Pular para o conteúdo principal

Esperança sob o golpe do AI-5 (Parte IV)

O Centro Estudantal de Esperança/CEE desempenhou um papel importante na resistência contra a Ditadura Militar, instaurada no Brasil pós-64. Os estudantes da época eram politicamente envolvidos nos debates contra o sistema, embora houvesse aqueles que permaneciam na retaguarda do movimento e outros a favor da militarização.
O engenheiro Antônio Fernandes ingressou nas fileiras do CEE em 1966, chegando à Presidência em 1970. Foi nesse período que se instituiu um “grupo pensante” em Esperança. As suas reuniões eram realizadas na sede do Centro, que ficava localizada na Praça da Bandeira.
Além do debate fervoroso em prol da liberdade, os estudantes produziam e lançavam manifestos. Os panfletos eram colocados de madrugada por baixo das portas. Participaram deste movimento: Pedro Paulo de Medeiros, Pedro Dias do Nascimento, João Leal e Antônio Ferreira Filho.
Foi então que as atividades do CEE chamaram a atenção das autoridades, passando a ser observadas de perto pelos “dedos duros”. Os principais órgãos repressivos da época eram o Comando de Caça aos Comunistas/CCC e o Departamento de Ordem Política e Social/DEOPS, para os quais eram encaminhadas as “denúncias de subversão”.
O Centro Estudantal chegou a ser arrombado e revirada a sua sede em busca de material considerado “impróprio”. O grupo foi desfeito após a edição do Decreto nº 477 de 26 de fevereiro de 1969, que entre outras coisas extinguia os centros estudantis do país.
Sob outros aspectos, atuaram na luta contra a ditadura Samuel Vital Duarte e José Bezerra Cavalcante. Este último chegou a sair do país, indo residir na Alemanha durante alguns anos.
Samuel afrontou o regime militar ao proferir palestra na 3ª Conferência Nacional dos Advogados, realizada no Recife em dezembro de 1968, sob o tema: “O Estado Constitucional de Direito e a garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana”.
Zezinho – um dos integrantes do movimento literário/artístico “Geração 59” – militou no movimento estudantil representando a União Nacional dos Estudantes/UNE no Comitê Preparatório do 8º Festival Internacional da Juventude em Helsinque na Finlândia e foi assessor da União Internacional dos Estudantes/UIE em Praga na República Checa.
Citemos ainda Chico Souto, que teve seu mandato cassado enquanto Deputado Estadual pela Arena em 1968. No processo de cassação, as acusações contra sua pessoa foram assim resumidas:
“[Francisco Souto Neto] Agitador. Protestou contra as explosões atômicas realizadas por Norte-americanos no Nordeste. Atuou de forma marcante no movimento estudantil de protesto quando da morte do estudante EDSON LUIZ nas agitações estudantis de 1968. Comunista ou simpatizante. Contribuiu com importância em dinheiro para a realização do VII Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes pela Paz e Amizade. Desempenhou tarefas de grande importância no PC. Estabelecia contatos com altos dirigentes comunistas na Paraíba inclusive com LUIZ CARLOS PRESTES. Defensor das “Ligas Camponesas”. Participou da mesa que dirigiu os trabalhos da Conferência da comunista argentina CÉLIA DE LA SERNA DE GUEVARA, em 20 de maio de 1961, na Faculdade de Direito de João Pessoa. Foi um dos que mantiveram contato com o dirigente comunista JACOB GORENDER em JOÃO PESSOA, em 27 de março de 1962. Assinou manifesto da Frente Parlamentar Nacionalista, publicado no “Correio da Paraíba”, de 5 de maio de 1963. Documento que caracteriza a orientação comunista do marginado, bem como sua atuação subversiva”.

Na mesma época, Francisco Cláudio (Chico de Pitiu) formou uma célula do Partido Comunista/PC em Esperança, do qual participavam Jaime de Pedrão e Chico Braga. A célula agregava os simpatizantes do Socialismo e do Comunismo local, até que foram “dedurados” provocando o desligamento dos seus membros. Comenta-se no município, por exemplo, que Chico Braga passou um tempo afastado de seus trabalhos, permanecendo oculto na serra do Algodão.

Rau Ferreira


Referências:
- ANPUH/PB, Anais Eletrônicos do XVI Encontro Estadual de História. Poder, Memória e Resistência: 50 Anos do Golpe de 12964. 25 à 29 de Agosto. ISSN: 2359-2796. Campina Grande/PB: 2014.
- ESPERANÇA, Livro do Município de. Ed. Unigraf. Esperança/PB: 1985.
- IN MEMORIAM, Francisco Souto Neto. Governo do Estado da Paraíba: 1996.

- SÃO PAULO, Comissão da Verdade. Tomo I, Parte II. Disponível em http://verdadeaberta.org/relatorio/tomo-i/downloads/I_Tomo_Parte_2_Perseguicao-ao-Movimento-Estudantil-Paulista.pdf, acesso em 21/12/2016.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Pedra do Caboclo Bravo

Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “ Pedra ou Furna do Caboclo ” que guarda resquícios de uma civilização extinta. A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E n o seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada. A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros. A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. A s várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos pr

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele

Dom Manuel Palmeira da Rocha

Dom Palmeira. Foto: Esperança de Ouro Dom Manuel Palmeira da Rocha foi o padre que mais tempo permaneceu em nossa paróquia (29 anos). Um homem dinâmico e inquieto, preocupado com as questões sociais. Como grande empreendedor que era, sua administração não se resumiu as questões meramente paroquianas, excedendo em muito as suas tarefas espirituais para atender os mais pobres de nossa terra. Dono de uma personalidade forte e marcante, comenta-se que era uma pessoa bastante fechada. Nesta foto ao lado, uma rara oportunidade de vê-lo sorrindo. “Fiz ciente a paróquia que vim a serviço da obediência” (Padre Palmeira, Livro Tombo I, p. 130), enfatizou ele em seu discurso de posse. Nascido aos 02 de março de 1919, filho de Luiz José da Rocha e Ana Palmeira da Rocha, o padre Manuel Palmeira da Rocha assumiu a Paróquia em 25 de fevereiro de 1951, em substituição ao Monsenhor João Honório de Melo, e permaneceu até julho de 1980. A sua administração paroquial foi marcada por uma intensa at

Genealogia da família DUARTE, por Graça Meira

  Os nomes dos meus tios avôs maternos, irmãos do meu avô, Manuel Vital Duarte, pai de minha mãe, Maria Duarte Meira. Minha irmã, Magna Celi, morava com os nossos avós maternos em Campina Grande, Manuel Vital Duarte e Porfiria Jesuíno de Lima. O nosso avô, Manuel Vital Duarte dizia pra Magna Celi que tinha 12 irmãos e que desses, apenas três foram mulheres, sendo que duas morreram ainda jovens. Eu e minha irmã, Magna discorríamos sempre sobre os nomes dos nossos tios avôs, que vou colocar aqui como sendo a expressão da verdade, alguns dos quais cheguei eu a conhecer, e outras pessoas de Esperança também. Manuel Vital e Porfiria Jesuíno de Lima moravam em Campina Grande. Eu os conheci demais. Dei muito cafuné na careca do meu avô, e choramos sua morte em 05 de novembro de 1961, aos 72 anos. Vovó Porfiria faleceu em 24 de novembro de 1979, com 93 anos. Era 3 anos mais velha que o meu avô. Nomes dos doze irmãos do meu avô materno, Manuel Vital Duarte, meus tios avôs, e algumas r

Uma noite de estrelas

  No último dia 03 de março foi à óbito Antônio de Pádua Torres. Compadre de dois de meus filhos, contraparente casado com minha tia Marizé. Ela falecida no dia 27 de setembro de 2019. Primeiro esperancense a ocupar o mais alto posto do Ministério Público, com assento na Câmara Criminal. Filho do agente fiscal Severino de Alcântara Torres e dona Corina Coêlho. Faria 81 anos no próximo dia 15 deste mês. Votos de pesar foram registrados pela prefeitura local, Câmara Municipal de Campina Grande, Academia de Letras de Campina Grande e a Ordem dos Advogados seccional campinense. Era um grande conhecedor da nossa história, mesmo porque dela participou ativamente. Em nossa cidade, trabalhou na antiga concessionária Chevrollet, que funcionava na rua do Sertão; foi Secretário de Administração na primeira gestão de seu Luiz Martins e, imaginem, ex-aluno do Seminário Propedêutico “Nossa Senhora das Graças”, organizado por Padre Palmeira (1957). Uma noite amanhecemos o dia ouvindo música e