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Sol: Casamentos


Os poetas são volúveis? Talvez. Porém exige-lhes a sociedade uma certa compostura e ele mesmo elege a sua musa a patamares tão elevados que lhes fica difícil encontrar esse amor. Nisso reside a “estrela inalcançável”, tão declamada pelo nossos poeta.
Tais qualidades couberam a Carmélia Borges, moça do Pilar, filha de Anísio e Virgína, proprietários do Engenho Recreio.
Silvino com aquela fama de volúvel que a “vox popoli” disseminou por todo o Brasil, selou casamento civil em 28 de novembro de 1929. Foram seus padrinhos José Américo de Almeida e esposa e Manoel Velloso Borges e esposa, em presença do juiz de paz Arnóbio César Falcão.
Coincidências a parte, quatro meses antes, no dia primeiro de julho, consorciara-se Severina Lima com Antonio Villarim, comerciante campinense.
A jovem filha de Francisco Jesuíno e Rita de Lima teve como padrinhos Abdon Lycarião e José de Souza Barbosa com suas respectivas esposas. O casamento pomposo -  comentou-me uma parente – foi um desagravo à moça pobre que fora -, já que até aquele tempo, seu pai ainda não se havia firmado no comercio de tintas e ferragens, o que viera a acontecer pouco depois.
Após esse episódio, o poeta apresentou-se bastante doente, recolhendo-se no Pilar. A imprensa assim destacava:

Atacado de ligeiro incômodo esteve acamado, na cidade do Pilar, o sr. Silvino Olavo, oficial de gabinete da presidência do Estado” (O Jornal/RJ: 14/07/1929).

Acha-se enfermo o conhecido homem de letras dr. Silvino Olavo oficial de gabinete do presidente do Estado” (Diário de Pernambuco/PE: 07/07/1929).

O casamento é o destino comum dos noivos, muitas vezes inevitável. Um amor do passado assombrava os pombinhos, quiçá naquele último ato encontraria o poeta a paz tão desejada.
O seu biógrafo, João de Deus Maurício, comentara:

O destino unia assim um casal cheio de planos; de um lado um poeta desejoso de amar a vida inteira – Silvino Olavo da Costa – e do outro a beldade simbolizada numa flor: Maria Carmélia Veloso Borges da Costa”.

O enlace religioso de Olavo fora em 31 de outubro daquele ano. Estiveram presentes João José Maroja, prefeito da Capital, além do Coronel Elysio Sobreira, Dr. Edgar Saeger, João da Cunha Vinagre, João Batista de Ávila Lins, Heitor Santiago e Jocelyn Velloso Borges, e distinta sociedade pessoense. A cerimônia foi realizada pelo Padre Arthur Costa.
Naquela época, estava como a declamar a sua “Felicidade”, poema que encerra uma das páginas de seu primeiro livro (Cysnes):

"Minha Felicidade - ó Musa - nem descreves
no dia em que eu tiver uma esposa amorosa
e pura, assim com um ar da Senhora das Neves,
como essa que há de vir, serena e luminosa!"

Não fora o poeta bem-sucedido em seu casório, e pouco tempo depois aconteceu o divórcio de Carmélia, tal qual descrito em seu poema Vana:

Foste o meu sonho alado, de um momento,
- Sonho fugaz que nem se humanizou...
Vaga que veio, ao vórtice do vento,
bateu de encontro à praia e se quebrou...”.

Matusalém Souza, prefaciando Badiva (1997), nos dá a seguinte explicação:
     
O poeta jamais fora feliz no amor porque a mulher amada, como religiosa, não romperia com os votos. Por isso mesmo, é que ela aparece, em toda obra, marcada pela santidade embora sob recurso metafórico peculiar ao poeta. Assim mesmo, ela o ama e o trata com respeito e com muita formalidade:
- “tome doutor... Faça do livro 'um homem educado'!”
BADIVA fora o grande amor de Silvino Olavo que, pelas circunstâncias, não poderia – como suplica e lamenta o vate paraibano – concretizar-se de maneira oficial para o comum dos mortais – casamento”.

São volúveis os poetas? De certo até encontrarem o amor; silogismo contrário também é verdadeiro...
Anos depois encontrei em seus manuscritos a seguinte frase que me chamou a atenção: “E a felicidade não existe!”. Desabafou.


Rau Ferreira


Referência:
- Certidão nº 12, fls. 155 do Livro 04-B. Cartório do Pilar. Pilar/PB: 1929.
- MAURÍCIO, João de Deus. A vida dramática de Silvino Olavo. Unigraf. Esperança/PB: 1992.
- OLIVEIRA, Marinaldo Francisco (org). Badiva: Poesias inéditas. Marinaldo Francisco de Oliveira (org). Secretaria de Educação e Cultura. Prefeitura de Esperança. Esperança/PB: 1997.

Comentários

  1. Carmélia Veloso Borges, minha bisavó. História linda e ao mesmo tempo triste. Sou filha de João Florentino da Silva Neto e neta de Wilson Borges Florentino da Silva, neto e filho de Carmélia, respectivamente.

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