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A Boneca de Lero

A "Boneca de Lero"
Lero residia no Rio. Esperancense nato, não perdia um carnaval e vinha todos os anos participar os festejos de “Momo” em nossa cidade.
Foi ele quem criou a famosa “Boneca”. Não era bonita, segundo dizem, mas o engraçado era o gingado que Lero fazia, balançando aquele mamulengo agarrado no pescoço de um lado para o outro.
O bloco era acompanhado por uma centena de brincantes. Criaram até uma marchinha parodiando uma tradicional música nordestina:

“Acorda Maria Bonita,
Acorda para fazer café,
Que o dia está raiando
A Boneca de Léro, já tá de pé”.

Nos anos 70, salvo engano, Lero se envolveu numa briga e foi preso no sábado que antecedia o carnaval. De nada adiantou os pedidos dos amigos, a polícia parecia irredutível na decisão de só liberar após o carnaval.
Os mais chegados viam naquela prisão uma espécie de punição, talvez pelo fato da boneca mostrar sua irreverência no corredor da folia.
O fato é que Lero só foi solto na quarta-feira de cinzas, mas os seus amigos, entristecidos por ele ter perdido aquele festejo, resolveram fazer um outro carnaval, brincando até o raiar do dia seguinte. Em protesto, mudaram a letra da música da “Boneca”, que ficou assim:

Segura a Boneca Lero
Segura não deixa cair
Segura a Boneca Lero
Que a polícia vem aí.

Lero alegrou muitos carnavais, ao lado do “Zé Pereira” e do “Bumba-meu-boi” de Zé Marcolino. A tradição da “boneca” acabou com seu criador, que faleceu afogado em uma cachoeira no Rio.

Rau Ferreira


Referências:
- ANDRADE, Jailson. Família Andrade: um século de lutas, vitórias e conquistas. Ed. Revista e Ampliacad. José Fábio Barbosa Costa. 3ª Edição. Esperança/PB: 2009.

- SOUZA, Inácio Gonçalves. Memorial do Carnaval de Esperança. Edições Lyrio Verde. 1ª Ed. Esperança/PB: 2016.

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