Em Esperança-PB, na Avenida Manoel Rodrigues
de Oliveira, precisamente bem em frente ao antigo bar e sorveteria de seu Dedé,
havia um dos mais antigos prédios da cidade, com fachada estilo neoclássica,
com duas portas laterais de grades de ferro fixas, e uma central, para acesso.
Fachada esta, com linhas paralelas e traçados outros, dando uma nítida
demonstração de que deveria se perpetuar no tempo por ser de propriedade
pública, arquitetura diferenciada e conhecido por todos como "O AÇOUGUE
PÚBLICO".
Esse prédio, que era vazado com saída para a
rua onde hoje encontramos o mercado público, assemelhava-se a uma galeria com
boxes e "tarimbas" laterais para suspensão de carnes, com corredor
central, e dividia-se ao longo do seu comprimento em duas partes como se fossem
dois grandes vagões de trem.
Havia na parte mediana pequenos boxes onde
eram servidos o café da manhã com bolos de milho, de mandioca, de macaxeira e
"pé de moleque" aos açougueiros e frequentadores habituais.
Na primeira parte, pela entrada da rua Manuel
Rodrigues até o meio, ficavam os marchantes que praticavam o comércio da carne
bovina fresca e/ou seca; na segunda, os açougueiros que cortavam as carnes de
caprinos, ovinos, suínos e vendiam as buchadas e os miúdos desses animais.
Ali, no sábado pela manhã, o movimento era
intenso.
Parte daqueles comerciantes já tinha seus
clientes certos para quem pesava as suas encomendas de carne, fígado ou quarto
de bode e as alçavam numa "embira" de folha de bananeira seca e,
assim, pendurados nos dedos, eram levados pelos fregueses até a casa. Pela
manhã, no clímax da feira, aglomeravam-se aqui e ali e por certo tempo, alguns
dos comerciantes do setor açougueiro, criadores, pequenos fazendeiros, ou os
ditos "marchantes" cortadores de carne naquelas "tarimbas",
a exemplo de Seu Tiano, Seu Elísio Brandão, Seu Chico Emiliano (pai), Chico
Emiliano (filho), seu Chico Clementino, Cíço de Luca, Luziete, Pedro Fires e
outros, para discutirem sobre a procedência e os acertos de compra e venda das
suas crias.
À época, a feira ainda era realizada naquela
avenida, entrando um pouco para a rua do Irineu, onde predominava a feira da
rapadura, que se limitava frente à tipografia do nosso saudoso Antônio Batista,
onde trabalhava, também, o inesquecível Manú.
Na esquina da rua do Irineu, no início da
"CHÃ DA BALA", a feira
começava, de um lado, com bancos de carne de sol, miúdos de boi e de
bode secos, figo seco, toucinhos, peixes secos, queijos e outras especiarias; e
do outro, na esquina da bodega de Benício, com sacarias de feijão, fava, milho
e farinha - eram os feijoeiros - como seu Justino, pai de Zé Luiz, Bastão
Pigarro, e outros; prolongando-se até à esquina da rua do Sertão, e, dali,
frente a loja do seu Lita, de ambos os lados, iniciava-se a feira dos bancos dos mascates, onde eram expostos à
venda os variados rolos e cortes de tecidos de linho, tergal, tropical, casimira, chitas, roupas de
carregação, cujos bancos pertenciam aos senhores Gordurinha, Chico Venâncio, Eugênio,
seu Dorgival Costa e outros.
Os bancos de sapatos, traseiros, sandálias, e
outros manufaturados das sapatarias, também enfileiravam aquela artéria, e se
estendiam até a esquina da antiga prefeitura. Aliás, a feira tinha o formato de
um grande "T", haja vista a sua penetração direcionada para a rua do
Sertão, estendendo-se até o início da balaustrada onde, dos dois lados da rua,
encontravam-se além de outras novidades, frutas legumes e verduras, sem ficarem
esquecidas as tradicionais, famosas e bem solicitadas barracas de "geladas"
que eram servidas e acompanhadas do pão doce.
Passados os anos, não sabemos o motivo porquê
desalojaram o "AÇOUGUE" que ficou por um período fechado, até que foi
alugado para instalação de uma serraria/movelaria ao seu Sebastião, moveleiro
pai de um dos nossos colegas, o Sadi, durante alguns anos.
A partir daí não mais soube do desfecho dessa
história do "AÇOUGUE"! A exemplo da "Pracinha" Getúlio
Vargas, "Personae non gratae", talvez gestores públicos,
também sem memória, tenham ordenado a sua venda e/ou demolição.
Pedro Dias do
Nascimento
* Via WhatsApp, mensagem de 15/04/2020.
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