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Casamento matuto estilizado (1936)

Casamento matuto, anos 40 - rua Manoel Rodrigues

O S. João é a festas mais tradicional nordestina. Nesta época do ano convergem os ideais às coisas simples, ao frescor da terra e ao tempo lúdico de brincadeiras em torno da fogueira. Por compadre e comadre se dão e uma saraivada de vivas eclodem ao surgir do primeiro balão.
A nossa gente brincante sempre devotou ao santo tamanha admiração, registrado nos versos do poeta (Noite de S. João/ Junho) e nas comemorações joaninas que se celebravam na Escola “Irineu Jóffily”. Este educandário fora palco de grandes quadrilhas, animadas ao som do fole dos eternos forrozeiros e do batuque dos Pichacos.
A escola havia sido inaugurada há pouco mais de quatro anos, e seu auditório se mostrava propícia às apresentações. Era o lugar adequado, dado que a “florescente vila” não possuía ainda clubes particulares. O educandário era também o lugar da cultura, já que o alunado participava, igualmente, daquelas celebrações.
É imemorial as comemorações que se fazem em torno do santo do carneirinho em nossa cidade. E o primeiro registro, o mais antigo que se tem, data de 1936, que me foi enviado por Ismael Felipe, historiador que tem contribuído em muitas de nossas postagens, através do acervo d’A União, digitalizado pelo Nuphel.
A última remessa nos dá notícia de um “casamento matuto” a se realizar no “Irineu Jóffily”, com indumentária característica do Século XV.
Por essa época, anunciava-se em Esperança os trabalhos da comissão organizadora, que com empenho se dedicava para que a festança acontecesse com grande êxito. Estavam a frente: Theotônio Tertuliano da Costa, à época prefeito municipal; os senhores Luiz Alexandrino e Theotonio Rocha; e as senhoritas: Noemia Rodrigues, filha do comerciante Manoel Rodrigues de Oliveira, além de Hilda Rocha, Mariêta Coelho e Mercedes Passos.
Surgida no império francês – daí a origem da palavra “quadrilie” – representava o baile da corte, que entre nós ganhou elementos próprios do sertão, coincidindo com a invernada, época de fartura e de muito milho.
Adaptou-se não apenas as roupas, com os vestidos de chita, chapéus de palha, botinas e calças costuradas; mas também a linguagem se consagrando os “alavantur”, “anarriê” e “balancês” típicos da dança.
No “casamento matuto” se eternizam as figuras do noivo fujão, do feroz pai da noiva que, de inocente parece não ter nada, do padre, do “coroné”, dos pares... cujo matrimônio a todo momento é interrompido pela chuva e pelas “cobras” do caminho e, apesar de tudo o noivado acontece, para alegria dos convidados.
Na imagem ao lado, uma das representações dos anos 40.

Rau Ferreira


Referências:
- A UNIÃO, Jornal. Edição de 17 de junho. João Pessoa/PB: 1936.
- BRASIL, Evaldo. Histórico de Esperança. Manuscrito. s/d. Esperança/PB.
- FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá: Recortes da Historiografia do Município de Esperança. Esperança/PB: 2015.

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