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Gemy Cândido


Gemy era filho de seu Severino e dona Francisca, mais conhecida por “Chiu”. O seu pai era barbeiro e sua mãe feirante. Ele foi o terceiro de nove irmãos, nascido em Esperança, no dia 26 de agosto de 1943.

Escritor e crítico literário, verbete da Biblioteca do Congresso Americano, era também sociólogo, bibliófilo e historiador.

Foi o primeiro a receber por um produto literário na Paraíba. Exibia com orgulho o cheque emitido pela União Companhia Editora de Cr$ 475,00 em razão de um conto e três comentários publicados no Correio das Artes, mencionados na crônica de Gonzaga Rodrigues:

“Do gênero essencialmente literário, laborando o conto ou o bosquejo crítico, esse foi, sem dúvida, o seu primeiro ganho. Não o ganho de Gemy, fazendo jus a algum esforço de redação, mas o ganho do produto [...]” (O Norte, 19/11/1975).

E complementa Luiz Augusto Crispim: “Ninguém escreveu com mais sinceridade sobre criação paraibana do que Gemy Cândido. Até mesmo nas injustiças que comete” (O Norte: 13/031983).

Avesso às reuniões literárias, muito raramente era visto nos encontros intelectuais e “pegou rixa” com quase todo mundo - no dizer de Eilzo Matos - exceto com Evandro da Nóbrega, Gonzaga Rodrigues, Petrônio Souto, Glorinha Gadelha... segundo o seu irmão Gesiel “Gemy era um desses intelectuais que tinha amor, ódio, fé, crença e coragem, porém tinha um humor baixo”.

Dele nos dá conta também Waldemar Duarte: “não é homem de concessões. Seus conceitos, embasados em estudos metodológicos não toleram a mediocridade [...]” (O Norte, 12/12/1980).


Gemy era um bibliógrafo. Ávido pela leitura. Possuía um imenso acervo. Muitos escritores lhe enviavam trabalhos para que pudesse analisar. Adquiria livros como quem compra o pão diário. E devorava-os.

Era o pensador e crítico, o intérprete e organizador das palavras, funções que se fundem para criar as suas obras. Muitos de seus escritos podem ser encontrados no “Correio das Artes”, suplemento do Jornal A União, que era editorado por seu cunhado Jurandy Moura.

Hildeberto Barbosa Filho, ao escrever o seu tributo (A União: 01/09/2024), compara-o aos mais excelentes literatos de nossa Paraíba: Eudes Barros, João Lélis, Manoel Tavares Cavalcanti, Ascendino Leite, Eduardo Martins, José Rafael de Menezes, Horácio de Almeida, José Octávio de Arruda Melo. E prossegue:

A efígie do crítico literário como um “solitário sobre penhascos batidos de rajadas sibilantes e da arrebentação das ondas em volta”, na singular alegoria de Fidelino de Figueiredo, casa-se perfeitamente com a sua irrequieta individualidade dentro do contexto geral da província. Fez poucos amigos, fez muitos desafetos. Não obstante, o homem inteligente e sensível aos vocativos do espírito, assim como também as instituições culturais do estado, não podem ficar indiferentes à sólida contribuição intelectual que deixou” (A União, 01/09/2024).

Deixou muitos inéditos. A sua filha Mary Ellen falou-me de pelo menos uns trinta. Chegou a me mostrar alguns: estudos, poemas etc. Hildeberto também menciona em sua homenagem querendo ver publicado: Fundamentos Históricos e Sociais da Literatura Paraibana; O Código da Linguagem Estética; Escorço Bibliográfico da Poesia Paraibana; e Dicionário Bibliográfico da Literatura Paraibana.

Contento-me com a publicação de “Riachão de Banabuyé”. Livro bem escrito, pesquisa afinada. Narrativa detalhada a seu tempo. “Esperança não tinha melhor intérprete e melhor escrito do que Gemy Cândido”, resume Gonzaga Rodrigues. De fato, traçou toda a sua gênese para que as futuras gerações pudessem conhece-la melhor.

 

Rau Ferreira

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