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Da descontinuidade cultural (ou ciclo vital autofágico)

Por esses dias encontrei-me com Raimundo Viturino – filho do nosso querido Moleque Sapateiro – que veio a Esperança pelo luto de sua querida mãe (30/03); falamos de assuntos diversos, a lamentar a descontinuidade cultural: a luta de Marquinhos Pintor, seu irmão; a persistência de alguns; o abandono dos intelectuais da geração anos 80 (a exemplo de Jacinto Barbosa); os ideais que nos cercam!
Providencial é mesmo a vida, e hoje me remete o amigo Jônatas Pereira um recorte do antigo DB (Diário da Borborema) em texto assinado por parte da nata intelectual daquela geração: Roberto Cardoso, Marinaldo Francisco e Josemiltom Pereira.
Mas as coincidências não ficam por aí. Não fosse as minhas conjecturas com Evaldo Brasil sobre estes fatos que envolvem a cultura esperancense, e que ousamos chamar de “Ciclo Vital Autofágico”, pois a cada dez anos uma pedra se move neste arraial para acontecer algo inolvidável. O problema é que outra só vai cair no próximo Halley!
Pois bem. Dizia-se naquele artigo dos pequenos folhetins que por aqui circularam (Correio, O Tempo, Vanguarda Esperancense, Lyrio Verde da Borborema...) todos estes experimentaram uma vida efêmera e tiveram o destino de seus predecessores, e considerava que “a comunidade demonstra inapetência pelas iniciativas que venham despertar o gosto pelas artes e pela cultura”.
As escolas públicas – já naquele tempo – sofriam uma decadência em seus ambientes físicos e mais ainda no seu corpo docente; das existentes, apenas três eram reconhecidas pela Secretaria Estadual, funcionando as demais com um aval provisório.
A biblioteca iniciada nos anos 40 apresentava um “pobre acervo”, carente e mal administrada, possuía doze funcionários que se revezavam em três turnos. A utilização era in loco e para empréstimo apenas uma pessoa estava autorizada à liberação dos livros. O local não era adequado, de maneira que obras importantes foram dispensadas para dar lugar a publicações mais recentes.
A juventude estudiosa buscava formas de iniciativa cultural, porém os órgãos representativos tinham uma vida “semi-morta”, a exemplo do Centro Cívico do Colégio Estadual. Nem mesmo a palavra do grupo teatral que logrou êxito na Gincana Cultural “Descubra a Paraíba” (1985) era suficiente para inflamar aquela chama.
Também naquela época o CSU funcionava em condições precárias, apesar de ter em seu quadro 14 funcionários da edilidade.
A sociedade clamava por estímulos de arte e recreação, desporto e lazer.
De tudo isso, concluía-se que “Esperança é uma cidade onde as atividades intelectuais, culturais e artísticas, são relegadas a segundo plano”.
Reclamavam os intelectuais de nossa cidade do sistema de som da Câmara Municipal que era deficitário: “ao invés de divulgar os atos do legislativo, tem servido como órgão comercial de especulações financeiras usando como pano-de-boca a ‘utilidade pública’.
 

Rau Ferreira

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