Pular para o conteúdo principal

A Cavalo ou de carro: as distâncias intermunicipais


Preocupação antiga era a de se percorrer as distâncias, de um lugar para o outro, limites que se venciam a cavalo, quando Esperança ainda era uma pequena vila.
O trem projetado para o Município foi desviado para outras plagas, dizem que a pedido dos políticos campinenses. Seria uma grande revolução para a cidade, já que era um meio de transporte muito usual no Século XIX, principalmente no transporte de mercadorias.
Em várias entradas haviam lugares para se apear o cavalo. As carroças eram bem poucas, porém transitavam pela cidade, seja com a entrega de água ou mesmo de mercadorias, em geral farinha, feijão e milho. Os primeiros carros chegaram na década de 30.
Os caminhos entre os sítios eram vencidos nos lombos dos animais ou em trajetos a pé que se faziam de um lugar para o outro, sempre chegando na entrada da cidade onde haviam terrenos para se apear burros e cavalos que eram guardados em troca de alguns tostões.
Em depoimento, o Dr. João de Patrício, relata que as crianças vinham do sítio para as escolas, numa época em que não existia transporte escolar, e na invernada, traziam nas bolsas uma muda de roupa, guardavam as sandálias e faziam a troca em casa de parentes e amigos.
O primeiro carro a circular por Esperança – escreve João Tomaz Pereira – foi um “Overland” vindo de Campina Grande. A meninada se ajuntava para ver o “Chofer” com o polo negativo da bateria produzir choques e faíscas. Data dos anos. O certo é que na primeira gestão já existia um carro particular para uso exclusivo do prefeito, mas como a cidade era pequenina, acreditamos que este servia para encurtar as distâncias entre os municípios vizinhos. Nessa mesma administração houve preocupação de se construir estradas, abrir caminhos e consertar passagens.

Passemos ao registro itinerário de Esperança de acordo com o meio de transporte que se dispunha na época nos anos 50.
Entre Esperança e o Distrito de Novo Areial (atual Município de Areial) gastava-se 15 minutos de caminhão, 10 minutos se fosse de automóvel particular e 40 minutos a cavalo. De caminhão, cobrava-se Cr$ 15,00 (quinze cruzeiros) por passageiro, Cr$ 40,00 (quarenta cruzeiros) em carro alugado e o aluguel de um cavalo custava Cr$ 10,00 (dez cruzeiros) a diária.
Veja a tabela abaixo, que contém as principais informações dos meios usuais de transporte, de acordo com o livro “Tábuas Itinerárias da Paraíba”, produzido pelo Departamento Estadual de Estatística.

Alagoa Nova:
Distância 19 Km
Caminhão: Cr$ 5,00 – por passageiro – tempo 30 minutos
Automóvel: Cr$ 100,00 – carro alugado – tempo 25 minutos
Cavalo: Cr$ 10,00 – por dia – tempo 1h30 minutos

Areia:
Distância 19 Km
Caminhão: Cr$ 5,00 – por passageiro – tempo 1 hora
Automóvel: Cr$ 100,00 – carro alugado – tempo 40 minutos
Ônibus: Cr$ 10,00 – por passageiro – tempo 40 minutos
Cavalo: Cr$ 10,00 – por dia – 2h30 min

Campina Grande
Distância 28 Km
Caminhão: Cr$ 5,00 – por passageiro – tempo 1 hora
Automóvel: Cr$ 100,00 – carro alugado – tempo 40 minutos
Ônibus: Cr$ 10,00 – por passageiro – tempo 1 hora
Cavalo: Cr$ 10,00 – por dia – 2h20 min

Para encerrar, registro que em 1952 o Município possuía 24.021 habitantes, sendo 11.345 homens e 12.676 mulheres; deste total apenas 2.500 pessoas sabiam ler/escrever

Rau Ferreira


Referências:
- FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá: Recortes da Historiografia do Município de Esperança. Esperança/PB: 2015.
- PARAÍBA, Tábuas Itinerárias do Estado (da). Departamento de Estatística. Governo do Estado. José Américo de Almeida. João Pessoa/PB: 1952.
- PEREIRA, João Thomaz. Memórias de uma infância nordestina. Assis/SP: 2000.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Helle Henriques Bessa

Helle Henriques Bessa nasceu no Município de Esperança (PB) aos 14 de junho de 1926. Era filha do Desembargador José Ribeiro Bessa e da professora da Escola Doméstica dona Rosa Henriques Bessa. Formou-se professora no Colégio Santa Rita em Areia (PB), juntamente com a sua irmã Hebe Henriques, que mais tarde se casaria com Erasmo Cavalcanti. Naquela escola descobriu a sua vocação religiosa, abraçando a fé através da Congregação Franciscana em 05 de junho de 1949, adotando o nome de “Irmã Margarida”. Com aptidão para as artes plásticas fez vários cursos de pintura, desenho e xilogravura. Participou de exposições nacionais e internacionais (Alemanha, México, Canadá e Itália) e recebeu diversos prêmios por seus trabalhos, destacando-se o Prêmio Funarte de Gravura em Campina Grande (1977). Os seus quadros eram frequentemente expostos nos círculos acadêmicos. Participou no ano de 1978, do I Salão de Arte Contemporânea de Cajazeiras, realizado pelo Grêmio Cajazeirense de 12 a 30 de ag...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

A Pedra do Caboclo Bravo

Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “ Pedra ou Furna do Caboclo ” que guarda resquícios de uma civilização extinta. A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E n o seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada. A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros. A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. A s várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos pr...

Sol: carta ao Senador José Américo

Chegou-me, pelas mãos de Jorge Rezende, a cópia de uma carta escrita pelo poeta Silvino Olavo (1897-1969) e dirigida ao então Senador José Américo de Almeida (1887-1980). A peça pertence ao acervo da Fundação que tem o seu patronato e se encontra arquivada naquela casa de memória. Na data de sua escrita - 20 de maio de 1935 -, não fazia muito tempo que Zé Américo havia se exonerado do Ministério de Viação e Obras (1934) para candidatar-se ao Senado Federal, e sagrando-se vencedor naquelas eleições, assumia o cargo por apenas três meses, para pouco depois, ser indicado ao Tribunal de Contas da União (1935), pelo presidente Getúlio Vargas (1882-1954). Ao passo que Silvino ocupava a ala “Clifford Beer” de pensionistas internos da Colônia “Juliano Moreira”, na Capital paraibana. No hospital dirigido por Onildo Leal, o poeta era assistido pelo Dr. Gonçalves Fernandes, com alguma liberdade. O seu nome ainda aparecia no cenário nacional. O jornal "O Estado" de Santa Catarina p...

Padre João Félix de Medeiros

  João Félix de Medeiros (1912-1984) descende de uma família pobre do município de Esperança. O futuro sacerdote dedicou-se à agricultura até os 17 anos. Seus pais eram Manoel Caetano de Medeiros, também conhecido por Manoel Félix Vieira, e Rita Maria de Medeiros, trinetos de Manoel Medeiros Dantas (BASTOS: 1954, p. 272). Por essa época, tentou ingressar no seminário, porém foi reprovado no curso de admissão. Observando o interesse com que o jovem tratava dos assuntos religiosos e a sua ânsia de ingressar no sacerdócio, os dirigentes resolveram esquecer a burocracia e o aceitaram para aquela formação. Após estudar por doze anos no Seminário da Paraíba foi ordenado. O primo Gutemberg Vicente Guimarães, que o auxiliava nas atividades religiosas, disse que o vigário “ se preocupava somente em ajudar as pessoas. Ele nunca teve estudo porque foi de uma família muito pobre e sem condições, mas sempre soube respeitar e ajudar ao próximo ”. A sua carreira religiosa pode ser assim res...