Pular para o conteúdo principal

Egídio Lima e a Revista Manaíra

 


A revista “Manaíra” foi idealizada na Capital do Estado e fundada por Wilson Madruga e Alberto Diniz, contando com a participação do jornalista Egídio de Oliveira Lima. Surgida em 1939, a sua primeira tiragem tinha o seguinte expediente: diretor Wilson Madruga, diretor-gerente Alberto Diniz.

O seu nome faz alusão ao romance homônimo de Coriolano de Medeiros (1936) na qual uma índia (Manaíra) estava prometida a um chefe-guerreiro de nome Piancó, porém a jovem – que amava outro – quebrou a tradição de seus pais e da tribo fugindo com o seu amado e, sendo o casal perseguido, foram amarrados e queimados vivos pelo cacique.

A notícia de seu lançamento foi difundida na “Revista da Semana”, essa editada no Rio de Janeiro, de propriedade da Cia. Editora Americana:

MANAÍRA – Está circulando na bela capital parahybana uma nova revista – Manaíra – de feição gráfica atraente, ostentando matéria primorosa. É uma revista mensal, dirigida pelo jornalista Wilson Madruga e na qual colaboram as maiores expressões intelectuais da Parahyba. O primeiro número, que se apresenta com vistosa capa – uma sugestiva perspectiva do amanhecer no parque Solon de Lucena – está muito bem feito e se impõe, pelas suas excelentes gravuras, pelas crônicas, versos e artigos que trás. À Manaíra os nossos votos de vida longa e feliz” (Ano XL, Nº 53. Rio de Janeiro/RJ: 1939).

Maria de Fátima S. Araújo, escrevendo sobre a imprensa paraibana (1986) nos informa que era uma “revista de literatura, artes em geral e assuntos diversos”, nas quais “colaboravam na MANAÍRA não só escritores e poetas paraibanos, mas figuras de todo o Brasil” (Paraíba, Imprensa e Vida, pág. 159).

A autora ainda menciona o Nº 38 da Revista em que “o jornalista José Cerqueira Rocha traduziu um artigo inteiro do beletrista norteamericano A. O. Dillenbeck, da revista PIC, que falava de um filme da atriz Betty Gable - Pin - Up – Girl” (Idem, pág. 160).

José de Cerqueira Rocha nasceu em Esperança/PB, e trabalhou nos periódicos cariocas: “Última Hora”, “Diário Carioca” e “O Dia”.  Escreveu para a revista “Mundo Ilustrado” e atuou n’O Globo por mais de vinte anos, chegando a assumir a Chefia de Redação daquele jornal.

O escritor Bruno Gaudêncio, nos Anais do XVI Encontro Estadual de História, evidencia o perfil gráfico e conteúdo da revista Manaíra, a qual segundo ele muito se assemelhava a revista “Ariús”, que lhe foi posterior (1952/1955):

Com perfis gráficos e de conteúdo semelhantes, uma foi a continuidade da outra, sendo dirigidas pelo poeta e jornalista Egídio de Oliveira Lima. Profundamente inspiradas nos modelos modernos das revistas de variedades, ambas traziam um discurso de modernidade às letras campinenses, enfatizando aspectos da cidade em sua trajetória de progresso e civilização”.

Apesar de ter sido fundada em João Pessoa, o folhetim foi transferido para Campina Grande em 1948, por iniciativa do industrial José Marques de Almeida, circulando o primeiro número campinense em outubro/novembro daquele ano”, conforme nos informa Gaudêncio.

Essa edição da revista que trás na capa a foto do Frei Anselmo Pietrulla OFM, empossado em 13 de novembro daquele ano, indica que Egídio era o diretor-secretário e Artur de Araújo Sobreira o gerente da publicação.

Eis uma nota publicada à época na imprensa pernambucana:

INSTALADA EM CAMPINA GRANDE A REVISTA ‘MANAÍRA’. Recebemos de Campina Grande o seguinte telegrama: ‘Cumprimos o grato dever de comunicar-vos que foi instalada em Campina Grande, no edifício do Banco do Povo, 1º andar, sala 4, a sede da revista Manaíra, que circula há 8 anos nesse Estado, com a finalidade de servir à cultura e divulgar as atividades e o progresso de nossa região. Saudações (a) José Marques de Almeida Sobrinho e Wilson Madruga, diretores” (Diário de Pernambuco: 30/05/1948).

MANAÍRA – Circulará, por estes dias, a revista paraibana Manaíra que prestará, nessa edição, uma especial homenagem a dom frei Anselmo Pietrulla, primeiro bispo de Campina grande.

Manaíra é um órgão do sr. José Marques de Almeida Sobrinho e orientada pelo jornalista Egídio de Oliveira Lima” (Diário de Pernambuco: 28/12/1949).

Na edição nº 144, de 20 de junho de 1948, o Diário de Pernambuco traz a reportagem completa desta instalação:

Verificou-se, no dia 26 de maio último, na importante Cidade de Campina Grande, na Paraíba, no Edifício do Banco do Povo, 1º andar, sala 4, a instalação da sede da revista MANAÍRA, que há nove anos vem servindo aos interesses de nossa região no setor da cultura e da arte.

Na solenidade, falaram o conhecido industrial José Marques de Almeida Sobrinho, diretor-presidente da Revista, e o jornalista Wilson Madruga, diretor-responsável, manifestando ambos os propósitos de continuar servindo à Paraíba e ao Nordeste, dentro do programa que traçou MANAÍRA

A essa solenidade, estiveram presentes Everardo Luna, representando o prefeito Elpídio de Almeida; Abelardo Fonseca, presidente da Associação Comercial; Srs. João da Cunha Lima Filho e João Ribeiro Sales, diretor e secretário, respectivamente, da Recebedoria de Rendas, além dos escritores Hortênsio Ribeiro e Epaminondas Câmara, da Academia Paraibana de Letras.

Muitas figuras locais também se fizeram representar, a exemplo do Sr. Lúcio Marques de Almeida, do Banco Mercantil; Serafim Teixeira, da Casa Bancária Magalhães Franco; Edgard Silva, gerente do Banco do Povo S/A; Srta. Luíza Cavalcanti Castro, do Banco Industrial; Srta. Maria Auxiliadora Miranda, do Banco Agrícola, além do professor Luiz Gil de Figueiredo, diretor d’O Rebate; o comerciante Luís Soares, o Dr. Manuel Figueiredo, professores José de Almeida e Milton Paiva; José Jataí, diretor da difusora “Voz de Campina Grande”. Egídio Lima aparece como gerente, enquanto que Artur de Araújo Sobreira, secretariava a revista.

Registre-se as seguintes mensagens de felicitações:

Rio, 8 – Catete – José Marques de almeida Sobrinho – Campina Grande, PB. Envio congratulações ao prezado amigo pela instalação da Revista MANAÍRA em Campina Grande, desejando prosperidade a sua apreciada publicação que muito coopera para o engrandecimento de nossa Paraíba. Saudações – José Pereira Lira”.

Rio, 8 – Catete – Wilson Madruga – Campina Grande, PB: Recebi telegrama do prezado amigo comunicando a instalação da apreciada revista MANAÍRA, nessa importante cidade. Desejo felicidades aos seus diretores e prosperidade a essa brilhante publicação que muito tem cooperado em favor de nosso Estado. Saudações – José Pereira Lira”.

O Sr. Herbet Moses, presidente da Associação Brasileira de Imprensa, por ocasião da inauguração da revista em Campina Grande, enviou a seguinte mensagem:

A comunicação dos prezados confrades, referente à inauguração das novas instalações da revista MANAÍRA, em Campina Grande, causou júbilo no seio da Associação Brasileira de Imprensa, cujos sentimentos estou certo de interpretar, enviando efusivos cumprimentos de felicitações e formulando votos para que essa prestigiosa revista continue a trilhar as mesmas diretrizes que a elevaram à situação de relevo que ocupa atualmente”.

Nos anos 50, presume-se que passou um período distante do prelo, tanto que a imprensa nacional noticia a retomada de sua publicação nas oficinas d’O Rebate:

Vai voltar à circulação normal a revista Manaíra, que se edita nesta cidade [Campina Grande], dirigida pelos srs. José Marques de Almeida Sobrinho e Egídio de Oliveira Lima. O referido magazine será impresso nesta cidade nas oficinas da Tipografia Rebate”.

A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro possui apenas duas edições da revista Manaíra, as quais ainda não foram digitalizadas, conforme consta do site da BNDigital (bndigital.bn.gov.br).

Todavia, tivemos acesso a algumas edições impressas, a exemplo da Nº 65, editada em junho de 1951, com destaque para a matéria sobre o Posto Bila, pertencente ao esperancense Severino Alves Bila, escrita por Hortênsio de Souza Ribeiro; e a de nº 66 que em sua página principal, ilustrada por Deodato Borges, nos remete a uma reportagem sobre o Engenheiro Camilo Collier às págs. 29, destacando-se em seu título: “Uma revista de Campina Grande para o mundo”.

Egídio de Oliveira Lima era filho de Francisco Jesuíno de Lima e Rita Etelvina de Oliveira Lima. Nasceu em Esperança no dia 04 de junho de 1904 e faleceu na capital paraibana a 23 de fevereiro de 1965.

 Rau Ferreira

 

Referências:

- ARAÚJO, Maria de Fátima. Paraíba, impressa e vida: jornalismo impresso, 1826/1986. Editora Jornal da Paraíba. 2ª Edição. Paraíba: 1986.

- DIÁRIO DE NATAL. Edição nº 3.256, de 23 de maio. Natal/RN: 1953.

- DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Edição nº 7.015, de 05 de setembro. Rio de Janeiro/RJ: 1945.

- DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Edição nº 144, de junho. Recife/PE: 1948.

- DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Edição nº 288, de 16 de dezembro. Recife/PE: 1950.

- FUNAAD – Fundação Antônio Antas Diniz. Manaíra: A lenda, disponível em: http://www.manaira.net/lenda.html, acesso em 29 de outubro de 2021.

- GAUDÊNCIO, Bruno Rafael de Albuquerque. A palavra impressa: uma história dos jornais, revistas e outros suportes impressos de Campina Grande (1913-1953). Anais do XVI Encontro Estadual de História. ISSN 2359-2796. Anpuh/Uepb. Campina Grande/PB: 2014.

- MANAÍRA, Revista. Nº 65. Edição de Dezembro. Campina Grande/PB: 1950.

- MARTINS, Eduardo. Coriolano de Medeiros – Notícia Bibliográfica. A União. João Pessoa/PB: 1975.

- REVISTA DA SEMANA. Ano XL, Nº 53. Edição de 09 de dezembro. Rio de Janeiro/RJ: 1939.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele

A Pedra do Caboclo Bravo

Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “ Pedra ou Furna do Caboclo ” que guarda resquícios de uma civilização extinta. A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E n o seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada. A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros. A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. A s várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos pr

Afrescos da Igreja Matriz

J. Santos (http://joseraimundosantos.blogspot.com.br/) A Igreja Matriz de Esperança passou por diversas reformas. Há muito a aparência da antiga capela se apagou no tempo, restando apenas na memória de alguns poucos, e em fotos antigas do município, o templo de duas torres. Não raro encontramos textos que se referiam a essa construção como sendo “a melhor da freguesia” (Notas: Irineo Joffily, 1892), constituindo “um moderno e vasto templo” (A Parahyba, 1909), e considerada uma “bem construída igreja de N. S. do Bom Conselho” (Diccionario Chorográfico: Coriolano de Medeiros, 1950). Através do amigo Emmanuel Souza, do blog Retalhos Históricos de Campina Grande, ficamos sabendo que o pároco à época encomendara ao artista J. Santos, radicado em Campina, a pintura de alguns afrescos. Sobre essa gravura já havia me falado seu Pedro Sacristão, dizendo que, quando de uma das reformas da igreja, executada por Padre Alexandre Moreira, após remover o forro, e remover os resíduos, desco

Versos da feira

Há algum tempo escrevi sobre os “Gritos da feira”, que podem ser acessadas no link a seguir ( https://historiaesperancense.blogspot.com/2017/10/gritos-da-feira.html ) e que diz respeito aqueles sons que frequentemente escutamos aos sábados. Hoje me deparei com os versos produzidos pelos feirantes, que igualmente me chamou a atenção por sua beleza e criatividade. Ávidos por venderem seus produtos, os comerciantes fazem de um tudo para chamar a tenção dos fregueses. Assim, coletei alguns destes versos que fazem o cancioneiro popular, neste sábado pós-carnaval (09/03) e início de Quaresma: Chega, chega... Bolacha “Suíça” é uma delícia! Ela é boa demais, Não engorda e satisfaz. ....................................................... Olha a verdura, freguesa. É só um real... Boa, enxuta e novinha; Na feira não tem igual. ....................................................... Boldo, cravo, sena... Matruz e alfazema!! ........................................

Esperança: Sítios e Fazendas

Pequena relação dos Sítios e Fazendas do nosso Município. Caso o leitor tenha alguma correção a fazer, por favor utilize a nossa caixa de comentários . Sítios, fazendas e propriedades rurais do município Alto dos Pintos Arara Arara Baixa Verde Barra do Camará Benefício Boa Vista Boa Vista Cabeça Cacimba de Baixo Cacimba de baixo Caeira Cajueiro Caldeirão Caldeiro Caldeiro Campo Formoso Campo Santo Capeba Capeba Carrasco Cinzas Coeiro Covão Cruz Queimada Furnas Granja Korivitu Gravatazinho Jacinto José Lopes Junco Lages Lagoa Comprida Lagoa da Marcela Lagoa de Cinza Lagoa de Pedra Lagoa do Sapo Lagoa dos Cavalos Lagoa Verde Lagoa Verde Lagoinha das Pedras Logradouro Malhada da Serra Manguape Maniçoba Massabielle Meia Pataca Monte Santo Mulatinha Pau Ferro Pedra Pintada Pedrinha D'água Pintado Punaré Quebra Pé Quixaba Riachão Riacho Am