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É pênalti!

Em novembro de ’56 o “Mequinha” recebia, em seu estádio recém construído, o glorioso time do Botafogo da capital para um importante amistoso. A equipe havia sido convidada por José Ramalho, e a partida entraria para a crônica esportiva da Parahyba no dia 15 daquele mês e ano.
Naquele feriado a cidade estava em festa. Como de costume, todos se dirigiam ao antigo campo da Lagoa que um dia fora cercado de aveloz para assistir a mais um jogo futebolístico patrocinado pelo América Futebol Clube.
O estádio da agremiação era um verdadeiro colosso. As suas dimensões atendiam aos padrões oficiais do futebol e sua arquibancada de madeira dava o conforto necessário para os espectadores, embora muita gente permanecesse atenta no alambrado.
O município vivenciava o auge do Sisal, fibra que beneficiada servia à indústria automotiva e que também era produto de exportação. Em menos de três anos foram instalados na cidade três moinhos de torrefação de café (Dona Branca, Imperador e Lyrio Verde), uma indústria de beneficiamento de fibra de sisal, com cerca de duzentos operários (Nogueira & Cia), construção do mercado público, instalação de uma agência bancária (Banco do Comércio de Campina Grande S/A) e da coletoria estadual, uma escola com 600 alunos (Ginásio Diocesano) e um curso técnico, que funcionava no educandário “Irineu Jóffily”.
O árbitro pessoense dá início ao amistoso. Logo no primeiro tento, o América de Esperança abre o placar com um gol de Aprígio aos trinta minutos. A multidão que acorreu ao campo vibrou com a jogada que terminou por balançar as redes adversárias.
Não demorou muito para o contra-ataque. O botafoguense Garcês avançou adentrando a grande área dos americanos, momento em que é derrubado e sofre a penalidade máxima:
- É pênalti! Gritou o juiz da partida acompanhado pelos bandeirinhas que sinalizavam a marca.
Foi. Não foi. As opiniões eram divergentes. Os jogadores não se entendiam e estava formada a confusão. Enquanto a comissão de arbitragem procurava fazer valer a sua decisão, o capitão americano toma a bola e impede que a falta fosse cobrada. Recebe ameaças, mas permanece irredutível.
Diante daquele “ato indisciplinar” o jogo foi paralisado à espera de uma solução. Todavia, não só os jogadores como o próprio presidente do clube apoiaram a atitude de Gilvan, resultando na suspensão da partida poucos minutos antes do fim do primeiro tempo.
Para Chico de Pitiu – ex-técnico e dirigente do América – nunca existiu aquela penalidade, pois o atleta ao perder o domínio da bola na grande área forçou uma marcação inexistente, dando como certa a iniciativa do jogador:

A atitude do atleta Gilvan, foi sem dúvida nenhuma uma indisciplina, se bem que ditada pelas circunstâncias. Foi primeiro de tudo um protesto contra o esbulho que o árbitro pessoense queria praticar contra o AMÉRICA” (LIMA: 1994, p. 88)”.

Pitiu encerra seus comentários alegando que isso são coisas que acontecem no futebol.
Paixões a parte, o amistoso foi finalizado e a equipe rubro-negra retornou à Capital insatisfeita com o um a zero inicial.
Para essa inusitada disputa, o América entrou em campo com: Manoelzinho, Erasmos e Edmilson; Vavá, Aragão e Mafia; Neide, Aprígio, Gilvan, Pretinho e Teixeirinha.
A formação dos visitantes era a seguinte: Brasil, Barbosa, Tita, Garcês, Berto, Tito, Nuca, Escurinho, Milton, Paulinho, Joãozinho e Sílvio.

Rau Ferreira

Referências:
- MARQUES, Walfredo. História do futebol paraibano: 1908-1968. União Editora. João Pessoa/PB: 1975.

- LIMA, Francisco Cláudio de. 50 Anos de Futebol e etc. Ed. Rivaisa. João Pessoa/PB: 1994.

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