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Pai Neco e o Cangaceiro

 

Pai Neco morava no Sítio Cabeço (ou Cabeça de Boi). Era um pequeno criador e bodegueiro. Praticava a agricultura de subsistência para criar a família. A esposa dona Santa cuidava da casa, das galinhas e dos porcos. Era uma vida simples no campo, com a mulher e os filhos.

O Sítio Cabeço era uma vasta propriedade no Cariri, na extrema com o município de Esperança. O imóvel passou por algumas mãos, sendo os mais antigos que se conhece uma senhora que era pecuarista e, que ao negar as “missangas” do gado aos índios, provocou uma revolta que culminou com a morte dos silvícolas na famosa “Pedra do Caboclo”.

Também o Padre José Antunes Brandão foi um importante pecuarista e um de seus proprietários; e Manoel Gomes Sobreira, Mestre-escola em Banabuyé, avô do Coronel Elysio Sobreira.

Os Decretos-Lei nºs 1.164/38 e 520/43, citados por Reinaldo de Oliveira, colocavam o Cabeço nos seus limites: “ESPERANÇA: Começa na foz do Riacho do Boi, no Riachão [...] prossegue pelo referido caminho até encontrar o marco nº 3 (de Esperança), colocado à margem do Rio Cabeço, na fazenda do mesmo nome” (Esboço de monografia do Município de Areia. Imp. Official 1958).

O Professor Leon Clerot registra que “no alto Curimataú entre Esperança e as nascentes do rio Cabeço na estrada da maniçoba (há) afloramentos que se prolongavam até Araras” (30 Anos na Parahyba. Editora Pongetti: 1969).

Fato curioso aconteceu quando esse sítio pertencia a Pai Neco (Manuel Ferreira). Dona Santa (Santina) estava na lida da casa, quando de repente chegou uns homens vestidos de couro e armas em punho. E jogando uma “manta” de carne aos pés da mulher, pediram para prepararem a comida. Ela na sua inocência perguntou como fazer. O “Capitão” na sua impaciência mandou tocar fogo na cerca.

Pai Neco estava na roça e quando viu o fogo correu para casa. Ao chegar, reconheceu o cangaceiro, e de pronto questionou o que estava acontecendo, e sendo informado de tudo, correu nos pés de goiabeira, e trouxe uma bacia cheia do fruto:

- Capitão, apague minha cerquinha, que não tenho condições de fazer outra. O Cangaceiro mandou apagar o fogo. Dona Santa assou a carne e serviu o almoço para os homens. Fartos, seguiram o caminho. Isto aconteceu no Sítio Cabeço, na parte de terra de Pai Neco.

Lembro com satisfação que minha avó materna falava de uma alma que lhe havia dado uma botija. A indicação era uma casa antiga que pertenceu a uma fazendeira no Sítio Cabeço.

Ela estudou com Antônio Suliano que também foi homem valente que atuou na região, lembrando-me algumas histórias que oportunamente hei de escrever.

O sítio Cabeça do Boi ou simplesmente Cabeço situava-se na extrema dos municípios de Esperança e Pocinhos. Esta propriedade constava do decreto de criação da Paróquia do Bom Conselho (1908).

 

Rau Ferreira

Comentários

  1. Feliz com mais esse recorte da nossa historiografia... A história da pedra do caboclo, embora não sendo em Esperança, está intimamente ligado a nossa gente. Como se a passagem dessas figuras fosse pouco! Haja história! Haja memória!

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