"Sombra Iluminda" (1927) foi o segundo livro poético de Silvino Olavo. Na época, era comum os autores comentares a literatura nos jornais. Aliás, os periódicos serviam a uma série de coisas: publicavam atos oficiais, notícias, reclames, enfim faziam a interligação da Capital com o interior.
E o suplemento de arte trazia a moda parisiense e os escritos dos mais imporantes autores, a exemplo de José Américo de Almeida.
Este que encontramos no Jornal “A Unão” é de autoria do nosso conterrâneo Samuel Duartel, publicado na edição de domingo, 08 de janeiro de 1928.
Conforme escreveu, alguém interrogara em certo ambiente: “Quem é esse Silvino Olavo que publicou uma tal Sombra Iluminada?”.
Duas moças que se faziam acompanhar de um primo responderam em sussuros a um outro cidadão: que era um bacharel e que fazia versos e danças no Clube dos Diários, traduzindo-o por simpático e inteligente.
Antes que outros se pusessem a decifrar o seu autor interveio o Dr. Samuel, conceituando a sua obra como sendo “a projeção crepuscular de um poeta que visiona, na paisagem humana do sentimento, harmonias discretas, em notas fugitivas que apenas deixam um rumor de asa macia e passam”. Afastava assim, de início, o preconceito de certos fidalgos, não versados em letras, pela arte da escrita.
E referencia o seu livro anterior (Cysnes) acrescentando que a voz que antes era apenas um balbucio, agora “evoca nuances que só o gosto muito educado surpreende”.
E finaliza: “em Sombra Iluminada experimenta-se a tradução de uma sensibilidade que visiona encantos, estados emotivos, que outros nem sequer suspeitaram ou souberam exprimir, numa dessas insuficiências que é o desgosto de tantos torturados”.
Segundo ele, Silvino Olavo, fugindo da popularidade dos poetas de almanaque, permanece distante do conceito de tais burguêses, mais preocupados com as contas e os lucros do seu comércio do que com a verdadeira essência da vida.
E afirma que: “a vaidade de um artista deve sobriamente contentar-se da admiração dos que podem compreender e amar a sua arte”. Assim não cairão nas armadilhas da vulgaridade e “universalizando-se nos recitativos e nos comentários de botequins”.
“A verdadeira fama”, conclui, “é a que mantém as multidões em respeito, para que admirem, sem se adiantarem a comentar e tornar suas, por um uso imoderado e rapinario, as coisas belas que sabem dizer os privilegiados dos talentos”.
E compreende que a que a poesia olaviano está inetiramente distante, sendo portanto original e livre de escolas.
No detalhe da foto, o Dr. Samuel Vital Duarte.
Rau Ferreira
Fonte:
- Jornal “A União”, órgão Oficial do Governo do Estado da Paraíba, Suplenento Arte e Literatura, artigo de capa, Domingo, 08/01/1928.
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