Pular para o conteúdo principal

Evolução do catolicismo, de Epaminondas Câmara

 


Depois do livro de Boulanger Uchôa (Subsídios para a História Eclesiástica de Campina Grande), o que mais se aproxima acerca do registro histórico da religião campinense é o livro de Epaminondas Câmara: “Evolução do catolicismo na Paraíba-aos 500 anos da descoberta do Brasil

Moacir Germano, em suas notas introdutórias, destaca a destreza do autor, que ao mesmo tempo se apresenta como “historiador e artista”, comparando-o a Tolstói em seu clássico “Guerra e Paz”:

E Epaminondas Câmara, ao que nos parece, tinha também essa consciência e guardava em si, intrinsicamente ligados, os espíritos do historiador e do artista ao mesmo tempo” (CÂMARA: 2000).

Foi imbuído nesse espírito que o escritor esperancense começou a escrever, para o órgão católico “A Imprensa”, artigos que foram publicados entre 9 de abril a 12 de agosto de 1950, totalizando sessenta textos que compuseram este livro sobre o catolicismo na Paraíba.

O jornal “A Imprensa Catholica” foi criado em 1893 pela Diocese da Parahyba para “divulgação das crenças católicas, reafirmar o poder e a importância da igreja na vida dos cidadãos paraibanos” sendo “utilizado ao longo de sua existência jornalística para combater de forma contundente o espiritismo” (JÚNIOR: 2023).

Moacir Germano ainda comenta:

Logo no primeiro artigo, parece-nos que ele deixa bastante claro este pensamento quando diz textualmente, após citar algumas obras por ele pesquisadas: ‘E quanto aos demais livros da história paraibana, tenho observado que os seus autores não tem situado, no verdadeiro lugar, a grande influência, ou melhor, a grande coadjuvação da Igreja Católica na evolução social, moral, cultural e econômica do nosso estado’. O pensamento de Tolstoi parece ficar evidenciado na obra de Epaminondas Câmara, quando ele escreve que ‘não me interessa o fato de alguns historiadores universais ou brasileiros, a serviço de credos, filosofias ou sistemas políticos inconsistentes procurarem desvirtuar ação da igreja pondo em relevo alguns fatos, isolados e reprováveis cuja culpa não cabe a ela, mas a certos clérigos desviados da sublime missão’” (CÂMARA: 2000).

A produção textual de Epaminondas permaneceu arquivada na Cúria Metropolitana por cerca de meio século, apesar de publicada nos folhetins de “A Imprensa”; foi o professor Antônio Soares que se esmerou em garimpar essa relíquia para publicar, através das Edições Caravela, com a ajuda do Núcleo Cultural Campinense e da Academia de Letras de Campina Grande aquela que “resistiu às traças e aos cupins”.

A obra destaca a influência da Igreja Católica no movimento social e cultural do Estado, sem olvidar a participação do protestantismo na formação do ser e do saber de nossa gente; e muito menos a despeito contribuição do domínio holandês na formação da identidade popular.

O Espiritismo era conhecido e praticado no Brasil desde o Século XIX, com a sua inserção oficial através da Federação Espírita surgida no Rio de Janeiro em 1884, e em nível local pela Federação Espírita Paraibana, criada em 17 de janeiro de 1916.

O Protestantismo, de acordo com Epaminondas Câmara, surgiu em Campina Grande por volta de 1912, quando se começou a erguer a “Igreja Evangélica” na rua do Açude Novo, fundada por Sinfrônio Costa, com 30 membros e dois oficiais: Presbítero João Canuto e Diácono Eulálio Eliazar.

O livro possui 140 páginas e em sua folha de rosto dá autoria da capa ao cartunista Fred Ozanam, com fragmentos de xilogravura de Josafá de Orós.

No dizer de Germano, não se constitui em uma apologia ou elogio ao clero, mas um relato da instituição no desbravamento do território e sua expansão da catequese. Ela apresenta não apenas a formação moral, mas o contributo social e econômico das irmandades missionárias católicas, ligadas a alfabetização, construção de escolas e postos de trabalho.

 

Rau Ferreira

Referências:

- CÂMARA, Epaminondas. Evolução do catolicismo na Paraíba. Edições Caravela. Capa de Fred Ozanam, com fragmentos de xilogravura de Josafá de Orós. Campina Grande/PB: 2000.

- JÚNIOR, Cleofás Lima Alves de Freitas. A inserção do discurso protestante em Campina Grande (1901-1930): uma introdução. I Colóquio Internacional de história: Sociedade, natureza e cultura. ANPUHPB. Anais XIII. UFCG. Campina Grande/PB: 2008.

- JÚNIOR, José Pereira de Souza. Campos de enfrentamento: Catolicismo versus Espiritismo na Paraíba (1890-1935). XXIX Simpósio Nacional de História. ISBN: 978-85-98711-18-8. UnB. Brasília/DF: 2017.

- JÚNIOR, José Pereira de Souza. O papel do jornal “a imprensa catholica” e das cartas pastorais no combate ao protestantismo, o espiritismo e a expansão do catolicismo na Paraíba (1889-1930). Revista Semina, Vol. 22, n. 2, p.30-46. Passo Fundo-MG: 2023.

- UCHÔA, Boulanger de Albuquerque. Subsídios para a História Eclesiástica de Campina Grande. Rio de Janeiro/RJ: 1964.

Postagens mais visitadas deste blog

A Exposição de Helle Bessa

  Por Ângelo Emílio da Silva Pessoa*   Nessa Quinta-feira (12/06/25), na Galeria Lavandeira (CCTA-UFPB), tive a honra e o prazer de comparecer à abertura da Exposição "Impressões Contra o Fim", da artista plástica Helle Henriques Bessa (1926-2013), natural de Esperança (PB) e que tornou-se Freira Franciscana de Dillingen, com o nome de Irmã Margarida. Durante anos foi professora de artes nos Colégios Santa Rita (Areia) e João XXIII (João Pessoa). Helle Bessa era prima da minha mãe Violeta Pessoa e por décadas convivemos com aquela prima dotada de uma simpatia contagiante. Todos sabiam de seu talento e que ela havia participado de exposições internacionais, mas sua discrição e modéstia talvez tenham feito com que sua arte não tenha ganho todo o reconhecimento que merecia em vida. Anos após seu falecimento, as Freiras Franciscanas doaram seu acervo para a UFPB e foi possível avaliar melhor a dimensão de seu talento. As falas na abertura destacaram seu talento, versatilida...

As festas de S. João (1933)

  Jornal “A União”   Constituíram um verdadeiro acontecimento as festas sanjoanescas nessa florescente vila serrana. O programa das mesmas, que foram realizadas em benefício da Caixa Escolar “Joviniano Sobreira”, ficou a cargo de 3 comissões, assim distribuídas: Comissão Central: Drs. Sebastião Araújo, Samuel Duarte, Heleno Henriques, Luiz de Gonzaga Nobrega, Manuel Cabral, Srs. Júlio Ribeiro, Theotônio Costa, Manuel Rodrigues, José Souto, Severino Diniz, Theotônio Rocha e Pedro Torres, Sras. Esther Fernandes, Firmina Coelho Nobrega, Virgínia Cunha, Elvira Lima, professora Lydia Fernandes e Severina Sobreira; comissão de organização – Srs. José Carolino Delgado, José Brandão, Sebastião Rocha, José Rocha, Antônio Coêlho, Fausto Bastos, José Passos Pimentel, Miguel Felix, João Santiago Ulisses Coelho, Francisco Bezerra, Claudino Rogério, Francisco Soares; comissão de ornamentação – senhoritas Noemia Rodrigues, Marieta Coelho, Dulce Paiva, Hilda Rocha, Oneide de Luna Freire...

Sitio Banaboé (1764)

  Um dos manuscritos mais antigos de que disponho é um recibo que data de 1º de abril do ano de 1764. A escrita já gasta pelo tempo foi decifrada pelo historiador Ismaell Bento, que utilizando-se do seu conhecimento em paleografia, concluiu que se trata do de pagamento realizado em uma partilha de inventário. Refere-se a quantia de 92 mil réis, advinda do inventário de Pedro Inácio de Alcantara, sendo inventariante Francisca Maria de Jesus. A devedora, Sra. Rosa Maria da Cunha, quita o débito com o genro João da Rocha Pinto, tendo sido escrito por Francisco Ribeiro de Melo. As razões eram claras: “por eu não poder escrever”. O instrumento tem por testemunhas Alexo Gonçalves da Cunha, Leandro Soares da Conceição e Mathias Cardoso de Melo. Nos autos consta que “A parte de terras no sítio Banabuiê foi herdade do seu avô [...], avaliado em 37$735” é dito ainda que “João da Rocha Pinto assumiu a tutoria dos menores”. Registra-se, ainda, a presença de alguns escravizados que vi...

Padre Zé e o Cinquentenário da Escola das Neves

Quando a Escola das Neves, que funcionava na Capital paraibana, completou cinquenta anos, o Padre Zé Coutinho escreveu uma emocionada carta que foi publicada no Jornal O Norte em 13 de novembro de 1956. O fundador do Instituto São José iniciou os estudos primários no Colégio Diocesano Pio X, quando aquele educandário funcionava como anexo ao Seminário Arquidiocesano da Parahyba. Depois matriculou-se no Colégio N. S. das Neves, naquela mesma cidade, pois ainda havia uma seção para estudantes do sexo masculino. Retornou, depois, para o Pio X para fazer o curso secundário. A missiva – endereçada a Benedito Souto – trazia o seu depoimento sobre aquele tradicional educandário: “Também, fui aluno do Curso Masculino, de Julho de 1906 a Novembro de 1907, ao lado de Alceu, Antenor e Mirocem Navarro, Mário Pena, Paulo de Magalhães, João Dubeux Moreira, Ademar e Francisco Vidal, Otacílio Paira, Mário Gomes, Gasi de Sá e tantos outros” – escreveu o Padre Zé. Era professora a Irmã Maria Anísi...

Dica de Leitura: Badiva, por José Mário da Silva Branco

  Por José Mário da Silva Branco   A nossa dica de leitura de hoje vai para este livro, Badiva, voltado para a poesia deste grande nome, Silvino Olavo. Silvino Olavo, um mais ilustre, representante da intelectualidade, particularmente da poesia da cidade de Esperança, que ele, num rasgo de muita sensibilidade, classificou como o Lírio Verde da Borborema. Silvino Olavo, sendo da cidade de esperança, produziu uma poesia que transcendeu os limites da sua cidade, do seu Estado, da região e se tornou um poeta com ressonância nacional, o mais autêntico representante da poética simbolista entre nós. Forças Eternas, poema de Silvino Olavo. Quando, pelas ruas da cidade, aprendi a flor das águas e a leve, a imponderável canção branca de neve, o teu nome nasceu sem nenhuma maldade, uma imensa montanha de saudade e uma rasgada nuvem muito breve desfez em meus versos que ninguém escreve com a vontade escrava em plena liberdade. Silvino Olavo foi um poeta em cuja travessia textual...