Pular para o conteúdo principal

A Batatinha de Esperança

Esperança alcançou os maiores índices de produtividade de Batatinha, destacando-se no cenário nacional. O primeiro a falar sobre este tubérculo foi o ex-ministro e governador da Paraíba José Américo de Almeida. Em seu livro “A Parahyba e seus problemas”, publicado em 1923, destacava o escritor que:
“As terras de menor grau de umidade do distrito de Esperança, faixa de transição do agreste, são incomparáveis para a cultura da batata inglesa, iniciada há poucos anos e desenvolvida, a ponto de abastecer grande parte do Estado e já ser exportada para Recife e Natal” (Almeida: 1923).

Dois anos depois, o governo federal buscava a razão entre a circulação de mercadorias e o custo de vida, concluindo que “que hoje com as batatas de Esperança abastece mercados vizinhos, entre os quais avultam os do Rio Grande do, teve seus preços elevados de 37% no triênio, atingindo os aumentos de 75% a 80% nos mercados paulistas, alagoanos, norte-rio-grandenses e pernambucanos” (Imprensa Nacional: 1925).
A batata inglesa foi objeto de estudo do inspetor agrícola Diógenes Caldas, que elaborou um importante relatório tratando da solanácea esperancense sob o título “O Inquérito da Batatinha”. Destacou o engenheiro que a produção era recente, de sorte que era possível declinar o nome do primeiro cultivador.
Tudo começou em 1906 com um campo experimental produzido pelo Sr. Delfino Gonçalves de Almeida. As sementes foram adquiridas na própria feira e plantadas na terra fofa e arenosa do Sítio Pintado. Acrescenta Clodomiro de Albuquerque (1934) que muitos agricultores ganharam os seus “cobres” plantando macassinha e batata.
A macassinha tinha o poder de fortificar as terras fracas e trazer textura permeável ao solo, condições requeridas pela batata. O método de plantão era unicamente os leirões, sem qualquer preparo especial. De maneira que o homem simples do campo, com pouca técnica, podia produzir a batatinha garantindo a sua renda durante quase o ano todo.
Esperança produzia em 1918 a cifra de 150.000 quilos, que era vendida a 100 réis o quilo. Celso Mariz (1939) nos informa os índices de produção deste produto nos anos seguintes:
- 1934: 600.000 quilos;
- 1935: 1.375.000 quilos
- 1936: 380.000 quilos.
As oscilações eram devido ao empenho dos agricultores e a “conflagração europeia dando lugar, primeiro à escassez e depois a ausência completa da batatinha nos mercados nacionais” (Boletim MA: 1927).
Para dar suporte a esta cultura, com o apoio dos governos federal e estadual, surgiu em nosso Município a “Cooperativa de Crédito Agrícola de Esperança” (Decreto nº 831, de 19 de maio de 1936) que concedia não apenas crédito, como classificava as sementes e distribuía para o mercado interno. Os principais fomentadores desta inciativa foram Antônio Patrício, Joaquim Virgolino e Heleno Henriques.
     Os regimes de secas aliados aos baixos preços e a ocorrência de pragas diminuíram o plantio da batatinha na região polarizada por Esperança. Muitos agricultores foram obrigados a investir nas roças de feijão e milho.
A batata inglesa hoje está um pouco esquecida, merecendo o seu incremento agrícola em nosso Município, por ser uma alternativa agricultável para os pequenos produtores.

Rau Ferreia

Referências:
- A NOITE, Jornal. Edição de 03 de outubro. Rio de Janeiro/RJ: 1918.
- A NOITE, Jornal. Edição de 13 de novembro. Rio de Janeiro/RJ: 1934.
- ALMEIDA, José Américo de. A Parahyba e seus problemas. Imprensa Official: 1923.
- MA, Boletim. Volume XVI. 2ª Edição. Ministério da Agricultura. Rio de Janeiro/RJ: 1927.
- MA, Relatório. Circulação dos produtos agrícolas e custo de vida: em relação dos artigos de alimentação no Brasil (1921-1923). Diretoria de Inspeção e Fomento Agrícolas. Imprensa Nacional: 1925.
- MARIZ, Celso. Evolução Econômica na Paraíba. A União Editora. João Pessoa/PB: 1939.
- PARAHYBA, Anuário da. Volumes I-III. Imprensa Official: 1934.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

A origem...

DE BANABUYU À ESPERANÇA Esperança foi habitada em eras primitivas pelos Índios Cariris, nas proximidades do Tanque do Araçá. Sua colonização teve início com a chegada do português Marinheiro Barbosa, que se instalou em torno daquele reservatório. Posteriormente fixaram residência os irmãos portugueses Antônio, Laureano e Francisco Diniz, os quais construíram três casas no local onde hoje se verifica a Avenida Manoel Rodrigues de Oliveira. Não se sabe ao certo a origem da sua denominação. Mas Esperança outrora fora chamada de Banabuié1, Boa Esperança (1872) e Esperança (1908), e pertenceu ao município de Alagoa Nova. Segundo L. F. R. Clerot, citado por João de Deus Maurício, em seu livro intitulado “A Vida Dramática de Silvino Olavo”, banauié é um “nome de origem indígena, PANA-BEBUI – borboletas fervilhando, dados aos lugares arenosos, e as borboletas ali acodem, para beber água”. Narra a história que o nome Banabuié, “pasta verde”, numa melhor tradução do tupi-guarani, ...

Padre Luiz Santiago. Suas origens

Padre Luiz Santiago Onde nasceu o Padre Luiz Santiago? Antes, porém, precisamos responder quem foi este clérigo polêmico e ousado; filósofo, arqueólogo, historiador, escritor e piloto de avião, uma personalidade com ideias muito avançadas para o seu tempo. Os seus pais Delfim Izidro de Moura e Antonia de Andrade Santiago uniram-se em casamento no Sítio Lagoa Verde, em Esperança, a 18 de novembro de 1896, de onde seguiram para residir numa propriedade na Meia Pataca. Fruto desse enlace matrimonial, nasceu em 25 de agosto de 1897 um filho, a quem deram o nome de "Luiz". A “Meia Pataca” é uma comunidade rural na divisa de Esperança e Remígio, dividida por um acidente geográfico, ficando assim chamada de “Meia Pataca de Cima” e “Meia Pataca de Baixo”. A maior parte pertence a Esperança, terra agricultável para feijão e batatinha, sendo assim chamada, pela tradição, por ali ter sido encontrada uma moeda de valor. Uma áurea de mistério envolve o lugar. O menino cresceu o...