Silvino Olavo – ou simplesmente Sol – foi o poeta que recepcionou Mário de Andrade na Paraíba com outros intelectuais de renome quando o escritor de “Macunaíma” fazia a sua “viagem etnográfica” patrocinada pelo Diário Nacional, jornal paulista que circulou de 1927 a 1932. Ele ajudou o folclorista fazendo contatos locais na Capital e em passeios pelas cidades da Parahyba e Rio Grande do Norte.
O “Turista
Aprendiz”, como ele próprio se denominava em suas publicações, registrava em
suas viagens as manifestações culturais. A visita ao nosso Estado foi assim
descrita em suas anotações:
“Paraíba, 28 de janeiro, 3 da
madrugada.
Este primeiro dia de Paraíba tem de
ser consagrado ao caso da aranha. Não é nada importante porém me preocupou
demais e o turismo sempre foi manifestação egoística e individualista.
Cheguei contente na Paraíba com os
amigos José Américo de Almeida, Ademar Vidal, Silvino Olavo me abraçando. Ao
chegar no quarto pra que meus olhos se lembraram de olhar pra cima? Bem no
canto alto da parede, uma aranha enorme, mas enorme” (O Turista Aprendiz.
Iphan: 2015, p. 345).
Os “amigos” o
aguardavam em Mamanguape, tendo o romancista deixado Natal no dia anterior (27/01).
Naquele mesmo dia, pela manhã, circulou pela “cidade progressista” com a
fábrica dos Lundgren, onde conheceu “as partes antigas” e a “magnífica” Igreja
de S. Francisco, num “passeio suado mas delicioso”, anotando em seu diário: “Os
três amigos se esforçam pra que eu colha melodias. Estão gentilíssimos” (Op.
Cit, 2015: p. 235-236).
Na capital hospedou-se
no Hotel Luso-Brasileiro do Varadouro. Após o jantar, Mário fez um pequeno
passeio pela orla: “lua cheia, a praia de Tambaú maravilhosa, onde
surpreendo crianças bailando coco. Estupendo”. Admirou-se com uma menina de
oito anos que era “virtuose no ganzá” e, estranhando escreveu: “Palavra que
inda não vi”. Não passou muitos dias naquela hospedaria, pois foi abrigar-se na
casa de Ademar Vidal, na rua das Trincheiras, para fugir das muriçocas.
Mário permaneceu
dez dias na Parahyba desfrutando do convívio dos colegas intelectuais ligados à
Revista “Era Nova”, cujo encontro teria sido mediado por Câmara Cascudo e
Antônio Bento. Visitou Brejo do Cruz, Catolé do Rocha e Guarabira.
Na despedida para
o Recife (08 de fevereiro), Mário toma café no “Odilon do Jacaré” na companhia
de alguns populares que encenavam o “Boi Valeroso”, representação essa que lhe
rogou “praga” de que havia de voltar à Parahyba e se casar.
No “bota fora”
estavam o poeta Silvino Olavo, Antônio Bento, Ademar Vidal e o Gal. Cavalcanti.
Ao final de tudo,
escreveu:
“Paraíba tem antiguidades
arquitetônicas esplêndidas. Algumas como boniteza, outras só como antiguidade.
E já falei que o convento de S. Francisco é a coisa mais graciosa da
arquitetura brasileira. Dantes possuiu um subterrâneo enorme, no tempo do
holandês, comunicando com a fortaleza de Cabedelo. No subterrâneo vivia um
dragão que comia as crianças de medo” (O Turista Aprendiz. Livraria Duas
Cidades: 1983, p. 315).
Silvino Olavo
ainda esteve com Mário de Andrade em Goianinha no Rio Grande do Norte, onde o
cronista registrou em foto a fachada do cemitério tendo o poeta como “régua”
para medir a altura daquela construção.
Rau
Ferreira
O poeta como régua. Melhor instrumento para medir não sei se há. Mas sei de um amigo que é referência. Dele espero em breve que seja a métrica para criticar um cordel ainda rondando minhas ideias...
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