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A Cassação de Chico Souto

 


Esperança tem uma história de disputas que remonta aos anos 40, desde que “Duartes” e “Honórios” mostraram posições antagônicas.

De lá para cá, o vento Norte nunca foi o mesmo: um dono de cartório deixou o seu balcão para assumir uma vaga na Assembleia Legislativa, um agente fiscal saiu da coletoria para ser gestor, um dentista saiu do consultório... e assim por diante.

O Deputado Estadual Francisco Souto Neto foi cassado por ordem do Exmo. Presidente da República. O chefe do governo, nos termos do AI-5, após relatoria do CSN e informações do Serviço Nacional de Inteligência, resolveu punir diversos parlamentares em todo o Brasil.

Em seu prontuário foi anotado o seguinte:

Agitador. Desenvolveu campanha impatriótica de agitação das massas camponesas, particularmente nos municípios de Sape, Rio Tinto, Mamanguape e Guarabira. Foi assistente jurídico das referidas ligas e quando Secretário de Segurança era o introdutor no Palácio de líderes camponeses. - Facilitou a fuga de elementos comunistas. – Ataca sistematicamente as Forças Armadas. Corrupto. Quando Secretário de Segurança, visando fins eleitoreiros, determinou aos seus subordinados que não tomassem providencias contra os camponeses, mesmo naqueles conflitos dos quais resultaram mortos e feridos. - Como Presidente da I Comissão de Investigações não se empenhou para expurgar os corruptos e subversivos da administração pública. Comunista. Estabelecia contatos com altos dirigentes comunistas, prestigiou todas as conferências realizadas por comunistas, além de assinar manifestos que pregavam a legalização do PC. Antirevolucionário. Atacou o Exército classificando seus componentes de venais por ocasião da repressão de agitações camponesas em Sapé. Quando Presidente da Comissão Especial de Reforma da Constituição, foi um dos responsáveis pelo substitutivo que continha comentários altamente desairosos à Revolução” (Ata 46 do Conselho de Segurança Nacional. Arquivo da Comissão da Verdade e Preservação da Memória do Estado da Paraíba).

Na Paraíba, perderam o mandato eletivo, além do deputado esperancense, os arenistas Robson Duarte Spínola e Sílvio Pelico Porto.

Na área municipal, foram suspensos os direitos políticos, com cassação do mandato eletivo, por dez anos, o prefeito de Campina Grande, Ronaldo José da Cunha Lima.

A anistia só veio em 1979,

A revolução de 64 cassou e suspendeu direitos políticos de nada menos que 4.682 cidadãos brasileiros. Mais de 500 parlamentares perderam seus mandatos, não podendo sequer se candidatar.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- O TELSTAR, Jornal. Ano III, Nº 01. Edição de janeiro. Esperança/PB: 1965.

- CARDOSO, Lucicleide Costa. CARDOSO, Célia Costa (org). Ditaduras: memória, violência e silenciamento. EdufBA: 2017.

- SOBREIRA, Dmitri da Silva Bichara. Faces de Clio. Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História. ISSN 2359-4489. Julho/dezembro. UFJF: 2018.

- COMMERCIO, Jornal (do). Ano LXIV, N. 20.152, edição de 14/03/1969.

- COMMERCIO, Jornal (do). Ano LXXV, N. 22.759, edição de 24/06/1979.

Comentários

  1. Sempre bom ver um lado pouco conhecido das nossas lideranças políticas... Ao tempo, as acusações serviam para justificar perseguição, intolerância etc. Hoje, pra mim, atenuantes diante dos rumos que Esperança tomou sob a influência dele.

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