Pular para o conteúdo principal

Projeto de Lei nº 13 - Criação do Município de Esperança

Reuniu-se a Assembleia Legislativa do Estado para discutir e votar proposta dos deputados no dia 23 de novembro de 1925. Constava do expediente um abaixo-assinado dos habitantes de Esperança solicitando a sua emancipação política.

De fato, desde que o governador houvera comparecido a essa localidade em maio daquele ano, a pretexto de inaugurar o sistema de luz elétrica, havia sido eleita uma comissão que tinha a frente Manuel Rodrigues, Teotônio Costa e Elísio Sobreira, sendo porta-vozes Silvino Olavo e Severino Irineu Diniz que, com inflamados discursos, arrebataram para essa localidade os anseios emancipatórios de João Suassuna.

Naquela sessão legislativa, ocorrida seis meses depois do levante, propôs o deputado Antônio Guedes o Projeto de Lei nº 13, que criava o Município de Esperança, e que tinha o seguinte teor:

A Assembleia Legislativa da Parahyba

RESOLVE:

Art. 1º.  – Fica constituído o município de Esperança tendo por sede a atual povoação do mesmo nome.

Art. 2º – Os limites do município ora criado são os seguintes: com o município de Alagoa Nova, pelo curso do Riacho Amarelo, a começar na foz do Riacho de Justino Maceió também conhecido pelo nome de Riacho Punaré à casa de Manuel Euzébio, sobe pelo dito Riacho Amarelo até suas nascentes em frente à casa de José Paes, seguindo pelo divisor d’águas até encontrar a estrada que via para Areial prosseguindo por ela até o lugar Lages; com o município de ]areia, parte o limite do lugar Carrasco e seguirá diretamente ao Riacho Punaré e prossegue até encontrar as estradas de Cauyana e de Esperança, atravessando esta seguirá pela estrada de Meia Pataca, daí até alcançar a que conduz a Pedra Pintada passando entre as casas de José Baraúna e Manuel Raymundo até sair na estrada de Umbú, fazenda dos herdeiros de José Rasgueiro, donde segue pela estrada que vai a Francisco Cavalcante, prosseguindo até a estrada que vai ter à casa de Antonio Francisco a margem do rio Cabeço, cujo curso, no sentido das nascentes, servirá de limites a´te a Cachoeira de Padre Bento; com Campina Grande a partir de S. Sebastião no lugar onde se limitam Alagoa Nova e Campina Grande se dirige para Mamanguape pela estrada dos Pereiras e Furnas, rumando-se pelo nascente a margem da Lagoa Rasa, sita à esquerda da estrada carroçável de Pocinhos a Areial segue pelo caminho que passa na fazenda Caldeiro e daí pelo lado oriental da Fazenda Felix Gama no lugar Bom Jesus antigamente denominada Sapa até o rio deste mesmo nome, pelo qual desce até encontrar os limites de Areia e Campina Grande.

Art. 3º. – O município de Esperança constituirá um termo judiciário subordinado à comarca de Areia.

Art. 4º. – O distrito de paz de Água Branca do município de Piancó, com os seus atuais limites passará a pertencer ao município de Princesa.

Art. 5º - Fica revogado o art. 6º da Lei nº 424 de 28 de outubro de 1925.

Art. 6º - Os conselhos municipais poderão entrar em acordo para alterar os respectivos limites com anexação ou desmembramento ou porções de seus territórios.

§ Único – Essas resoluções produzirão desde logo os seus efeitos mais serão submetidas a aprovação da Assembleia na sua primeira reunião.

S. S., em 23 de novembro de 1925”.

 

À proposta aderiram os deputados Heretiano Zenaide, João José Maroja, Padre Cyrillo de Sá, Matheus de Oliveira, José Queiroga, José Pereira Lima, Izidro Gomes, Silva Mariz, Pedro Firmino, Costa e Souza, Antônio Botto e Pedro Ulisses. Apenas o Padre Aristides Ferreira da Cruz foi contrário.

Em sua fala, sustentou o propositor o seu projeto, assegurando a prosperidade local, com casas comerciais dignas de concorrer com a capital, uma gente laboriosa, perseverante e honesta.

Em relação aos limites municipais, assevera que foram determinadas de inteiro acordo com as pessoas mais representativas dos municípios que iriam ceder parte de suas terras para constituírem a nova comuna.

Neste sentido, o deputado Neiva de Figueiredo, chefe político alagoa-novense, estava de pleno acordo, assim como os líderes de Campina Grande e de Areia.

Após uma breve discussão, foi posto o projeto na ordem do dia para votação e, colocado em primeira discussão, pediu a palavra o deputado Padre Aristides que teceu comentários sobre o art. 4º daquele projeto de lei, pugnando pela sua revogação.

Na sessão seguinte (dia 24/11), foi levado o programa nº 13 também em segunda discussão, sendo-lhe aprovados os arts. 1º, 2º e 3º. Procedida a leitura do art. 4º, pediu a palavra o deputado Aristides Ferreira, que disse ter recebido um telegrama assinado pela maioria dos habitantes de Água Branca que se manifestavam contrários a pretendida anexação.

Após os debates, foram aprovados não só o art. 4º, como o art. 5º do Projeto nº 13/1925. Porém, por falta de número, deixou de entrar a ordem do dia o art. 6º em diante e a matéria que dela constava, suspendendo-se a sessão pelo adiantado da hora. Apenas na reunião do dia 26 é que foram aprovados os arts. 6º e 7º que tratavam da criação do município de Esperança.

O projeto de lei foi sancionado pelo Presidente da Parahyba, Dr. João Suassuna, em 1º de dezembro de 1925, transformando-se na Lei nº 624 com a seguinte ementa: “Constitui o município de Esperança, transfere o Distrito de Paz de Água Branca e dá outras providências”. Foi incluída naquela legislação o art. 8º, que revogava as disposições em contrário, sofrendo o texto as seguintes alterações:

Art. 3º, § Único: Fica criado, no aludido termo, um cartório de tabelionato público, judicial e notas e escrivão do cível, crime, comércio, órgãos e seus anexos.

Art. 4º. – Fica o presidente do Estado autorizado a marcar dia para eleição de conselheiros do município de Esperança, criado na presente lei”.

A propósito da sanção, recebeu o Sr. João Suassuna diversos telegramas, destacando-se o seguinte:

Parahyba, 26 – Asselmbeia acaba aprovar projeto criação termo Esperança. Como filho humilde daquele glorioso torrão apresento vossência não agradecimentos mas congratulações tal o modo como vossência identificou-se com esta causa de absoluta justiça – Silvino Olavo”.

O Jornal A União do dia 30 de dezembro daquele mesmo ano, publicava a nomeação dos cidadãos Manuel Rodrigues de Oliveira e Theotonio Tertuliano da Costa para os cargos de prefeito e vice-prefeito de Esperança. E no dia seguinte (31/12) era instalado oficialmente o Município de Esperança.

Rau Ferreira

 

Referências:

- FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá: Recortes historiográficos do Município de Esperança. SEDUC/PME. A União. Esperança/PB: 2016.

- 60 ANOS, Revista Esperança. Editor Assis Diniz. Esperança: 1985.

- A UNIÃO, Jornal. Edições de 24, 27 e 28/11, 30 e 31/12. Parahyba do Norte: 1925.


Comentários

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

Sitio Banaboé (1764)

  Um dos manuscritos mais antigos de que disponho é um recibo que data de 1º de abril do ano de 1764. A escrita já gasta pelo tempo foi decifrada pelo historiador Ismaell Bento, que utilizando-se do seu conhecimento em paleografia, concluiu que se trata do de pagamento realizado em uma partilha de inventário. Refere-se a quantia de 92 mil réis, advinda do inventário de Pedro Inácio de Alcantara, sendo inventariante Francisca Maria de Jesus. A devedora, Sra. Rosa Maria da Cunha, quita o débito com o genro João da Rocha Pinto, tendo sido escrito por Francisco Ribeiro de Melo. As razões eram claras: “por eu não poder escrever”. O instrumento tem por testemunhas Alexo Gonçalves da Cunha, Leandro Soares da Conceição e Mathias Cardoso de Melo. Nos autos consta que “A parte de terras no sítio Banabuiê foi herdade do seu avô [...], avaliado em 37$735” é dito ainda que “João da Rocha Pinto assumiu a tutoria dos menores”. Registra-se, ainda, a presença de alguns escravizados que vi...

Renato Rocha: um grande artista

  Foto: União 05/12/2001 “A presença de autoridades, políticos e convidados marcou a abertura da exposição do artista plástico Renato Rocha, ocorrida no último final de semana, na Biblioteca Pública Dr. Silvino Olavo, na cidade de Esperança, Brejo paraibano. A primeira exposição de Renato Ribeiro marca o início da carreira do artista plástico de apenas 15 anos. Foram expostas 14 telas em óleo sobre tela, que também serão mostradas no shopping Iguatemi, CEF e Teatro Municipal de Campina Grande já agendadas para os próximos dias. A exposição individual teve o apoio da Prefeitura Municipal de Esperança através da Secretaria de Educação e Cultura, bem como da escritora Aparecida Pinto que projetou Renato Rocha no cenário artístico do Estado. Durante a abertura da Exposição em Esperança, o artista falou de sua emoção em ver os seus trabalhos sendo divulgados, já que desenha desde os nove anos de idade (...). A partir deste (...) Renato Ribeiro espera dar novos rumos aos seus projeto...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Dica de Leitura: Badiva, por José Mário da Silva Branco

  Por José Mário da Silva Branco   A nossa dica de leitura de hoje vai para este livro, Badiva, voltado para a poesia deste grande nome, Silvino Olavo. Silvino Olavo, um mais ilustre, representante da intelectualidade, particularmente da poesia da cidade de Esperança, que ele, num rasgo de muita sensibilidade, classificou como o Lírio Verde da Borborema. Silvino Olavo, sendo da cidade de esperança, produziu uma poesia que transcendeu os limites da sua cidade, do seu Estado, da região e se tornou um poeta com ressonância nacional, o mais autêntico representante da poética simbolista entre nós. Forças Eternas, poema de Silvino Olavo. Quando, pelas ruas da cidade, aprendi a flor das águas e a leve, a imponderável canção branca de neve, o teu nome nasceu sem nenhuma maldade, uma imensa montanha de saudade e uma rasgada nuvem muito breve desfez em meus versos que ninguém escreve com a vontade escrava em plena liberdade. Silvino Olavo foi um poeta em cuja travessia textual...

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...