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Amelinha Theorga


Amélia Theorga Ayres, Amelinha, nasceu em Mamanguape em 29 de julho de 1907, filha do casal José Theorga e Eutália de Assis Theorga. Destacou-se na pintura, como uma das primeiras mulheres desta arte milenar, na década de vinte do Século passado.
Era figura recorrente da Revista “Era Nova”, na qual o nosso vate Silvino Olavo participava, ora publicando sob o nome próprio ou, com o pseudônimo de “João da Retreta”.
O Jornal “A União”, organizara em 07 de novembro de 1925, em seu salão principal, uma exposição para mostrar os seus trabalhos de arte, que ganhou forte adesão dos intelectuais da época, contando com o apoio do Presidente João Suassuna que adquiriu, para o patrimônio estadual, as obras “Reconto de Selva” e “Soluço das vagas”, e para si, o quadro “Horas de oiro”.
Quatro dias depois, Silvino fizera publicar, no mesmo periódico, um artigo que exaltava a artista, o qual reproduzimos a seguir:
Há entre os artistas da paisagem dois grupos: um que vê exação na natureza e outro que vê seu da natureza.
Compõem-se aquele de meros copistas dos aspectos naturais, que não fazem estar nenhuma colaboração da sua alma no que produzem. O segundo grupo é o daqueles que se poderia dizer tem a suprema audácia de quererem corrigir a obra do Criador. Amelinha Theorga, a simpática detentora de um pincel límpido, dominador da paisagem na Paraíba, pertence ao segundo grupo, o grupo dos que vêm seu, dos que acrescentam a obra do que é como o que imaginam ser.
Sua exposição, ultimamente realizada num dos salões do palacete d’A União, representa o índice incontestável de um formoso talento pictural e um nobre esforço em prol da nossa cultura artística.
Não é ela uma inédita em nosso meio. Mais de uma exposição já fez ela na Parahyba e a sua fisionomia artística tem sido brilhantemente retratada pelas penas mais atuais do nosso elan literário.
Não é preciso especializada competência para notar os méritos desta artista que não tem escolas nem viagens.
Qualquer que tenha em seu espírito um pouco de síntese estética das coisas dirá que a senhorinha Amélia Theorga tem quatro admiráveis da mais pura intuição artística. Escolhamos para exemplo, entre as 25 telas que compõe a sua exposição, como sinal de agrado maior, aquele quadro “Solidão”, um claro-escuro admirável da fatura justa e de serenidade estética. É um recanto delicioso de sombra onde há clareiras discretas, refletindo brevíssimos trechos de céu opalescente sobre uma visão de águas tranquilas. Tudo está inteligentemente concebido e virtuosamente realizado. Não há exageros nem tropeços.
Não há também linhas vazias. Antes, todas as linhas, numa síntese diáfana, são humanizações de sonhos no ambiente.
O quadro n. 12 – “Horas de Oiroi”, é igualmente uma tela vitoriossa. É talvez por ela que melhor se pode ver a documentação do que afirmamos, de princípio, a respeito da resultante estética de sua arte.
Porque é preciso que se diga, para confirmação maior de uma artista sem o cultivo dos mestres e o convívio dos grandes meios, que na exposição de Amelinha Theorga há esse ritmo interior que ressalta, flagrante, numa afirmação de personalidade. Ela reflete, através de sua alma a alma sintética e estética das coisas. Sua alma de artista, estampando-se-lhe na retina justamente no momento feliz de fixar a síntese luminosa dos aspectos naturais, integra-se, por assim dizer, na alma difusora da natureza. Tem talento a jovem artista conterrânea de Pedro Américo.
Que ela não arrefeça no seu amor à arte se lhe não vierem os estímulos que porventura espera.
A borboleta queima sempre as asas de cada vez que investe contra a chama que a seduz; e entretanto, não deixa ela nunca de voltejar em torno da chama... – S.O.

Wanda Novaes, em artigo para a “Era Nova”, comenta que “a arte da senhorinha Theorga é toda da sua imaginação. Não copia. Tudo quanto lhe fala à sensibilidade ela reproduz. Daí a superioridade do seu talento; daí a razão de ser tida como única no diminuto círculo artístico da Parahyba”.
Denota-se, em suas pinturas, uma tendência regionalista, com reproduções da paisagem local, voltadas para o mar; talvez por esta razão, foi chamada de “paisagista do mar”.
Autora de diversos quadros, expôs de forma individual a sua arte e nos salões do Estado, dentre os quais, a que foi realizado na Livraria Casa Andrade (1921), no hall d’A União (1922, 1923 e 1925), na residência do casal Adrião Pires (1969) e na exposição “50 Anos de Pintura na Paraíba”, na reitoria universitária (1971).
Uma grande artista, do movimento libertário de ’30.

Rau Ferreira

Referências:           
- A UNIÃO, Jornal. Edições de 08 e 11 de novembro. Parahyba do Norte: 1925.
- ERA NOVA, Revista. Ano III, Nº 39. Parahyba: 1923.
- REVISTA PHILIPEIA, Ano V. ISSN: 2318-3101. Parahyba, Brasil. Disponível em: https://revistaphilipeia.wordpress.com/2018/10/13/pintura-paraibana/, acesso 27/02/2020.
- SILVA, Marinalva Freire (da). Amelinha Theorga Ayrires, a paisagista do mar. Editora Ideia. João Pessoa/PB: 2014.

Comentários

  1. Esse trecho (...) Há entre os artistas da paisagem dois grupos: um que vê exação na natureza e outro que vê seu da natureza (...) me deixou confuso esse "seu" pensei que fosse grafia antiga para "céu"... Parabéns pelo belo registro/resgate, mas enfim o que se quer dizer?

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