Salathiel
Coelho (1931-2015) ficou muito conhecido na teledramaturgia por ter iniciado as
trilhas sonoras de novela. O primeiro disco foi lançado em 1965, somando ao
todo 750 álbuns no Brasil, com sucessos nacionais e internacionais.
Conta-se
que trabalhava em uma rádio no bairro de Bodocongó, na cidade de Campina Grande
(PB), quando foi descoberto pelo jornalista Assis Chateaubriand (Chatô) que o levou
para trabalhar na Rádio Tupi, no Rio de Janeiro:
“Eu
trabalhava na rádio, em Bodocongó, que é um bairro de Campina Grande (PB) e ele
perdeu o documento durante uma visita na cidade e me pediu para anunciar nos
alto-falantes de uma maneira que insinuava que eu tinha obrigação de
conhecê-lo. Mas, foi neste encontro que ele ouviu minha voz e achou que eu
tinha potencial para trabalhar com ele”
Antes
de deixar a Paraíba, havia sido atingido por um tiro na mão esquerda em um
palanque, projetil esse que era direcionado a um candidato político, e chegando
na “cidade maravilhosa”, ficou mudo pois o sotaque nordestino o fez abandonar a
carreira de locutor.
Dedicando-se
a sonoplastia, angariou para si o Prêmio “Roquete Pinto” da TV Record de São
Paulo. Em entrevista para o G1 do Sul de Minas, confessa:
“Eu
aproveitava meu trabalho para criar algumas coisas e me fascinei. Me lembro de
ter criado o som do tic-tac do relógio, o barulho de uma porta abrindo, entre
outras coisas que eu sinto muitas saudades”.
Ele
foi o “inventor” das trilhas sonoras para a televisão brasileira e é o próprio
Salathiel quem comenta: “Nenhuma das músicas foi encomendada. Elas já existiam
e eu selecionei. Tudo que as gravadoras lançavam, mandavam amostra grátis pra
mim”. O sonoplasta possuía mais de 40 mil discos, os quais foram doados ao
Centro Cultural São Paulo.
Ana
Rosa, em seu livro “Essa Louca Televisão e Sua Gente Maravilhosas”, comenta: “Salathiel
era um apaixonado pela profissão, além de ter um excelente humor. Colocava as
músicas que selecionava para temas de nossos personagens para que nós
ouvíssemos, e vivia contando piadas” (pág. 94).
A
fórmula deu tão certo que a Rede Globo criou a “Som Livre”, que vende até hoje
trilha de suas dramaturgias.
Geraldo
Vietri, autor e diretor de novelas da TV Tupi, é quem melhor define este
trabalho:
“Ele
- e só ele – é capaz de dar o clima, aquela localização indispensável a
qualquer obra. Se a cena se passa em campo, em Roma, ele vai buscar (ninguém
sabe onde) 'Os Pinheiros de Roma', de Respighi... e nós nos sentimos respirando
os pinheiros de Roma... [...] pega a grande música, no seu original ou com
roupagens novas, e vai impingindo-as ao grande público em doses homeopáticas
(que se avolumam dia a dia) aumentando-lhe os conhecimentos, aprimorando-lhe o
gosto musical, refinando-lhe o sabor da escolha. Está nisto o grande mérito”
(Disco: Salathiel Coelho apresenta Temas de Novelas: 1965).
O
primeiro tema cantado para a televisão, produzido por Salathiel, foi “Nem vem
que não tem”, de Wilson Simonal, para a novela “Os Rebeldes” (1967), escrita e
dirigida por Geraldo Vietri, e estrelado por Denis Carvalho e Toni Ramos.
“Não
foi fácil”, confessa Salathiel, “Como eu estava recebendo uma proposta da
concorrência, falei para a direção da Tupi: Se vocês me deixarem usar uma
música cantada, eu fico. Só aí deixcaram”.
Nos
anos 60 lançou o vinil “Salatiel Coelho apresenta Temas de Novelas”, com seleção
de músicas temas como: “O Sorrido de Helena”, “Tereza”, “O Direito de Nascer”,
“O Cara Suja”, “Se Mar Contasse”, “Quando o Amor é Mais Forte” e “Alma Cigana”.
O
artista além de produtor, também era compositor, tendo ainda os seguintes
trabalhos: “Nino, o italianinho” (1969), “Simplesmente Maria” (1970) e “Uma
verdadeira história de amor” (1971).
Salatiel
também escreveu roteiros para o cinema, baseados no Cordel, além de peças como “O
homem que veio do céu”, apresentada duas vezes na TV Vanguarda e duas no Grande
Teatro Tupi, uma na TV de Comédia, e outra no Teledrama e na TV Excelsor.
Conta-se
que o diretor de TV Valter Avancini o havia convidado para fazer um programa
sobre cultura nordestina, no formato “telecordel”.
Rau
Ferreira
Referências:
- BRYAN, Guilherme.
VILLARI, Vicent. Teletema. Volume I: 1964 a 1969. Dash Editora. Livro digital.
ISBN: 9788565056700, 8565056708. 516 p. São Paulo/SP: 2014.
- DIÁRIO DE PERNAMBUCO,
Jornal. Edição de 13 de janeiro. Recife/PE: 1980.
- G1, Sul de Minas. Disponível
em: https://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2012/07/salatiel-coelho-trilha-sonora-da-profissao-e-telenovelas.html,
acesso em 18/06/2025.
- IMDB Pro. Disponível
em: https://www.imdb.com/pt/name/nm0168732/,
acesso em 18/06/2025.
- ROSA, Ana. Essa Louca
Televisão e sua Gente Maravilhosa. ISBN 9788588477339, 8588477335. Butterfly
Editora. São Paulo/SP: 2004.
- TOQUE MUSICAL.
Disponível em: https://www.toque-musicall.com/?p=6279,
acesso em 18/06/2025.
- WIKIPÉDIA, A Enciclopédia
livre. Disponível em: pt.wikipediaorg/, acesso em 18/06/2025.
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