O sítio arqueológico Cachoeira do Caldeirão aproximadamente 12 km do centro da cidade de Esperança, no Brejo Paraibano. A estrada que dá acesso ao citado sítio é conhecida como estrada de Camará, em razão da mesma ter o seu ponto final na barragem do mesmo nome, na divisa dos municípios de Esperança, Alagoa Nova e Alagoa Grande, também no Brejo Paraibano. Nos meses em que as chuvas não são tão abundantes a estrada é perfeitamente transitável, no entanto, com as chuvas, ela rapidamente se transforma em um local de difícil locomoção, devido à lama e aos inúmeros buracos formados pela própria circulação de automóveis e pessoas.
Uma vez superadas as dificuldades de acesso
chegasse a casa da proprietária do local onde estão dispostas as gravuras, a
senhora Jacinta Maria dos Santos, herdeira de José Adelino dos Santos, segundo
a mesma um antigo morador do local. O local do sítio pertencente à senhora
Jacinta Maria e tem aproximadamente 18 hectares de extensão, que englobam parte
do riacho Ribeiro, assim como o lajedo onde estão dispostas as inscrições, a
exemplo do sítio arqueológico. A própria localidade também é conhecida como
sítio Caldeirão, em razão do belíssimo monumento em forma de caldeirão formado
pela ação das águas do riacho Ribeiro no lajedo pétreo.
Partindo da casa da senhora Jacinta Maria,
através de um pequeno declive, chega-se a uma antiga cervejaria e a um campo de
futebol, ambos desativados e em acelerado processo de deterioração. Esse local
fica aproximadamente 450 metros da
referida casa, um pouco mais adiante, 50 metros à frente chega-se então ao lugar
que dá nome a localidade. Trata-se de um lajedo em gnaisse, com aproximadamente
130 metros de comprimento e cerca de 30 de largura, sob o qual corre o riacho
Ribeiro, que nos meses chuvosos mostra-se especialmente bonito formando
pequenas cachoeiras ao longo do lajedo, assim como pequenos e diversos
reservatórios.
O local é bastante verde, com árvores de porte
médio entre 10 e 15 metros de altura, bastante numerosas, que se observadas do
alto da casa da proprietária assemelha-se a uma pequena “mata” (floresta de
porte médio).
As gravuras propriamente ditas encontram-se
dispostas na parte mais alta do grande lajedo, próximas ao “caldeirão”
encravado na pedra, que se encontra parcialmente encoberto, devido ao aumento
das águas do riacho, que, aliás, corre praticamente quase todo o ano desaguando
no rio Mamanguape, já que a região do Brejo, diferente de outras regiões do
Estado, tem um clima diferente, úmido e condicionante para que tais rios não
permaneçam inteiramente secos.
Ao lado esquerdo do referido caldeirão
encontra-se a maior das gravuras do local, trata-se de um círculo contendo ao
centro dois capsulares, unidos por uma haste que convergem numa espécie de lua
crescente, assemelhando-se também a uma âncora. Observa-se também uma série de
capsulares, uns agrupados, outros dispersos, um pequeno gradeado, algumas
figuras que novamente se assemelham a uma lua crescente, um círculo menor
contendo no interior outro ainda menor e com um capsular ao centro (Fig. 22).
Concluindo a descrição do painel temos outra
gravura, um círculo perfeito com uma ramificação interna que converge
novamente, na formação de dois capsulares, praticamente idênticos no tamanho.
As gravuras encontram-se todas do lado
esquerdo do curso d´água, realizadas através da técnica de meia-cana. Podemos
perceber também que provavelmente haviam mais gravuras, mas, como foi dito, o
riacho é praticamente intermitente, o que, sem dúvida, contribuiu para a
degradação natural das gravuras. Observa-se ainda, uma espessa camada de lodo
que chega a cobrir a maior das gravuras do local, não chegando, no entanto, a
danificar as demais gravuras que estão perfeitamente visíveis e não coincidem
com o curso do riacho. Na parte de baixo do grande lajedo, ainda do lado
esquerdo, forma-se um pequeno reservatório, sombreado por árvores bastante altas,
há também uma grande pedra que “divide” o reservatório do restante do curso
d´água do riacho Ribeiro.
Em conversas com moradores locais nos foi
informado que, quando do funcionamento da cervejaria e do campo de futebol, o
local era bastante visitado, e certamente as gravuras figuravam como um
atrativo às atividades comerciais ai desenvolvidas. Hoje, no entanto, o local
não recebe muitas visitas, fato que talvez explique a falta de lixo e
depredação do patrimônio, como é tão comum observar em outros sítios. As
atividades que podem ser observadas no entorno são a agropecuária extensiva,
alguns roçados tradicionais e especial destaque para as plantações de laranja,
muito comum na área rural do município de Esperança, sem, contudo, mostrarem-se
nocivos à preservação do sítio.
No geral, o sítio apresenta gravuras rupestres
que se assemelham as existentes na Itacoatiara do Ingá.
Juvandi de
Souza
(*) Juvandi de Souza Santos é Professor da UEPB e arqueologista, cujos estudos têm ênfase na pré-história e história paraibana. Graduado em História pela UEPB, é especialista por essa mesma universidade em diversas áreas; mestre pela UFPB, UFPE e doutor pela PUC/RS.
Referência
textual:
-
SANTOS, Juvandi de
Souza. Estudos da Tradição
Itacoatiara na Paraíba: Subtradição Ingá? Campina Grande, Paraíba.
Cópias & Papéis, 2014.
Fui, vi e recomendo que se veja antes que a ação humana contemporânea apague os traços da ação humana antiga. Uma preservação oficial cairia bem!
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