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Silvino, o Rilke da Parahyba

 

Do “Vigia da tarde”, uma espécie de crônica do jornal literário, extraímos das memórias de Ascendino um trecho d’uma conversa com Alcides no qual se mencionou o poeta Silvino Olavo:

“* Mais tarde, no Ginástico Almoço com Alcides Carneiro. Pela primeira vez, lhe ouço confidências bem menos políticas que familiares. Seu belo espírito, acima das contrariedades pessoais, retoma depressa o equilíbrio intelectual, lembrando Chesterton nas aparições imaginárias.

Falamos de Silvino Olavo, o poeta louco da Paraíba, claro e sensível como Rilke ante o dilúvio solar, queimando tudo.

Pouco antes, caminhando pela Graça Aranha, o Odylo Costa, filho, passa por mim e finge que não me vê.

Foi como se passasse ao fogo meu coração e meus rins, ele que lê os salmos, um gênero poético às vezes impiedoso. Retempero-me no pensamento de que tenho um nome íntimo com o qual estou a habituar-me”.

Ascendino Leite (1915/2010) foi jornalista e redator de assuntos parlamentares. Fundou a Associação Paraibana de Imprensa. O seu “Jornal Literário” foi referência no gênero.

Alcides Vieira Carneiro (1906/1976) formou-se em direito, sendo o fundador da Cadeira 34 da Academia Paraibana de Letras. Atuou na Procuradoria de Justiça, trabalho como Consultor Jurídico do MEC, Curador de Massas Falidas e de Menores e, por fim, foi Ministro do Superior Tribunal Militar.

Os amigos falavam de Rainer Maria Rilke (1875-1926), um dos mais líricos e intensos poeta alemão. O romancista evocava o existencialismo e exerceu forte influência no expressionismo. Seu primeiro livro foi Vida e canções (Leben und Lieder) em 1894.

Gilbert Keith Chesterton (1874-1936), ou simplesmente, G. K Chesterton foi ensaista, contista e dramaturgo, considerando o “príncipe do paradoxo”. Criticava tanto o socialismo quanto o capitalismo, pois via no distribucionismo um melhor modelo. Foi membro da “Sociedade Fabiana” (organização socialista britânica). Uma de suas principais obras foi a “Ortodoxia”, publicada em 1909. Ao todo, foram mais de oitenta livros, uma centena de poemas, duzentos contos e quatro mil ensaios.

Odylo Costa Filho (1914-1979) era jornalista, novelista e poeta, também membro da Academia Brasileira de Letras. Foi secretário de imprensa de Café Filho e Diretor da Rádio Nacional. Publicou vários livros.

Silvino Olavo dispensa comentários. Era o “Impenitente poeta gangórico que é o Jacarandá branco da Parahyba” (Crítica-RJ, 31-12-1929), possuidor de uma inteligência primorosa, no dizer de José Américo de Almeida (PEREIRA: 1987, p. 127), o qual segundo o escritor e historiador José Otávio foi “quem melhor antecipava as formulações corporativas da Revolução de 30” (OTÁVIO: 1988, pág. 41).

 

Rau Ferreira.

 

Referências:

- A CRÍTICA, Jornal. Edição de 31 de dezembro. Rio de Janeiro/RJ: 1929.

- LEITE, Ascendino. O vigia da tarde: jornal literário. Eda Edit. Rio de Janeiro/RJ: 1982, p. 92.

- O SEBO CULTURAL, Site. Disponível em: https://www.osebocultural.com/galeria/27,,ascendino-leite/galeria.html, acesso em 07/08/2024.

- OTÁVIO, José. O Brasil da Primeira Guerra Mundial ao Estado Novo. Edições UFPB. João Pessoa/PB: 1988.

- PEREIRA, Joacil de Brito. José Américo de Almeida: a saga de uma vida. ISBN 9788570450081.8570450087. Editora Instituto Nacional do Livro. Senado Federal. Brasília/DF: 1987.

- WIKIPÉDIA, A enciclopédia livre. Artigo: Rilke. Disponível em: https://pt.wikipedia.org, acesso em 07/08/2024.


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