Padre Zé Coutinho
nasceu em 18 de novembro de 1897, numa quinta-feira, às três horas da tarde, no
povoado de Esperança. A sua casa ficava na esquina entre as ruas Manuel
Rodrigues e Solon de Lucena. Essa residência foi derrubada nos anos 90 e hoje
abriga uma loja de peças de automóveis.
O seu pai era
Conselheiro Imperial, cargo que exerceu até o início do Século passado, atuando
em diversas cidades do Brejo paraibano, inclusive Esperança, onde o futuro
padre nasceu.
O seu tio,
Monsenhor Odilon Coutinho, se destacou como educador e político; foi deputado
estadual nos anos 20, e Cônego Honorário do Cabido Metropolitano, além de
Monsenhor Camareiro Papal e membro do Instituto Histórico e Geográfico da
Paraíba.
Seus padrinhos
deixaram tudo o que possuíam para o afilhado, sendo o principal bem a
propriedade “Maris Preto” em Montadas, que foi vendida pelo vigário em 1927, quando
este se dedicou à causa da pobreza, peço preço de sete contos de réis.
Costumava
confessar os pobres, não esperava que ninguém viesse lhe chamar, ele mesmo ia a
procura das pessoas carentes e ainda deixava cinco cruzeiros para a comida.
De repente, passou
a servir comida para a comunidade. Esse serviço contava com um cardápio bem
eclético, por exemplo, na quarta-feira era peixe com farofa e arroz e no sábado
pirão: “porque dá sustança ver um caldeirão com tudo que é troço bom pra
comer”, dizia o padre.
Ele foi o primeiro
a pagar o salário completo na Paraíba ao trabalhador. Também dispunha médicos
aos operários.
“A minha obra é
revolucionária”. E era mesmo! Passou a ofertar cursos para as mulheres.
Eram as “artes domésticas”. Os homens também aprendiam os seus ofícios de
sapateiro. Ele também organizou um lugar para acolher os “camaradas que não
tem pão”. Eles chegavam, dormiam; uns passavam mais que um dia, dois ou
três. Depois tomavam rumo. Outros permaneciam, por não ter para onde ir.
Avançando um pouco
mais em sua obra social, idealizou o seu “hospital” onde as pessoas também
aprendiam a se tratar. Se tinha família ou não, era bem tratado. “E assim
vamos fazendo aquela grande caridade”, afirmava Padre Zé.
O seu espírito
caridoso sobressaia apesar das dificuldades financeiras: “É muito duro dizer
que tem pessoas passando fome, ainda hoje chegou aqui uma pobre mãe, e tem mãe
chorando com fome aqui é todo dia, toda hora, eu só queria nunca ver ninguém
com fome”.
Em sua
autobiografia (Aos que não me conhecem, sou o Padre Zé, o homem mais doido da
Paraíba) narra as principais ações desde a época de seminarista até o seu
instituto, que auxiliou muitas pessoas, dentre as quais se destaca o jornalista
Natanael Alves e o Desembargador Simeão Cananéa.
A Revista da
Esperança, publicada nesta cidade em 1997, destaca que:
“As obras assistenciais de Padre
Zé chegaram até a impressionar a imprensa nacional com destaque para a revista
Visão, que considerou os seus trabalhos como ‘milagres’.
O que a imprensa chamava
de milagre ele chamava de ‘doidice’ pois achava que só mesmo estando maluco
para conseguir administrar tantas obras, com recursos provenientes de esmolas”.
“Ele regia, tocava
e compunha”, também anota a revista, tendo como instrutor José Grande, autor de
“Lamego”. No Seminário fundou a Orquestra Regina Pacis, adquirindo os
instrumentos através de uma cota entre os padres; a orquestra se apresentava
nas capelas e igrejas, regida pelo próprio Padre Zé que organizava festas
beneficentes.
Compôs o Novenário
de N. S. do Carmo e fez a partitura do Hino de N. S. das Neves com letra do
Cônego João de Deus M. da Cruz.
Certa feita, descia
para a Lagoa, no centro da Capital, quando dois homens armados entraram em
conflito. O Padre Zé levantou a mão e ambos pararam, entregando-lhe as facas
peixeiras, ao que respondeu o vigário: “Muito obrigado, prezados, isso vai ter
mais serventia em minha cozinha”. Depois disso, cada um seguiu o seu caminho.
Escreveu artigos para
os jornais “O Note”, “Correio da Paraíba” e “A União”, e tinha seu programa
semanal na Rádio Tabajara (Meia Hora com o Padre Zé) que aproveitava para
prestar contas do seu trabalho assistencial e angariar contribuições para a
suas obras.
Esse era o Padre
Zé.
Rau
Ferreira
Referências:
-
ARUANDAPLAY. Documentário: Padre Zé estende a mão. Direção Jurandy Moura.
Fotografia João Córdula. ACCP Produtora. Disponível em: https://www.aruandaplay.com.br/filme/padre-ze-estende-a-mao/,
acesso em 08/05/2023.
- ESPERANÇA, Revista. Centenário
de Padre Zé,
texto de Anaelson L. de Souza. Edição de 20/10 à 20/12. Esperança/PB: 1997.
-
PARAÍBA, Jornal (da). O exemplo de
Padre Zé, texto de Rubens Nóbrega. Domingo, 24 de julho. João
Pessoa/PB: 2011.
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