Pequena biografia em versos de cordel
Josephus Filli,
o filho de Zé Luiz
(Que viva o
“vilão leproso” I)1
O Império do Brazil ainda
estava
Sob o escravismo irracional
Quando se registraria por
aqui
Um grande evento, um natal:
Nasceria o filho de José Luiz
A quinze de fevereiro, dia
feliz,
A esperança se faria genial.
II
Ceciliano Pereira da Costa,
Sobrenome familiar, colonial,
Ele, aos poucos, teria
rejeitado,
E astuto, numa atitude
genial,
Inspirado no latim o filho de
Zé
Só se via Joffily, e fincaria
pé,
Mudara, então, por meio
legal.
III
Com vinte e um anos, o jornal
Diário de Pernambuco noticia
A mudança de nome de Irineu
Ato movido por amor e
alegria.
Ato político, à época, em
moda,
No que só à nobreza incomoda:
Aristocrata em mudança radical.
IV
E fundaria por aqui uma
Gazeta
Abolição é defendida pelo tal
E o jornalista defendia sua ideia
Aos quinze anos já nutria o
ideal.
E seu saber enquanto
historiador
E sua ação no papel de
promotor
Promoveria toda gente a ser
igual.
V
“Ireneo Joffly”, a despeito
da origem,
Assentada numa aristocracia
rural,
Não aceitava o domínio
estrangeiro
Nem as mazelas da vida
subnormal
Fez sua política pela
democracia
Estudou com Castro Alves a
magia
Se fez poeta e deputado
provincial.
VI
O humanista, literato bom de
pena,
Se destacou no Rio antigo, a
Capital,
O geógrafo refez mapa e
publicou
Fez militância no Partido
Liberal.
“Ligado a terra e ao povo do
Sertão”
Vereador, juiz, nunca foi de
omissão,
Com a donzela Rachel formou
casal.
VII
Em fevereiro de novecentos e
dois
Antes dos sessenta anos de
natal
Morre o intelectual, que em
vida,
Enfrentou a exploração, o
arsenal,
Quem vivia e atuava sem
perdão
E empastelou a Gazeta do
Sertão
Mas não matou do idealista o
ideal!
Irineu Joffily é meu patrono, ilustre
filho da Esperança
(Que viva o “vilão leproso” II)2
VIII
De Esperança a Cajazeiras
E até pra fora do Estado
Irineu, desde a infância,
Cavalgava encantado.
Venceu montanhas e rios
Superou seus desafios
Por essa terra apaixonado.
IX
A primeira das cavalgadas
Foi aos 12 anos de idade
Saindo de Esperança até
A velha e nobre cidade:
Com Pe. Rolim estudou
No internato se formou
Um paraibano de verdade.
X
De Cajazeiras a Inhamuns
Pelo interior do Ceará
Fez também essa viagem
Depois de um ano por lá:
Mas contados onze anos
Retomaria os seus planos
Pela Paraíba a desbravar.
XI
Nas andanças, cavalgadas,
Pelos Sertões e interiores,
O Índio Cariri, o afamado,
Construiu saber, seus
labores,
Informações que mudaram
Nosso mapa, redesenharam
A Paraíba, em seus alvores.
XII
E depois de viver assim e
Aventurar-se a escalar a
Serra do Pico, de Batalhão,
A atual e famosa Taperoá
Os desafetos não queriam
Admitir e assim eles fariam
Tudo pro mapa não mudar.
XIII
Mas a verdade científica
Dos seus Estudos Sociais
Se mostraria um possante
Conjunto de sensacionais
Retratos da nossa terra
Da gente que nela gera
Muita riqueza, tudo faz.
XIV
Como a gente, não se cansava,
Até onde a memória alcança
Por todo bem se interessava
E pra todos deixou a herança
Nunca o povo em abandono
Irineu Joffily é meu patrono
Ilustre filho da Esperança.
Mas o ilustre filho esperancense se opôs
com sua verve idealista
(Que viva o “vilão leproso” III)3
XV
Os inimigos do nosso patrono,
Como quem tira proveito,
orgulhoso,
Da dor alheia ante uma
desgraça,
Tratavam Irineu por “vilão
leproso”.
Como quem rouba doce de
criança
Como quem não consegue
aliança
Para praticar o intuito
horroroso.
XVI
E como todo tipo de
preconceito,
Se articula de modo
laborioso,
Pra tirar proveito da
fragilidade,
Da qual se vitima um desditoso.
Se o mal de Hansen o acometeu
Se aproveita, em vão,
fariseu,
Opositor, desafeto e
poderoso.
XVII
O centenário de morte
comemorado
Em dois mil e dois, sem
engano,
Lembrou pra muitos estudantes
Que da cadeira dois ele é
patrono
No instituto paraibano IHGP
Por História e Geografia pode
ser
Reconhecido pioneiro, um
decano.
XVIII
Imortalizado na cadeira
quinze da
Academia de Letras de
Campinense,
O autor de Notas sobre a Parahyba
Pode ser considerado
pocinhence…
Como homem de letras se
notabilizou
Mas foi em Banabuyê que ele
brotou
Por isso afirme: ele é
esperancense.
XIX
Na oportuna homenagem da ALC
Escreveu Amaury Vasconcelos
Sobre o “Grande Historiador”
O nosso Irineu, sem
paralelos.
Citando Geraldo Irineu, o
neto,
Demonstrando todo seu afeto
Pelas escolhas e atos tão
belos.
XX
Antonio Soares, por sua vez,
Faz poesia no formato violão
Do mapa da Paraíba de Irineu
“Homem de Letras” por
vocação.
Epaminondas Câmara ele cita
A nossa curiosidade ele
incita
Pro escritor articulista da
União.
XXI
“O humanista Irineu Joffily”
No texto de José Cláudio
Batista
Usa a palavra pela
independência
Diante dos portugueses
elitistas.
Dominavam o comércio
recifense
Mas o ilustre filho
esperancense
Se opôs com sua verve
idealista.
NOTAS:
1
Em 2002, a Academia de Letras
de Campina Grande/ALC prestou homenagem ao Irinêo Ceciliano Pereira da Costa (*15/02/1843
- † 08/02/1902), Irineu Joffily, pela passagem do segundo centenário de morte
do ilustre filho dessa região, ora campinense, ora pocinhense e, certamente
esperancense, “nascido na casa das lascas, Banabuyê, fazenda Lajedo, lugarejo
de Pocinhos, hoje município de Esperança.”. Seu nome foi grafado de várias
formas, Irenêo Joffly, por exemplo, mas Irineu Joffily se estabelece já a
partir de 30 de maio de 1890. Em 932, Esperança presta homenagem, dando o nome
dele a primeira escola do município.
2
O cavalo era o meio de transporte
principal no século 19. O menino Irineu, depois o homem, adulto, comprometido
com a sua terra e com os seus conterrâneos, pesquisa tudo que lhe permitiam as
condições do seu tempo. Assim, o atual desenho do mapa do estado da Paraíba
deve a ele as informações que o fizeram deixar de ser apenas especulação.
3
A homenagem da Academia de Letras
de Campina Grande, pela passagem do centenário de morte de Irineu Joffily,
revela a importância histórica dele. Mostra como se é capaz, para o bem e para
o mal, de escolher o ataque covarde. Melhor, ainda, reconhece a contribuição
que cada um pode dar por sua terra e por seus conterrâneos, contemporâneos e pela
posteridade.
FONTE:
PBLetras, junho de 2002, Campina Grande/PB.
EXTRA
Um encontro do Índio Cariri com o Poeta dos Cisnes
(Irineu Joffily recebe sorrindo Silvino
Olavo da Costa)4
I
Quando Silvino morreu
Sem registro de emoção
Vivia fora do glorioso
Tempo da emancipação.
Imagino pouca gente
No enterro daquele ente
Em modesta situação.
II
Quando Silvino ascendeu
Teve alta proclamação
Pois voltara a sua pátria
De onde veio em missão
E com fogos de artifício
Nobre arte e duro ofício
Foram a sua redenção.
III
Um cordelista foi por lá
Numa noite sem dormir
Foi só pra testemunhar
E avistou o Índio Cariri
Com o Poeta dos Cisnes
Eles caminhavam firmes
A comentar dos daqui.
IV
Irineu recebe sorrindo
Silvino Olavo da Costa
Quer saber da Paraíba
Do povo que ele gosta
E o poeta recuperado
Do viver atormentado
Na saudade se acosta.
V
Fala de uma abolição
Que não era a de Irineu
Fala de uma república
Do quanto ela pereceu
Do povo que ainda sofre
Limpeza de tanto cofre
De como tudo se deu.
VI
E Irineu sem desespero
A sorrir para o poeta
Explica que só o tempo
Supera tudo e afeta
Quem manipula a razão
E o povo em expiação
Como ensinou um profeta.
VII
E os dois ladeiam um rio
Como se fossem crianças
E se lançam em desafio
Renovando as alianças:
De quando assim retornar
Cada missão retomar
Num fio de esperanças.
NOTA:
4 Índio Cariri era pseudônimo de Irineu Joffily. Silvino
foi chamado Poeta dos Cisnes. Ele, ao morrer em 969, deixa o ostracismo e
retorna a pátria celestial. Imagina-se aqui uma saída modesta, uma chegada
triunfal e um diálogo sobre as lutas de Irineu e o planejamento da reencarnação
deles, em missão.
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