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O Inquérito da Batatinha

 


A cultura da batatinha foi um marco em nossa cidade. Muitos agricultores se dedicaram a essa solinácea com expressiva produção ganhando prêmios de destaque no Município e no Estado.

A batata inglesa foi objeto de estudo do inspetor agrícola Diógenes Caldas, que no ano de 1927 elaborou um importante relatório sob o título “O Inquérito da Batatinha”.

Reproduzimos a seguir parte deste trabalho devido ao seu caráter histórico:

História – No Estado da Parahyba do Norte a batatinha é geralmente conhecida pela denominação de batata inglesa, quer nos mercados de venda, quer nos mercados de produção.

A sua introdução agrícola é muito recente de sorte a ser possível declinar o nome do primeiro cultivador do Estado, o Coronel Delfino Gonçalves de Almeida que, no ano de 1906, realizou uma experiência cultural coroada de pleno êxito.

As sementes utilizadas foram adquiridas no mercado local não se podendo precisar si foram de produção nacional ou estrangeira.

Isso se deu em Esperança, por aquela época, distrito, do município de Alagoa Nova e hoje autônomo e continuando a constituir o principal centro produtor dessa importante solanácea.

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Não há dúvida que o seu clima frio e seco é muito propício àquela cultura cujo curto ciclo evolutivo permite duas plantações por ano

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Não existe registro térmico da região, mas dadas as suas cotas de altitude conhecidas de 635 ms. e 546 ms. sobre o nível do mar, pode-se afirmar com segurança que a sua mínima atinge a 15º e a sua máxima não excede de 30º centígrados.

É o efeito da altitude neutralizando a latitude.

Em relação ás precipitações pluviométricas, si o município está encravado entre os de Areia com a média conhecida de 1.235,1 em 8 anos, Campina Grande com a de 797,7, e Alagoa Nova com a de 1,124,7 será contudo temerário aceitar como normal qualquer desses valores ou a média deles, uma vez que o distrito de Pocinhos, pertencente a Campina Grande, que se extrema com Esperança, ainda não captou até esta data (23 de junho) chuva para correr as goteiras, enquanto houve copiosas precipitações em a zona sudeste de Campina e nos outros municípios citados inclusive.

É bizarro isso, ficando Esperança, abundantemente chuvoso, apenas a 24 Kilometros de Pocinhos.

Nos anos normais as primeiras chuvas caem de fevereiro a abril e as últimas de junho a agosto.

Em todo o caso o clima da região onde se cultiva a batatinha se aproxima mais da zona brejeira do que da zona de caatinga.

A humidade do ar é, entretanto, aí menos acentuada do que na zona brejeira de flora hygrophila, as plantas xerophylas a vão invadindo insensivelmente de sorte a predominarem à medida que nos acercamos da caatinga serrana do Cariry ou do Curimataú, o que bem demonstra a nossa afirmativa.

Variedades cultivadas – a batatinha é uma planta exótica; no território parahybano não cresce nenhuma variedade indígena.

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Os lavradores citam quatro variedades, por eles próprios batizadas, a saber: a branca, a amarela, a roxa e a coquinho.

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Não se adota a semeadura de batatas inteiras; estas são cortadas em tantos pedaços quanto são os olhos aparentes.

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O agricultor não se preocupa com a escolha da semente; o que vale é que os tubérculos “sejam miúdos” e estejam bem grelados.

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Solo – Toda essa região que compõe a maior parte do município de Esperança e certo trecho do de Areia, no distrito de Alagoa de Alagôa do Remígio, constitui uma zona vulgarmente denominada agreste, que faz transição entre a zona brejeira e a cantiga serrana.

São chamados seus terrenos na nomenclatura dos agricultores de ariscos por causa da grande percentagem de sílica que entra em sua composição e que lhes empresta uma cor muito clara e característica.

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Convém salientar que grande extensão do município de Espeança assenta sobre uma camada ininterrupta de gneiss, encontrada a pouca profundidade, quando não aflora, de sorte que, nos anos de forte invernia, quase os terrenos se encharcam em certos sítios; daí a preferência que têm os agricultores em culturar as terras em leirões.

A parte septentrional de Esperança e a ocidental de Areia constitui a zona por excelência aproveitada na exploração da batata americana.

Região de terras planas, ligeiramente onduladas, nas suas proximidades da zona brejeira, de solo mais ou menos profundo, 0,m80 a 2,m00 oferece campo magnífico para uma cultura econômica com utilização de máquinas agrícolas.

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Informaram pessoas da localidade que fracassaram tentativas de cultura a chão raso, levadas a efeito em experiências que o progressista e laborioso governo Camilo de Holanda mandou aí realizar mecanicamente.

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Eis, de modo geral e conciso, o que nos ocorre aviltar no que diz respeito aos meios de desenvolver entre nós a produção de um gênero de primeira necessidade, o qual não deve se modo nenhum, continuar a figurar nas nossas pautas de importação”.

 

Nesse trabalho, o inspetor Diógenes Caldas discorria acerca da instalação de uma cooperativa para fomentar a produção de batatinha em nosso Município:

É pensamento da Inspetoria Agrícola Federal fundar ali, em 1928, um campo experimental, em cooperação com a Prefeitura Municipal, de acordo com o plano previamente submetido à apresentação da Diretoria do Serviço de Inspeção e Fomento Agrícola.

O projeto só iria se concretizar a partir do Decreto nº 831, de 19 de maio de 1936, que concedia “autorização para se constituir e funcionar á Cooperativa de Crédito Agrícola de Esperança, Estado da Parahyba do Norte”, da lavra do então Presidente da República Getúlio Vargas.

A Cooperativa de Crédito e Venda da Batatinha só veio a ser inaugurada em 08 de junho de 1943, com o nome de “Granja Modelo”.

 

Rau Ferreira

 

Referência:

- BRAZIL, Legislação. Decreto nº 831, de 19 de maio de 1936, publicada no Diário Oficial da União - Seção 1 – em data de 24 de junho. Rio de Janeiro/RJ: 1936.

- CALDAS, Diógenes. A batatinha na Parahyba do Norte. Inquérito procedido pelo Inspetor Agrícola apresentado ao serviço de Inspeção e Fomento Agrícolas. Impressa Official: 1927.

- MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, Boletim (do). Ano XVI, Vol. II. Nº 5, Edição de julho. Serviço de Informações. Rio de Janeiro/RJ: 1927.

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