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No riso de uma mulher (Josué/Mofumbão)


Os versos seguintes foram reproduzidos por Vicente Simão e atribuídos a Josué da Cruz (1904/1968), em entrevista concedida no dia 17 de maio de 2010.
Seu Vicente é um contador de “causos” esperancense, que com muita galhardia e boa memória narra os fatos pretéritos da nossa cidade. Exaltando figuras lendárias esperancenses, nos chama a atenção para a preservação da nossa história.
Na versão que me fora apresentada, o prefeito de Arara (PB) estava numa garagem com alguns correligionários, assistindo a uma cantoria, quando pediu que Josué e o outro repentista trocassem alguns versos. O mote proposto pelo político foi “No riso de uma mulher”.
Josué recusou-se. Porém, o colega cantador incentivou-o a seguir o repente, tendo o poeta Josué proferido a seguinte estrofe:
“Mulher animal ingrato
Sabe o que me aconteceu
um dia minha mulher me deu
sopa com erva de rato
teria morrido de fato
se não provasse da colher
sentindo um gosto qualquer
joguei fora e não tomei
foi tudo o que encontrei
no riso de uma mulher”.

Coutinho Filho, em sua obra “Poetas e Glosadores”, afirma que os versos são de autoria de Mofumbão, “um preto velho glosador do tempo de Ugolino do Sabugi e romano do Teixeira” (SOBRINHO: 2003) e recita os versos feitos sob o mote “Mulher, coração de Nero,/Quem ama não faz assim”:

Perdi toda a confiança
Que tinha em tua pessoa,
Agora deixo-te à toa
Sem rumo, sem esperança,
Quero somente a aliança
Que te foi ofertada por mim,
Porque procuraste o fim
De um amor puro e sincero,
Mulher, coração de Nero,
Quem ama não faz assim.

José Alves Sobrinho afirma que os versos acima atenderam a um amigo que, sentindo-se traído pela mulher, lhe solicitou o mote que deu origem à rima.
Coutinho Filho, por sua vez, disse que os versos de “Mulher, animal ingrato” foram ditados por José Guedes da Silva, um ex-tenente da polícia, natural de Teixeira (PB). A esta altura, já não podemos afirmar quem copiou quem, ou mesmo quem seja o autor daquela estrofe, se Josué ou Mofumbão.

Rau Ferreira

Referências:
- FILHO, F. Coutinho. Repentistas e Glosadores. A. Sartorio & Bertoli. São Paulo/SP: 1937.
- SOBRINHO, José Alves. Cantadores, repentistas e poetas populares. Bagagem. João Pessoa/PB: 2003.

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