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Memorialismo x Progresso

Pesquisar revendo jornais antigos de mais de meio século, empoeirados e mofados sempre me dão náuseas; chego a passar mal de verdade. Na maioria das vezes, levo dois ou três dias para me recuperar. O ar é rarefeito naquela sala minúscula, os livros são imensos (80 x 50 cm) e pesados. O manuseio tem que ser cuidadoso para não danificar as peças e muitas vezes, para ter acesso a um determinado ano é preciso levantar vários desses exemplares o que exige esforço físico.
Míope que sou, sinto dificuldades em ler e por isso achego-me cada vez mais perto, sorvendo o cheiro funesto e mórbido dos jornais velhos. E é preciso ler folha a folha, dia-dia, mês e ano; até encontrar a data certa e a reportagem que procuro. Contudo nem sempre encontro.
Este dia foi uma exceção, mesmo assim folheei metade do ano de 49 - o que nos dá em torno de 960 páginas - uma a uma... O resultado é queda de pressão, dor de cabeça, sinusite aguda e problemas respiratórios, ai de mim!
E o fruto deste labor vai para o blog inteiramente de graça! À disposição de estudantes, professores, históriadores, pesquisadores etc. Mas você pensa que tenho algum valor... Talvez nunca terei. Quedo-me a frase de Noite Ilustrada que em uma de suas canções nos diz: "Quem quiser fazer por mim, que faça agora!".
Enquanto isto a cidade segue o seu famigerado progresso, demolindo construções antigas e alterando fachadas de edifícios. E a história vai sendo apagada!
Confesso que não me impressiono mais ao perceber que as pessoas desconhecem as nossas figuras mais importantes: Silvino Olavo, Elysio Sobreira, Epaminondas Câmara, Gemy Cândido, Monsenhor José Coutinho e tantos outros esperancenses ilustres.
De uma forma geral a cultura ficou relegada a terceiro plano. Afinal, o que interessa é aquele jogador famoso, o cantor de sucesso ou o apresentador de TV, resultado de uma exposição fulgaz que será renovada a cada novo escândalo ou aparição.
E o que vão herdar nossas crianças? Cacos de uma sociedade materialista e consumerista, sem memória e sem cultura.
É provável que não veja este “futuro” que antevejo – e ao que parece será melhor assim!?

Rau Ferreira

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