Pular para o conteúdo principal

Sol e Pádua de Almeida


Pádua de Almeida é mais um desses casos de poetas esquecidos. Irmão de Moacir de Almeida, Pádua é autor de “Instante Universal” que chegou a ser traduzido para o espanhol em 1936, e relançado em castelhano com publicação em Buenos Aires.
Contista, ensaísta, poeta e jornalista brasileiro. Nascido em 03 de setembro de 1899. Autor do “Álbum de Poesias” (suplemento de O Malho).
Também de sua lavra é o livro “O Luar de Outros Caminhos”, obra analisada por grandes pensadores de sua época, a exemplo de Tasso da Silveira, Andrade Muricy, Nestor Victor e Murilo Araújo e, como não poderia de ser, por Silvino Olavo.
O livro não chega a ter cem páginas, mas é grandiosa a sua contribuição para a literatura nacional, assim como patente a influência simbolista que aproximava Pádua do nosso vate.
Na revista “Mallarmargens”, encontramos a seguinte anotação, digna de reprodução:
Toda ela é de uma sensibilidade ímpar e de uma visão fantasiosa embebida em certas melodias que só grandes poetas concebem. (...). A sua forma, que é definitivamente moderna, não nega também a influência clássica de que inevitavelmente a sua poesia bebeu”. (Cardoso Tardelli. Ensaios Vol. 2, Num 8: Mallarmago, mallarsimbolismo. Mallamargens, ISSN 2316-3887. 2013).

Os dois se conheceram ainda jovens, nesse ideal da literatura. Silvino autor de “Cysnes” (1924), e Pádua que estreou em 1929, com “Minha sombra”, talvez numa alusão à “Sombra Iluminada” do amigo, lançada em 1927.
Assim nos relata Almeida, em seu texto “Em torno de um poeta”, publicado na Revista “Fon-fon”:
Conheci Silvino Olavo há alguns anos, e, desde o primeiro instante em que o vi, descobri nele uma alma de grego, mas sem as asperezas de lacedemônio ou as perfídias do ateniense. Ele me falou de literatura acidentalmente, e o timbre metálico da sua voz de nortista trouxe ao meu espírito como que a visão dos palmeirais sussurrantes do Norte: palmeirais que fosse dobrados maciamente por uma brisa ao cair da noite...” (FON-FON, Revista. Ano XVIII, Nº 29).

Silvino era simbolista clássico, embora na vertente poética passeasse pelo modernismo com igual perfeição. Maior representante desta corrente na Paraíba, em carta, teceu o seguinte comentário sobre “O Luar de Outros Caminhos”:
Não é mais preciso que eu escreva sobre os seus versos. Roquette já fez por todos nós.
Resta-nos, a todos do grupo em que você esplende, continuar a admirar-lhes as produções que são a luz latente das venturas socialistas, que se elaboram no âmago das civilizações e culturas contemporâneas”.

Olavo também lhe prestara uma justa homenagem, dedicando-lhe “Os poemas da enviada”, de onde se estrai a pequena estrofe:
Tuas mãos e teus gestos de brancura
Mais os teus passos, tem, aos meus ouvidos,
O ritmo suave que um bom verso tem...”
(Canção da flor do trevo).

Com o que o poeta retribui: “O ideal de Silvino Olavo é a regeneração dos homens pelo culto da beleza”.
Os dois amigos se encontraram por algumas vezes, nos saraus e declamações fluminenses, ao lado de Mayrink, Hyldeth Fávila e Zilá Monteiro. Trocaram ideias e livros. Silvino terminou em tratamento, após os episódios de ’30, na Colônia Juliano Moreira. Almeida não se tem notícia. Esquecido ficou como o seu próprio grito: “Deu-se este caso negro”.

Rau Ferreira

Referência:
- FERREIRA, Rau. Silvino Olavo. Epgraf. Esperança/PB: 2010.
- ALMEIDA, Pádua. O Luar de Outros Caminhos. Ilustração de Manuel Santiago. Nova Brasília: 1961.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sitio Banaboé (1764)

  Um dos manuscritos mais antigos de que disponho é um recibo que data de 1º de abril do ano de 1764. A escrita já gasta pelo tempo foi decifrada pelo historiador Ismaell Bento, que utilizando-se do seu conhecimento em paleografia, concluiu que se trata do de pagamento realizado em uma partilha de inventário. Refere-se a quantia de 92 mil réis, advinda do inventário de Pedro Inácio de Alcantara, sendo inventariante Francisca Maria de Jesus. A devedora, Sra. Rosa Maria da Cunha, quita o débito com o genro João da Rocha Pinto, tendo sido escrito por Francisco Ribeiro de Melo. As razões eram claras: “por eu não poder escrever”. O instrumento tem por testemunhas Alexo Gonçalves da Cunha, Leandro Soares da Conceição e Mathias Cardoso de Melo. Nos autos consta que “A parte de terras no sítio Banabuiê foi herdade do seu avô [...], avaliado em 37$735” é dito ainda que “João da Rocha Pinto assumiu a tutoria dos menores”. Registra-se, ainda, a presença de alguns escravizados que vi...

Renato Rocha: um grande artista

  Foto: União 05/12/2001 “A presença de autoridades, políticos e convidados marcou a abertura da exposição do artista plástico Renato Rocha, ocorrida no último final de semana, na Biblioteca Pública Dr. Silvino Olavo, na cidade de Esperança, Brejo paraibano. A primeira exposição de Renato Ribeiro marca o início da carreira do artista plástico de apenas 15 anos. Foram expostas 14 telas em óleo sobre tela, que também serão mostradas no shopping Iguatemi, CEF e Teatro Municipal de Campina Grande já agendadas para os próximos dias. A exposição individual teve o apoio da Prefeitura Municipal de Esperança através da Secretaria de Educação e Cultura, bem como da escritora Aparecida Pinto que projetou Renato Rocha no cenário artístico do Estado. Durante a abertura da Exposição em Esperança, o artista falou de sua emoção em ver os seus trabalhos sendo divulgados, já que desenha desde os nove anos de idade (...). A partir deste (...) Renato Ribeiro espera dar novos rumos aos seus projeto...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Dica de Leitura: Badiva, por José Mário da Silva Branco

  Por José Mário da Silva Branco   A nossa dica de leitura de hoje vai para este livro, Badiva, voltado para a poesia deste grande nome, Silvino Olavo. Silvino Olavo, um mais ilustre, representante da intelectualidade, particularmente da poesia da cidade de Esperança, que ele, num rasgo de muita sensibilidade, classificou como o Lírio Verde da Borborema. Silvino Olavo, sendo da cidade de esperança, produziu uma poesia que transcendeu os limites da sua cidade, do seu Estado, da região e se tornou um poeta com ressonância nacional, o mais autêntico representante da poética simbolista entre nós. Forças Eternas, poema de Silvino Olavo. Quando, pelas ruas da cidade, aprendi a flor das águas e a leve, a imponderável canção branca de neve, o teu nome nasceu sem nenhuma maldade, uma imensa montanha de saudade e uma rasgada nuvem muito breve desfez em meus versos que ninguém escreve com a vontade escrava em plena liberdade. Silvino Olavo foi um poeta em cuja travessia textual...

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...