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Banabugé: Esperança (Matheus D'Oliveira)


Transcrevo a seguir um texto de Matheus de Oliveira sobre a nossa antiga denominação que, segundo o escritor, fora mudada para o nome de Esperança pelo Padre Ibiapina Sobral, reforçando assim uma antiga suposição.
Não é forçoso lembrar que este missionário foi auxiliar do Padre Jeronymo César, vigário de Alagoa Nova, quando deu posse ao Padre Francisco Gonçalves de Almeida, nosso primeiro vigário paroquial.
Eis o artigo em questão:

A antiga Banabugé, que era há sessenta anos, uma feira numa fazenda a 15 kilometros a N. O. de Alagoa Nova, atingiu rapidamente a situação admirável que todos proclamam surpreendidos a meio do que esperavam encontrar penetrado a localidade a que tão apropriadamente cabe a denominação de Esperança.
Era bem fundada a esperança do missionário inteligente e operoso, que por ali passara e concorrera para a mudança do nome primitivo.
Em pouco tempo, povoada ficou a antiga fazenda de criar gados, que Ibiapina visitara com uma admiração sincera e justificável pelo exame de sua situação, colhendo numa observação de mente aprimorada nos estudos e nas análises profundos os elementos com que predizia o avançamento da localidade e o seu futuro próspero.
Agora as promessas estão realizadas.
Mercê dessa situação, no planalto da Borborema, na transição dos “brejos” para os “carirys”, a povoação conquistou elementos garantidores do seu progredir incessante.
Saudável, com regular edificação, cada dia obtem notáveis melhoramentos, excelentes contribuições para o bem estar dos seus habitantes, motivos de orgulho e satisfação para os que ali trabalham com uma vontade e devotamento merecedores dos elogios maiores.
É conhecido o desenvolvimento agrícola-comercial de Esperança.
Nas suas circunvizinhanças, retomando aquele agreste com um pitoresco que encanta os viandantes, pode ser vista a obra tenaz e vitoriosa do porfiado labor dos seus habitantes.
Num raio de mais de três léguas, bastante cuidadas se mostram as terras.
Apesar de ser uma zona frequentemente prejudicada pelas lontas estiagem, ali estão as lavouras atestando que os homens daqueles sítios amam o trabalho, para o qual vivem na serena paz dos seus espíritos, grandes e respeitáveis conquistadores do solo que lhe promete e abasteça, o bem estar, os meios de auxilia a fortuna pública, ao mesmo tempo que garantirem o conforto e a prosperidade seus largos amigos e hospitaleiros.
Voltemos deste percurso pelos arredores, onde as lavouras tão intensas ganham nossas manifestações de júbilo, atravessemos a sua feira na larga rua principal, notemos a profusão de viveres, gozemos o prazer de encontrar os melhores frutos da atividade dos trabalhadores dos campos e realizemos rápidas visitas às suas sessenta casas de comércio.
A impressão é sempre a mesma.
Domina-nos completamente o imprevisto, tanto essa população apresta-se rapidamente para galgar uma posição de destaque na região que floresce, esperando subir cada vez mais.
Louvável esforço desse que fizeram o seu desenvolvimento e dos que ainda hoje trabalham para aumentar o seu comércio e a sua lavoura, não esquecendo as necessidades de outra espécie que elevarão o meio e realizarão enfim as mais altas e justas aspirações.
Matheus D’Oliveira”.

Vê-se pelo escrito que Esperança era uma florescente vila, com ares de menina-moça que queria desposar-se... o texto escrito em 1918 poderia ser um prenuncio a sua emancipação, que viria sete anos depois.
Interessante notar os registros de sua origem, da Fazenda Banaboé Cariá, da feira na rua principal e da presença do Padre Ibiapina, a quem o autor atribui a mudança de seu nome de Banabuyé para Esperança, na opinião de outros estudiosos, seguindo as três virtudes teologais.


Rau Ferreira

Referências:
- FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá: Recortes historiográficos do Município de Esperança. SEDUC/PME. A União. Esperança/PB: 2016.
- MEDEIRO, Tarcízio Dinoá. Freguesia do Cariri de Fora. São Paulo/SP: 1990.
- O NORTE, Jornal. Edição de 21 de abril. Parahyba do Norte: 1918.
- UCHÔA, Boulanger de Albuquerque. História Eclesiástica de Campina Grande. Departamento de Imprensa Nacional: 1964.


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