Pular para o conteúdo principal

Crônicas de memórias: diálogos domésticos (por Martinho Júnior)


Quem de nós não se pega recordando as conversas com os pais em casa heim? Ainda mais quando a realização do que antes era um singelo hábito saudável e necessário e torna-se possível apenas em sonhos, pois eles já… "partiram para outro mundo" como diziam os mesmos.
Meus pais (Hilda Batista e Martinho Soares), ambos gostavam de recordar e eu ouvia com muita curiosidade aquelas conversas sadias, cheias de lições para quem soubesse captar delas a essência do que era transmitido.
Através desses momentos de lembranças é que eu ouvia falar muito sobre “Os Rodrigues”. O Sr Manoel Rodrigues de Oliveira, primeiro Prefeito de Esperança-PB e D. Esther Fernandes (Dona Teté), a Primeira Dama da nossa história; e os filhos do ilustre casal. Eles foram a família que cuidou do meu pai Martinho Soares, lhes deram uma educação aprimorada, completada pelo caráter irrepreensível que transparecia lhes ser inato.
A característica mais marcante de seu Manoel Rodrigues, "Padrinho Manoel Rodrigues" como meu pai costumava carinhosamente e muito respeitosamente falar, era ser um con-ci-li-a-dor.
Sempre em meio às dúvidas e divergências, tanto pessoas do meio político das cidades adjacentes quanto pessoas de outros ramos de atividades, costumavam ouvir suas palavras de solução aos conflitos. Era desta maneira com um povo que se dedicava a ser sociedade boa, no trato de se harmonizar e de estar em busca de melhor conceito a si mesmo e respeito ao próximo que se formou uma geração diferente da atual. O que extraímos desses relatos significa uma geração que posso aqui apresentar de exemplos muito interessantes e até bonitos no modo comportamental.
Uma das causas de muitos problemas nos tempos de agora, é exato o fator da ausência de diálogos domésticos, as personalidades comunicativas não para futilidades mas para o que urge,para às demandas de turbilhões de incertezas que aflingem jovens e até adultos,pois a vida é feita de decisões. Pudesse eu ter uma máquina do tempo para minha gloriosa "Visita À Casa Paterna" como expressava o nosso poeta Silvino Olavo, nessa oportunidade eu aproveitaria muito mais.
Então durante meu curso de história numa pesquisa sobre as oligarquias encontrei um livro de história local intitulado “Remígio, Brejos e Carrascais” (Ed. Universitária. João Pessoa/PB: 1992), nele páginas relatam que quando os líderes dessas cidades estavam à beira de um acontecimento que poderia terminar em divergências danosas, buscavam logo uma reunião aqui para tratar do assunto com seu Manoel Rodrigues, era como se fosse uma câmara arbitral informal que só, e somente era possível graças a essa cultura do diálogo que os tempos pós modernos insistem em deletar, mas o encontraremos em algum Hard Disc (HD),em algum espaço da nossa alma e o restauraremos, sob pena de perdermos nossa humanidade.
Este texto é dedicado ao meu ilustre amigo Dr. Rau Ferreira, escritor de muita ética, pesquisador que vem resgatando as páginas da nossa história, seu incentivo, apoio em publicar e autor da ideia de memórias de diálogos.

Martinho Júnior
Historiador

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Silvino Olavo e Mário de Andrade no interior da Paraíba (1929)

“O Turista Aprendiz” é um dos mais importantes livros de Mário de Andrade, há muito esgotado e reeditado em 2015, através do Projeto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan. Os relatos de viagens registram manifestações culturais e religiosas coletadas pelo folclorista em todo o Brasil. Este “diário” escrito com humor elevado e recurso prosaico narra as inusitadas visitas de Mário ao Nordeste brasileiro. O seu iter inclui Estados como Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Paraíba. Mário havia deixado o Rio em 3 dezembro de 1928. Embarcou no vapor “Manaus”, com destino ao Recife, onde permaneceu dois dias; e dali seguiu de trem para o Rio Grande do Norte, chegando dia 14 ao Tirol, bairro onde residia Câmara Cascudo (1898-1986), que foi um de seus companheiros de viagem nesse Estado, junto com o jornalista, poeta e crítico de arte Antônio Bento de Araújo Lima (1902-1988). O Álbum de Fotografias (Viagem ao Nordeste Brasileiro 1928-29), pertencen...

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...

Antes que me esqueça: A Praça da Cultura

As minhas memórias em relação à “Praça da Cultura” remontam à 1980, quando eu ainda era estudante do ginasial e depois do ensino médio. A praça era o ponto de encontro do alunado, pois ficava próxima à biblioteca municipal e à Escola Paroquial (hoje Dom Palmeira) e era o caminho de acesso ao Colégio Estadual, facilitando o encontro na ida e na volta destes educandários. Quando se queria marcar uma reunião ou formar um grupo de estudos, aquele era sempre o ponto de referência. O público naquele tempo era essencialmente de estudantes, meninos e moças na faixa etária de oito à quinze anos. Na época a praça tinha um outro formato. Ela deixava fluir o tráfego de transporte de carros, motos, bicicletas... subindo pelo lado direito do CAOBE, passando em frente à escola e descendo na lateral onde ficava a biblioteca. A frequência àquele logradouro era diuturna, atraída também pelas barracas de lanche que vendiam cachorro-quente e refrigerante, pão na chapa ou misto quente, não tinha muita ...

Clube CAOBE

O Centro Artístico Operário Beneficente de Esperança – CAOBE foi fundado em 16 de março de 1954. Ao longo de mais de meio século proporcionou lazer e descontração a toda sociedade esperancense. A sua primeira sede social foi em uma garagem alugada na antiga Praça da Bandeira (Praça José Pessoa Filho) onde hoje se situa o Batalhão da Polícia Militar. O sodalício foi idealizado por comerciantes, na sua maioria sapateiros, liderados por Antônio Roque dos Santos (Michelo). Escreve o Dr. João Batista Bastos, ex-Procurador Jurídico Municipal, que: “ o CAOBE nasceu com o objetivo de ser um centro de acolhimento, de lazer, com cunho educativo, onde os filhos e as famílias dos operários, sapateiros, pudessem ter um ambiente, de encontro e de vida social ” (Revivendo Esperança). No local funcionava uma escola para os filhos dos operários, sendo professoras as Sra. Noca e Dilma; com a mudança para a nova sede, a escola foi transferida. A professora Glória Ferreira ensinou para jovens e ad...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...