de disciplina e ordem.

Rau Ferreira

Referências:
- A UNIÃO, Jornal. Edição de 12 de janeiro. Parahyba: 1926.
- FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá - Recortes da Historiografia do Município de Esperança. Rau Ferreira - 1ª ed. Esperança/PB: 2015.

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