NO HISTORIADOR IRINEU JÓFFILY SE RESUMEM AS QUALIDADES CULMINANTES DA NOSSA APTIDÃO
Hortênsio
de Souza Ribeiro
(Discurso
pronunciado na Academia Paraibana de Letras, por ocasião da posse do Acadêmico
Epaminondas Câmara no dia 21 de julho de 1945).
“Epaminondas
Câmara nasceu na cidade de Esperança, a antiga vila de Banabuié, que tão belos
espíritos, tem dado à Paraíba: um Silvino Olavo, um Samuel Duarte, por exemplo.
Descendente da velha copa paraibana, foram seus pais: Horácio de Arruda Câmara
e D. Idalgina Sobreira Câmara. A sua infância viveu Epaminondas em Esperança,
donde se ausentou aos 10 anos para Batalhão ou Taperoá, permanecendo nesta
cidade sertaneja dois lustros, quando se transladou definitivamente para
Campina Grande em 1920.
Nunca
frequentou escolas nem colégios. Aprendeu noções de primeiras letras em
Esperança com a professora D. Maria Sobreira, viúva de Juviniano Sobreira, e em
Batalhão com o professor Minervino Lúcio de Vasconcelos Cavalcanti. Em Campina
Grande Clementino deu-lhe lições de gramática; Renato de Alencar, noções de
contabilidade. Fez um curso livre no Ginásio Pio XI, não chegando, porém, ao
término dos estudos. Com os rudimentos das primeiras letras e suas noções de
aritmética, Epaminondas Câmara contemplou o mundo e a sociedade, leu e meditou
e, nas horas vagas que lhe deixavam os seus afazeres num dos grandes
estabelecimentos de crédito de Campina Grande, ia lançando ao papel o resultado
da sua elaboração intelectual, que são os “Alicerces de Campina Grande, já
publicados, e “Municípios e freguesias da Paraíba” e “Datas Campinenses” em via
de publicação.
Examinemos
de passagem algumas das vossas indicações, no domínio especulativo. Dissestes
que “o cósmico e o mental são regidos pelas mesmas leis e pelos mesmos
princípios”. É uma verdade irrefutável. Apreciando o entrechoque das
competições humanas e as explosões dos nossos pendores pessoais, afirmais
convicto a indestrutibilidade da virtude e que a bondade divina faz guarida nos
corações. [...].
Depois
de discreteardes sobre o que seja inteligência e instinto, quanto à
variabilidade desses fenômenos, abeirando-vos da questão da insteidade dos
nossos pendores benévolos, concluis que bem poderíamos nos aproveitar “dessas
faculdades, que para vós consiste na fidelidade à natureza e obediência a Deus.
Em resumo, guiado pelo vosso bom senso, chegais a conclusão que tudo depende do
exercício contínuo dos nossos pendores generosos, e que a causa dos males que
conturbam a espécie humana reside no mau emprego que fazem os homens dos seus
sentimentos pessoais ou como chamais “instintos”.
Já
falei que farto da vossa capacidade ou instinto de generalização. Devo dizer
algumas palavras a respeito dos vosso apanhados históricos relativos a Campina
Grande e à região em que se ostenta a referida cidade.
Sois
como todos sabem um percuciente pesquisador. Frequentais arquivos com a
obstinação duma traça de biblioteca. Assim tem feito todos os obreiros mentais
do passado histórico da Paraíba. Um Maximiano Machado, um I. Jóffily, um Irineu
Pinto, um João Lira Tavares, um Pedro Batista, para citar apenas os mortos.
Aqui e ali aceitais a tradição oral, quando não fazeis uma indução ousada. Com
o gosto de especular teoricamente preferis uma hipótese complicada mas que
esteja de acordo com o vosso ponto de vista preestabelecido. No meu modo de ver
infringir aqui a regra lógica que nos aconselha a formular sempre a hipótese
mais simples de acordo com os dados obtidos.
Seja
com for, os resultados das vossas pesquisas, a vossa produção intelectual vos
dão direito à poltrona na Academia.
[...]
Seja
bem vindo, Sr. Epaminondas Câmara!”.
Hortênsio
de Souza Ribeiro
Fonte
- A UNIÃO, Jornal.
Ano LIII, Nº 163. Edição de 23 de julho. João Pessoa/PB: 1945.