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O ataque do tubarão, por Júlio César

Por Júlio César (*)
Mantendo ainda minhas memórias sobre o cine São José me recordei de uma experiência pessoal de grande significado para o resto da minha vida. Vou omitir o nome da pessoa, pois sei que atualmente deve ser alguém que ainda viva em Esperança e quem sabe já com família composta. Mas, naqueles anos 80 a maior parte da meninada já estava migrando da infância para a adolescência e era mais do que natural ocorrerem as “paquerinhas” oriundas das praças ou da convivência dos amigos com amigas.
Foi numa dessas amigas que encontrei uma parceria ideal, não somente de estudos na escola, mas, também de brincadeiras de rua, afinal formávamos uma dupla quase imbatível na “baleada”, no “cuscuz queimado”, “toca” e na “barra bandeira” éramos os mais velozes e mais disputados pelos colegas para compor suas equipes e os mais precisos quando o assunto era acertar o alvo.
A sincronia era quase perfeita, ao ponto, do restante dos colegas começarem a incita um futuro namoro. Coisa que para nos dois era pura besteira da turma. Mas, não posso negar que mesmo nós dois oferecendo resistência à insistência dos amigos e preferindo manter aquela amizade legal, havia um clima de paquera no ar.
E quanto mais nós interagíamos, mais preocupante ficava, e com o passar do tempo acabamos chegando ao chamado “limite de time”. Aquele que, ou você toma uma atitude e define a partida, ou o tempo passa e a história segue outro rumo, e o meu momento do “time” foi justamente no velho cine São José.
Toda a turma combinou de assistir um filme e o destaque da matiné era Tubarão III (pense num romantismo) e neste dia estava disposto da dar o primeiro passo além da amizade com essa colega. Mas...
Durante o filme não estava me sentindo bem, além da tensão natural da situação, o filme tinha cenas muito forte de sangue e nesse tempo eu tinha pegado uma sensibilidade forte com relação a ver sangue. Bastava ver que a sensação de desmaio vinha na hora. Ainda lembro-me da garota me dizendo, tua mão esta tão gelada, ou, você deu duas cochiladas na cadeira.
Na verdade, dei duas desmaiadas ao ver cenas de mutilação pelos ataques do Tubarão às vitimas no filme. Em dado momento dei uma recuperada e ainda meio compadecido parti para tentar dar um beijo na minha amiga. Tudo estava indo sem nenhuma resistência até que segundos antes de tocar os lábios dela, eis uma nova cena de tubarão decepando gente, aí não deu.
Comecei a ter ânsia de vomito e virei de lado, lá se foi à pipoca da tarde. Aí meu desejo de beijo foi transformado na frase; “me tira daqui que vou ter uma biloura!”. Ela me retirou, fui ao banheiro lavei a boca, bebi muita água, comprei um chiclete de menta e saímos juntos para eu tomar mais ar na pracinha do colégio Irineo Jofilly.
Lá conversamos muito, tomamos sorvete, falamos do que a turma tava fazendo conosco, citamos o que um sentia pelo outro e no fim acertamos que seriamos “Namoramigos”. No fim da conversar trocamos um beijo (quase um selinho) e assim mantivemos nossa amizade como antes, sem dar muita trela aos colegas. A grande novidade era às vezes ganhar um selinho quando tudo dava certo nos estudos, nos aniversários e nas vitórias e principalmente nas lágrimas que ficaram quando retornei para Campina Grande. Restaram-nos as cartas, que em pouco tempo, pararam de serem escritas para que pudéssemos seguir nossos caminhos distintos!

Por Júlio César (*)
(*) Cartunista e pesquisador, atualmente desenvolve um projeto que finalizará em 2014 com a publicação de um livro sobre o futebol paraibano.


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