Raimundo Viturino me enviou por e-mail um de seus poemas. Este, em particular, narra um fato de sua infância. Na visão do menino, havia uma mulher batalhadora e incansável “na luta para prover a sua prole”. Certo dia o poeta observou “muita tristeza no semblante dessa pessoa” e prontamente rabiscou os versos que seguem:
Triste Olhar
Passo e ele me segue
Até me perder na impotência da retina.
Sem brilho, cinzento, úmido...
Ah, triste olhar que me suplica
Um pouco de algo perdido,
Algo sentido, implorado e querido,
Que lhe tirou o brilho,
Doou-lhe a lágrima
Inchou suas pálpebras,
Roubou-lhe o mundo.
Ah, triste olhar que chora melancolias
Triste olhar que vai e que vem
Em busca das belezas
Que ficam detrás do horizonte,
Bem longe, onde se esconde o sol
E onde imagina encontrar a felicidade.
Raimundo Viturino, Em 25/09/1989
"TRISTE OLHAR" é um poema de rara beleza. Imaginamos aquela mulher como tantas outras desprovidas de tudo e que nos conta no seu olhar de súplica tudo o que precisamos saber. Quem viveu como nós esta dura realidade reconstrói nos recôncavos da memória passagens de uma infância de dificuldades irmanadas com outros iguais.
Se os poderosos deste mundo tivessem sensibilidade para compreender essas palavras certamente o Nordeste não seria tão sofrido. E o nosso povo seria mais feliz!
O que posso mais dizer, senão reconhecer por compromisso com a verdade que se Raimundo não for um dos maiores poetas do seu tempo não estamos vivendo no tempo certo.
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