Recém criado, o Município de Esperança precisava ganhar forma. A sua institucionalização, passava, não apenas pelo executivo municipal, mas também pelo legislativo, órgão fiscalizador daquele.
Os
primeiros conselheiros haviam sido eleitos em 22 de agosto de 1926. Agora,
deviam tomar posse, para assim iniciarem o seu exercício. Era uma grande
solenidade para a nova comuna, a qual não poderia faltar o governante estadual,
que tornou a nossa emancipação política em realidade.
O
Presidente João Suassuna (1924-1928), em excursão pelo Estado, chegou a
Esperança por volta das 16 horas. Antes passara por Serraria e Remígio, onde
fez breve parada. Aqui, foi recepcionado por Theotônio Cerqueira Rocha que
expressou “as saudações da villa de Esperança, transbordante de alegria por
todas as suas classes sociaes, pela honra de hospedar o sr. presidente do
Estado” (A União: 19/10/1926).
Com
efeito, João Suassuna ficara alojado na residência do prefeito nomeado,
comerciante Manoel Rodrigues de Oliveira, onde se serviu champagne por
volta das 17 horas, seguido de um banquete em uma mesa “artisticamente
ornamentada, tendo ao centro um grande S iluminado à eletricidade” (A
União: 19/10/1926). A energia elétrica municipal, também havia, há pouco (maio/1925)
sido inaugurado por este governante.
Em
seu discurso, destacou o adjunto de Promotor, nomeado por Suassuna (A União: 30/12/1925)
“a consecução da autonomia do município, para concluir externando em nome de
todos um grave juramento de fidelidade à chefia política de sua excia” (A
União: 19/20/1926).
Elysio
Sobreira, capitão da Força Policial, e ajudante de ordens de Suassuna, considerado
como um dos líderes políticos da pequena vila, também expressou os seus
sentimentos, lendo um eloquente discurso, cujo trecho reproduzo:
“Exmo. sr. dr.
João Suassuna: Meus amigos e correligionários; - Pela segunda vez em que a
nossa terra é honrada com a visita de v. exc., visita que tão profundamente
fala à alma esperancense, não é, de certo, a minha palavra que alto possa
traduzir o reconhecimento e a gratidão desse povo independente e feliz.
Hontem, quando
apenas éramos uma tentativa, Esperança saudava o exmo. sr. presidente do
Estado; hoje que somos uma realidade, alegres saudamos simultaneamente o
presidente e o chefe supremo do nosso partido.
É isso o produto
da grande alma cívica iniciada pelo grande brasileiro Epitácio Pessoa.
É ainda a
continuação daquela política liberal, honesta e sem prevenções.
V. exc. confiando
a formação do seu caráter à escola cívica de Antônio Pessoa, subiu as
escadarias do poder forrado das mais sólidas credenciais.
Era uma mocidade
que se erguia confiante para o engrandecimento social e político da nossa
terra.
Uma fatalidade
enlutou a nossa cara Parahyba.
Foi a perda
irreparável do grande apostolo dos nossos destinos políticos, a cuja memória
rendo aqui o preito da minha comovida homenagem e imorredoura gratidão, como um
dos auxiliares daquele estadista que foi o dr. Solon de Lucena.
Não me cabe dizer
o quanto foi benéfica a sua atuação nos destinos sociais e políticos da
Parahyba.
Cumpre-me,
entretanto, dizer que aquele seu modo de retribuir as ingratidões com
solicitude, que para alguns maledicentes parecia medo, ao envez de tolerância,
era antes de tudo um traço de robustez de sua privilegiada organização moral.
Morreu o
pacificador dos nossos destinos republicanos.
Toda a Parahyba
continuou vendo na personalidade de v. exc. o único capaz de assumir a direção
do partido.
E hoje com orgulho
proclamamos: temos um orientador à altura das nossas expectativas.
E tudo o que somos
e tudo o que havemos de ser com a realização dos nossos sonhos de liberdade
devemos à ação enérgica, decisiva e consciente da modelar gestão de v. exc.,
com o apoio daquela vontade há alguns tempos atrás perdida na voragem da morte.
E não foi só
Esperança que fruiu a torrentosa corrente de benefícios que é a atuação de v.
exc., mas a Parahyba toda que tem, na figura máscula de seu presidente e chefe,
um verdadeiro padrão de virtudes cívicas e morais.
Uma das feições do
governo de v. excia. há sido sempre o destemor com que vem repelindo a horda de
malfeitores, expulsando-a dos sertões parahybanos; batendo-a até fora das
nossas fronteiras.
Em tudo, porém, v.
exc.se ai com galhardia e triunfa com fé.
O que é deve a si
próprio, a intangibilidade de seu caráter.
Desconhece conveniências
e subterfúgios.
Não tem vaidades
nem alimenta orgulho.
Subiu, não com a
ânsia de quem quer subir e dominar visando a embriagues do triunfo público, mas
com a fé ardente de quem anseia ver a sua terra prosperar dentro da concórdia,
donde se divisa o progresso estável, seguro e eficiente de um povo.
Meus amigos,
levantemos as nossas taças pela prosperidade do Estado e pela felicidade
pessoal do nosso presidente e querido chefe” (A União: 19/10/1926).
Em
resposta, respondeu o Presidente do Estado, Dr. João Suassuna:
“Deve a todos ser percebível
a satisfação com que recebo mais esta homenagem tributada em nome de Esperança
por Elysio Sobreira, o meu velho e prezado amigo de todos os tempos, o auxiliar
eficiente, leal e dedicado cumpridor de seus deveres, a quem em boa hora
confiei a gestão da polícia do Estado.
Sim. É hoje um dia
verdadeiramente significativo para esta localidade quando, com a presença de
autoridades, amigos e qualificados companheiros de viagens, vimos assistir à
evolução social dessa vila, constatando a confirmação de uma independência, que
e um seu antigo sonho e que o povo desta terra há muito e muito aspirava.
E depois outra, a
esta ainda mais valiosa, que veio completar definitivamente a organização de
Esperança em município, a maior, foi a escolha que o dr. Solon de Lucena, com a
clarividência que todos lhe reconhecíamos, fez do coronel Elysio Sobreira para
orientar os destinos políticos da nova comuna.
O grande chefe até
o momento de publicar o seu ato conservou-se no seu recolhimento discreto,
peculiar aos seus hábitos e quando na sua fazenda manifestou o seu ato a mim e
ao cel. Sobreira, da escolha feita, ele acrescentou que havíamos de verificar o
alcance político daquela media.
...............................................................................................................................
Eu tive intensa
alegria em assinar os atos emanados do poder legislativo e proclamar a vida
constitucional desta terra e pelas minhas relações com seu chefe e pelo modo
franco com que costumo agir nestas emergenciais, mereci deste então a simpatia
que o povo de Esperança me dedica e que eu mais uma vez agradeço. [...]” (A
União: 19/10/1926).
Às
19 horas, em cortejo, o presidente João Suassuna dirigiu-se à sede do Conselho
Municipal onde se realizou “a posse da primeira câmara legislativa da novel
comuna parahybana” (A União: 19/10/1926).
Após
a cerimônia, discursou Leonel Leitão, que fora escolhido para exercer a
presidência do Conselho Municipal, ele que também era comerciante, tendo uma
casa de tecidos, miudezas, calçados e chapéus nesta cidade. Elogiou o
governador, teceu comentários sobre a sua administração, em homenagem prestada
com a aposição de seu retrato naquele recinto, convidando-o para descerrar também
as fotografias de Epitácio Pessoa e Solon de Lucena que se afixavam no
conselho.
O
comandante Elysio Sobreira recebeu dois telegramas, direcionados à
municipalidade esperancense, acerca destes acontecimentos:
Areia, 26 – Não
podendo comparecer fineza apresentar exmo. presidente respeitosos cumprimentos
justo ato creação município confirmado hoje posse Conselho. Aceite tramita
laborioso povo sinceros abraços – José Patrício.
Campina Grande, 26
– Congratulo me povo Esperança nova aurora civil. Confesso-me reconhecido
governo benfeitor Solon, Suassuna interessados progresso independência nosso
torrão natal. Saudações – Cônego Borges.
*
* *
Fato
interessante, nesta visita do governador, é que naquela oportunidade foram
inauguradas as primeiras ruas, com os nomes de Presidente João Suassuna, Epitácio
Pessoa, João Suassuna, Solon de Lucena, Carlos Pessoa e do Professor Juviniano
Sobreira. Na primeira delas, falou o Professor Francisco Sales, que disse:
“Esperança, lutando com dificuldades, e atravessando os maiores embaraços,
conquistou a sua independência de município autônomo”.
Na
inauguração da rua Carlos Pessoa, falou o Sr. João Serrão: “poucos nomes se tem
impresso em nossa terra com um lastro de tão claras e brilhantes qualidades”,
dizendo que não era um ilustre desconhecido, elogiou o líder da Assembleia, que
assumia há pouco uma cadeira no Congresso Federal.
A
avenida Epitácio Pessoa, a rua principal da cidade (hoje Manoel Rodrigues), foi
inaugurada por Theotônio Rocha; a rua Solon de Lucena (rua do Sertão), coube o
discurso proferido por Severino Diniz, que destacou o empenho daquele político,
em relação “a solicitude demonstrada já nos últimos tempos de sua existência,
em torno à aspiração máxima de Esperança”.
A
última rua a ser inaugurada foi a do Professor Juvinano Sobreira, progenitor do
Cel. Elysio Sobreira, falando Bartholomeu de Barros “os sentimentos de mágoa e
de saudade do povo esperancense pelo desaparecimento do patriarca da
independência local”.
Após
os festejos, reuniram-se as distintas famílias da localidade do Conselho
Municipal, seguindo-se danças, animadas pela banda de música de Areia,
“constituindo uma encantadora nota de elegância entre as festas realizadas em
Esperança” (A União: 19/10/1925).
Digno
de nota é a decoração:
“As ruas da vila
estavam embandeiradas, destacando-se o formoso arco com as cores da República e
expressiva legenda armado à rua Professor Joviniano Sobreira” (A União:
19/10/1925).
Assim
surgia, a pequenina cidade, que neste ano (2025) faz 100 anos de emancipação
política, constituindo estes atos os primeiros de nossa estrutura
administrativa e cívica.
Rau
Ferreira
Referências:
- PARAHYBA,
Cadastro Commercial do Estado da. Commércio e Industria. Imprensa Official.
Parahyba do Norte: 1928.
- PARAHYBA,
Annuário da. Ed. Samuel Duarte. Imprensa Official. João Pessoa/PB: 1933.
- A UNIÃO, jornal.
Órgão Oficial do Estado. Edição de 19 de outubro. Parahyba do Norte: 1926.