Quando das minhas andanças por força
do ofício na Beleza dos Campos, deparei-me com um cidadão que me mostrando uma
casa moderna disse que ali residiram dois grandes do direito local: um tal
Silvino e o outro Dr. Durval.
Conheci o segundo, já velho e cansado
peticionando em alguns processos criminais que diziam ser especialista,
advogando para gente abastarda e comerciantes de carnes. Cheguei a visitar sua
vasta biblioteca com aqueles compêndios encadernados e coleções de direito A-Z.
Pareceu-me mesmo um grande tribuno defendendo a sua causa no júri. Foi a minha
primeira grande impressão e acho até que estava decidido a ser bacharel. Não
durou muito e, formado sem anel no dedo, aspirava já ser promotor...
Mas o que reclama esta minha crônica
não é a vida pessoal e sim o que me dissera aquele desconhecido numa tarde de
quinta-feira.
Narrava-me que certa feita que
Silvino avistando o funeral de uma criança que passara repetira: “Nem todas as flores tem a mesma sorte, umas
enfeitam a vida outras enfeitam a morte”.
De certo que imaginara o interlocutor
ser de sua autoria a frase posta, que guardei na memória. Anos depois descobri
que esta pertence ao provérbio português, também citado numa das canções por Bob
Marley.
Na época nem imaginei que o velho quisesse
exaltar a figura de um poeta que, para mim era desconhecido.
Anos mais tarde, me embrenhando na pesquisa
cheguei à conclusão leviana: Silvino nunca dissera tal impropério como sendo
seu e se o fizera certamente não fora esses os versos.
Creio, por mais absurdo que pareça,
que a sua intenção – se é que o fato atribuído pelo transeunte realmente existiu
– era recitar a quadra que fora publicada em ’97 na sua obra “Badiva”:
Atropelos
d’Esta: - Senhor!
Antes
da Vida e da morte!
Se
tem sorte e tem amor,
Só
tem amor, não tem sorte!
Pretensão minha querer corrigir um
erro de meio século.
Quem sabe tudo não passou de uma “Bravata” daquele desconhecido, desfiando
este pobre neófito recém concursado a conhecer a sua própria história.
Na lida diária fui testado em todos
os sentidos. Mas fica aqui o registro: se as flores têm sorte diferente que
dirá deste pobre escritor!
Rau Ferreira
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